A primeira piroca do gay virgem

A notícia de que meu avô paterno estava à beira da morte atingiu a minha família como uma bomba. Grandpa Downley, como minha irmã Jessica e eu o tratávamos carinhosamente, foi uma criatura praticamente ausente em nossas vidas por duas razões fundamentais. A primeira é que meu pai e ele nunca tiveram uma relação muito amistosa, o que levou meu pai a sair cedo de casa e se manter afastado dos pais; nem eu nem minha irmã nunca soubemos exatamente o que levou a esse distanciamento. A segunda, é que vivíamos no Brasil, mais precisamente em São Paulo para onde o banco no qual meu pai trabalhava o transferiu para assumir um cargo de diretoria, e onde conheceu minha mãe e se casaram. Jessica estava então com dezoito anos e eu dezesseis quando da ligação da minha

avó pedindo que meu pai fosse se acertar com o pai antes de isso não poder mais ser feito. Eles tinham uma gigantesca e produtiva fazenda de gado nos arredores de Laramie no Wyoming, pela qual meu pai nunca demonstrou nenhum interesse, o que eu acreditava ser o motivo pelo qual ele e meu avô tinham se desentendido. Segundo me contavam, eu estivera por duas vezes em Laramie, embora apenas me lembrasse da última quando tinha onze anos, pois a primeira havia se dado quando eu estava entre os quatro e cinco anos de idade. Foi dessa época que guardei a figura do meu avô, um homem corpulento e forte, de olhar carinhoso que transparecia nos seus olhos azuis e no sorriso generoso. Ele havia me levado aos recantos mais remotos da fazenda, uma extensa planície que subia as escarpas junto ao sopé de uma cordilheira que se estendia por mais 160 quilômetros nas Montanhas Rochosas que margeava todo o vale. Recordo-me da expressão de orgulho em sua voz quando me mostrou as cabeças de gado

pastando na relva verde da planície, das manadas de bisões selvagens que dividiam o pasto com os bois, dos lagos e rios que cortavam a propriedade, e onde ele estava tentando me ensinar a pescar as trutas douradas que, nos invernos rigorosos, alimentavam os ursos cinzentos que perambulavam por aquelas paragens. Talvez por só ter onze anos, eu achava tudo aquilo grandioso, era como se meu avô fosse dono da metade do mundo, pois até onde o horizonte permitia ver, tudo lhe pertencia, enquanto a minha visão em São Paulo se restringia a uma distância confinada entre edifícios implantados desordenadamente.

– Sei que talvez você vai perder os vestibulares, Jessica e, muito provavelmente, sua entrada na faculdade só vai acontecer no ano que vem; e você Edu, com certeza vai perder o semestre no colégio, mas sua mãe e eu resolvemos que vamos todos para os Estados Unidos dentro de duas semanas para ver o seu avô. A vovó precisa da nossa presença nesse momento delicado e a tia Natalie sozinha não pode estar presente constantemente morando e trabalhando na Filadélfia. – disse ele ao nos comunicar da viagem.

– Eu não posso ficar com o tio Carlos e a tia Julia enquanto vocês vão para os Estados Unidos? Eu não queria adiar a minha entrada na faculdade, pai! – pediu minha irmã.

– Não sei se é uma boa, filha! O casamento da tia Julia está em crise, não sei se é uma boa hora para eles receberem hóspedes por um tempo tão prolongado. Ademais, você teria que se mudar para o Rio de Janeiro, o que também significa deixar São Paulo e, portanto, fazer os vestibulares longe daqui. – argumentou minha mãe, que já tinha como certo que a irmã estava a um passo do divórcio.

– Eu não me importo de perder o semestre! Depois eu recupero tudo! – exclamei, já me imaginando meses longe das salas de aula, das tarefas entediantes, dos compromissos embutidos no ano-letivo, e pronto para voltar a caminhar por aquela fazenda que ainda me trazia boas recordações.

– Disso eu não tenho dúvidas, Edu! Qualquer coisa que te mantenha longe da escola serve de desculpa para você deixar suas responsabilidades de lado. Mas não pense que vai ficar por lá à toa, assim que chegarmos a Laramie você vai frequentar a Highschool como qualquer garoto da sua idade, pois vamos ficar na casa da cidade e não na fazenda. – asseverou meu pai

– Então vocês estão planejando se mudar de vez para os Estados Unidos? Eu pensei que fossem só algumas semanas. – questionou minha irmã.

– Não sabemos ainda, filha! A princípio é algo temporário, seu avô está totalmente dependente de cuidados depois do AVC que sofreu, e sua avó não pode lidar com tudo isso sozinha. Se ele vier a falecer, vamos ver o que decidimos. É cedo para colocar a carroça adiante dos bois. – respondeu meu pai.

– Por que não vai só você então, pai? A mãe fica aqui conosco e nós não precisamos mudar todas as nossas vidas. – questionou minha irmã que, definitivamente, não estava gostando daquele arranjo que acabaria por colocar um fim no namorico dela com um garoto que ela havia conhecido no último verão e do qual não se desgrudava como se fossem dois carrapatos.

– Por hora fica como sua mãe e eu planejamos, depois veremos como as coisas ficam, ok! – diante dessa resposta, a conversa acabava ali, e tivemos que aceitar aquelas condições que eu, particularmente, estava adorando.

Havia algumas semanas que o verão tinha terminado quando chegamos ao Wyoming e os picos acima dos 3000 metros das montanhas Snow Range já exibiam seus topos cobertos de neve. Mal pude acreditar que aquele homem, que jazia numa cama hospitalar, que o serviço de homecare havia instalado com mais uma parafernália de equipamentos num dos quartos da casa, era o mesmo homem que há alguns anos havia me ensinado a pescar. Magro, abatido, com as faces côncavas ele me reconheceu e sorriu quando me aproximei do leito onde ele respirava com dificuldade apesar de um ventilador mecânico suprir suas necessidades de oxigênio. Seus olhos azuis ainda tinham o mesmo brilho, e eu me comovi ao vê-los me encarando com aquela mesma doçura de antes. Não sei o que me fazia ter certeza de que aquele homem me amava, apesar de aquela ser a terceira vez que estávamos juntos. Era algo forte e que transcendia aquele olhar e aquele sorriso, e que eu não sabia explicar, embora fosse um sentimento recíproco.

Minha avó também estava acabada, tinha muito mais rugas em seu rosto afilado do que eu me lembrava. A doença do marido abalara sua saúde e consumira boa parte de sua determinação. No entanto, continuava tão carinhosa como nas minhas recordações, o que me levou a questionar o porquê de o meu pai ter se afastado deles dois, pois eu os achava pessoas maravilhosas.

Meu pai entrava esporadicamente no quarto em que meu avô estava. Foi vê-lo no dia em que chegamos e, a partir daí, apenas quando o médico, que o visitava uma vez por semana, lhe colocava a par do estado clínico dele. Não tinham trocado mais do que algumas poucas frases nesse período todo, enquanto eu ia ter com ele assim que saia da cama, antes mesmo do café da manhã, e ficava tagarelando ao lado dele contando mil detalhes da minha vida no Brasil. Ele acabava caindo no sono logo, não sei se por conta das medicações que tomava, ou por que ficava cansado de me ouvir. O fato é que eu só percebia que ele tinha adormecido quando já estava falando num quase monólogo por mais de uma hora.

– Deixe seu avô em paz, Edu! Ele está cansado e precisa de repouso. E, a essa altura do campeonato, ele já nem ouve mais o que você está falando. – dizia meu pai, o que não era verdade, uma vez que, quando desperto, meu avô tornava a me perguntar alguma coisa daquilo que eu havia lhe contado antes de ele adormecer. Sinal de que estava me ouvindo e prestando atenção na minha tagarelice.

Grandpa Downley morreu numa alvorada fria de novembro, oito semanas após a nossa chegada. Naquela manhã, ao acordar, a casa já estava movimentada, enfermeiras, o médico, os agentes do serviço funerário entravam e saiam do quarto dele. Fui aconselhado pela minha mãe a não atrapalhar o trabalho das pessoas e me manter afastado dali. Nunca fui um bom seguidor de ordens e, assim que percebi uma brecha naquele entra e sai, me postei ao lado do leito onde já não havia mais o ruído intermitente e monótono dos aparelhos que haviam sido desligados e removidos do corpo dele. Senti um aperto tão forte no peito que mal conseguia respirar, quando vi o rosto do meu avô e suas mãos cruzadas sobre a região do umbigo, as lágrimas começaram a descer pelas minhas faces sem que eu as pudesse controlar. Eu não sabia bem o que estava perdendo, mas sabia que era algo muito valioso e importante. Eu estava absorto quando senti a mão do meu pai no meu ombro, foi a primeira vez que vi lágrimas nos olhos dele.

– Você era o orgulho dele, Edu! Ele te amava mais do que a mim, e nunca escondeu isso. Foi um homem duro, inflexível, apesar de ter sido uma boa pessoa. – o que aconteceu entre eles ainda repercutia dentro do meu pai, assim eu interpretei aquela expressão em seu semblante que misturava inconformidade, amor, raiva, tudo ao mesmo tempo.

– Como eu podia gostar tanto dele, pai, se o vi tão poucas vezes? – perguntei

– O amor que liga duas pessoas não conhece o tempo. Ele simplesmente acontece e se estabelece sem que o tempo tenha nada a ver com isso. – respondeu meu pai; no que ele estava certo, pois acho que amei meu avô no primeiro instante em que o vi, e ele a mim.

Após algumas semanas, já no início de dezembro, meu pai começou a se inteirar dos assuntos da fazenda. Em outra de suas já famosas reuniões familiares, nas quais tinha por hábito fazer seus comunicados e obter um consenso familiar, ele disse que a nossa estadia nos Estados Unidos ia se estender por um tempo indeterminado e, portanto, que cada um devia seguir seus planos como se fossemos continuar vivendo no país definitivamente. Tenho para mim que ele não quis afirmar com todas as letras que havia se decidido não mais regressar ao Brasil e continuar a tocar o negócio da família como fizera seu pai, para não dar o braço a torcer para aquilo que o meu avô sempre quis. A menos entusiasmada com essa notícia foi a Jessica que, mesmo depois daqueles meses todos, ainda continuava grudada no notebook em longas conversas com o namoradinho que ficara no Brasil; pois de resto, ela estava tão bem adaptada quanto qualquer um de nós. Já eu, não podia ter recebido notícia melhor. De alguma forma inexplicável, nunca senti nenhuma conexão com o Brasil, e bastou essa viagem inesperada com uma finalidade triste, para eu descobrir a que lugar eu realmente pertencia.

Quando o testamento que meu avô deixou foi aberto e lido perante todos os interessados, cerca de um mês após o sepultamento, meu pai descobriu que ele havia deixado a fazenda integralmente para ele, enquanto sua irmã ficava com a parte que meu avô já lhe adiantara em vida e mais uma soma em dinheiro depositada numa conta em nome dela. Além disso, cada um dos quatro netos também fora agraciado com uma quantia que garantiria nossos estudos e um início de vida modesto, mas confortável. Mais uma vez lamentei não ter tido a chance de conviver mais amiúde com esse homem extraordinário, pois tinha a certeza de que teríamos sido bons amigos.

A decisão de ficarmos nos Estados Unidos em nada mudaria a minha rotina já estabelecida. Desde a nossa chegada eu havia iniciado o ano letivo numa Highschool a pouca distância de casa, tinha feito amizade com a Nancy, uma garota que morava algumas casas antes da nossa na mesma rua, e que tinha me dado todas dicas e me ajudado com a integração no colégio. Ela foi a minha primeira e mais profunda amizade, pois eu sempre fui um garoto meio tímido na escola e apenas mantive um coleguismo pró-forma com poucos colegas de turma. Enquanto que com ela, houve uma afinidade e uma ligação tão natural e verdadeira que em pouco tempo nos tornamos best friends. Colaborou muito para isso o fato de eu tê-la aproximado do Cooper um garoto pelo qual ela suspirava e que servia de base para eu caçoar daquele amor platônico que ela nutria por ele. O Cooper se aproximou de mim pelo mesmo motivo, eu seria seu suporte para chegar ao coração da Nancy, portanto, não me eximi de bancar o cupido para aqueles dois atrapalhados que não tinham coragem de fazê-lo por si mesmos. Assim matei dois coelhos com uma cajadada só, uni o casal de pombinhos e, de quebra, ganhei dois bons amigos logo nas primeiras semanas de aula.

Eu sempre vi aquelas reuniões familiares que me pai promovia como uma maneira de cada um expressar sua opinião sobre determinada questão que dizia respeito a todos, como também, uma forma de expressarmos aquilo que sentíamos ou que nos afligia. E foi assim, que aos quinze anos, ainda no Brasil, eu aventei a hipótese de que achava que era gay.

– Como assim, acha que é gay, filho? – questionou minha mãe quando abordei o assunto.

– Ser gay não é uma questão de achar, é ser ou não ser! – acrescentou meu pai.

– Então, é aí que eu não sei, não tenho certeza. – respondi

– O que te levou a chegar nessa conclusão? – perguntou minha mãe.

– Ah, um monte de coisas!

– Você se envolveu com outro garoto na escola, foi isso? Vocês transaram? – indagou meu pai, antes de eu ter concluído a minha resposta anterior.

– Não, pai! Claro que não! Eu não fiz nada disso! Que ideia absurda! – respondi de pronto. – É que eu me acho meio esquisito, diferente dos outros caras. – continuei.

– Esquisito como? Você não tem nada de esquisito. Você é um pouco tímido, só isso. Mas, isso passa com o tempo, quando se sentir mais seguro de autoconfiante, isso muda, pode ter certeza, filhão. – afirmou meu pai.

– Será que é só isso mesmo? Então por que é que eu acho alguns garotos mais bonitos do que qualquer garota? Eu me sinto diferente quando estou com um menino do que quando estou com uma menina, eles sempre são mais interessantes, mais atraentes do que elas. Isso é ser gay, não é? – ponderei.

– Você está numa fase da transição na vida, está se descobrindo enquanto pessoa, é normal ficar cheio de dúvidas sobre muitas questões. – asseverou minha mãe.

– O Edu deve ser meio bicha mesmo! É só dar uma olhada nos desenhos de homens musculosos que ele fica fazendo quando está trancado no quarto ouvindo música clássica, ou ver aqueles pôsteres que estão nas paredes do quarto dele, todos de homens malhados e sarados, atores, esportistas e o diabo a quatro! Que moleque na idade dele faz essas coisas? Música clássica, pelo amor de Deus, ninguém merece! – sentenciou minha irmã.

– Olha só quem fala! A minha irmãzinha que ainda fica suspirando por aquele garoto punheteiro do Lucas e com quem fica fazendo sabe-se lá o que quando conversam por vídeo-chamada, aposto que ficam falando só sacanagem! – revidei.

– Ei, ei, ei vocês dois! Podem ir parando! Não é assim que se resolvem as coisas dentro dessa casa! Respeitem-se para que os outros também os respeitem, e isso começa aqui dentro, entendido? – interveio meu pai, tentando apaziguar os ânimos.

– Independente do que a Jessica acha a meu respeito, eu acho que estou virando gay. – argumentei.

– Entenda uma coisa filho, não se vira gay, essa é uma condição intrínseca, já se nasce gay e isso vai se confirmando com a puberdade, o crescimento e amadurecimento da personalidade. – afirmou minha mãe.

– Então talvez seja isso que está acontecendo comigo! Eu só queria que vocês fossem os primeiros a ficar sabendo caso eu realmente seja gay, e pela minha boca e não por fofoca de outros.

– Está certo! Você terá nosso total apoio seja lá a que conclusão você chegar nessa questão, nós te amamos como você é. Aqui dentro dessa casa você sempre pode expressar o que sente, ser autêntico. Sua mãe e eu estamos empenhados em criar uma pessoa de bem, que saiba discernir o certo do errado, que tenha uma postura digna e se sinta realizada em seus anseios e sonhos. Se um dia você vier nos apresentar uma namorada ou um namorado, eles serão bem-vindos, pois sabemos que serão fruto de uma escolha consciente de sua parte. – asseverou meu pai.

– Bem, e afinal! O Edu é gay ou não, por que até agora eu não entendi direito! – exclamou minha irmã.

– Jessica! Tudo o que seu pai falou para o seu irmão serve para você também! Queremos a felicidade de ambos, indistintamente! E pare de julgar e rotular o Edu com essa mesquinhez na mente, não é assim que uma pessoa justa e decente avalia outra.

– Então quando eu souber com certeza eu te falo, ok, maninha? – devolvi.

– Vá se catar! Eu lá estou interessada se você vai namorar um cara ou uma garota, me poupe! Vá ouvir Mozart, Bach ou Beethoven, talvez você chegue a uma conclusão. – revidou ela.

– Tem medo de que eu me apaixone por um cara mais lindo e maravilhoso do que aquele seu punheteiro? Olha que eu aposto que sim! – revidei para irritá-la.

– Já chega! – exclamou meu pai, elevando a voz para pôr um fim naquela discussão.

Essa conversa com os meus pais não era totalmente sem propósito ou deslocada de contexto, uma vez que vinha notando meu interesse crescente pelos garotos atléticos do colégio, o que logo foi percebido pela galera e me fez virar vítima de bullying, ainda no Brasil. A mentalidade de pedagogos e professores do meu colégio ainda não estava aberta a lidar com essas questões de forma adequada. Uma moral religiosa secular e ultrapassada, unida ao machismo perverso que impera em todas as nações latinas, se refletia nos estabelecimentos de ensino que, muitas das vezes, ainda alimentavam esses padrões.

Nos Estados Unidos, percebi que o colégio lidava com mais rigor a questão do bullying, embora ele também existisse, mas costumava ser severamente punido quando descoberto. Quanto ao fato de um aluno ser gay ou lésbica, havia uma tolerância maior, muito embora, também aí nem tudo era tão certo quanto apregoavam os discursos. Em meio a tudo isso, eu estava mesmo cheio de dúvidas e me sentindo meio esquisito desde que vi o Todd pela primeira vez na quadra de esportes do colégio. Ele estava numa classe mais adiantada do que a minha, era o cara mais lindo que eu já tinha visto, grandão, musculoso, com o corpão todo cheio de pelos onde os atores e galãs mais másculos do cinema também tinham, um rosto anguloso e hirsuto de macho e uma voz que tinha algo que me fazia sentir calafrios toda vez que ele abria a boca para falar alguma coisa. A Nancy foi a primeira a suspeitar que eu gostava dele e, tal como fiz em casa, abri o jogo com ela, dizendo que achava que era gay e por isso achava o Todd um tesão.

– Você e mais meio mundo, não é? Acho que toda garota do colégio já se imaginou transando com ele, por isso aquele fã clube de desesperadas suspirando por ele. Isso sem mencionar os gays que não ficam atrás, pensando numa chance de agarrar aquele machão. Definitivamente não faz o meu tipo, para ser sincera, mas não nego que é um homão e tanto. Para o meu gosto, meio bronco demais, peludo demais, mandão demais, se achando o gostosão demais. Ainda prefiro mil vezes o meu Cooper. – afirmou ela quando lhe contei.

– Por aí você vê quais são as minhas chances! Nulas, eu diria. Quando é que um cara desses vai perceber que eu existo? Nunca! – respondi desolado. – Só me resta ficar admirando essa belezura aqui na quadra de esportes e sonhar com ele nas noites insones. – ela riu e me abraçou.

– Você é um dos garotos mais bonitinhos do colégio! Não sou eu quem diz isso, é um consenso da galera. Se eu te contar o monte de meninas que já veio me perguntar se você tem namorada você não vai acreditar. Elas te acham uma gracinha, com essa carinha de bom moço, esse corpo todo sarado e principalmente essa bunda arrebitada que dá vontade de beliscar. – revelou ela.

– É por isso que eu te amo, sabia! Você sabe como elevar o moral da gente, até parece que estou com essa bola toda! É bom ouvir essas mentiras de vez em quando!– devolvi

– Fala para esse bobalhão se eu estou inventando isso, Cooper. Não tem um monte de garotas perguntando dele? – não sei se o Cooper apenas não quis contrariá-la, mas acabou confirmando sua fala.

– Coitadas, vão se desiludir quando descobrirem que trocaria todas elas por um único sorriso do Todd. – afirmei, o que nos fez rir juntos.

Eu tinha acabado de conseguir juntar a Nancy e o Cooper quando tivemos essa conversa, nem precisei pedir que guardassem segredo sobre as minhas suspeitas de ser gay, nossa amizade era mais valiosa do que qualquer boato.

Os mesmos predicados enumerados pela Nancy já tinham sido alvo da garotada no colégio em que eu estudava no Brasil. Eu sofria bullying constantemente por conta do meu jeito tímido, das coxas grossas e roliças, e da bunda volumosa que foi se desenvolvendo por conta da mania que adquiri de patinar por horas a fio quando ganhei um par de patins inline dos meus tios Carlos e Julia no aniversário de dez anos. Assim que dominei a técnica de patinar, ia para todos os lados com eles amarrados aos pés. Fui adquirindo outros à medida que crescia e aperfeiçoava a minha técnica. Era raro me verem sem os patins, eu ia para todos os lados com eles, desde a escola até o lazer, percorrendo calçadas, cruzando ruas, fazendo manobras numa pista de um clube que ficava perto do nosso condomínio, tanto que todos me chamavam de Edu dos patins. Aqui nos Estados Unidos, mantive o hábito, ia para a escola patinando nos meses em que as ruas e calçadas não estavam cobertas de neve.

Aqui não era zoado apenas pelos patins, mas por ser latino. O bullying continuou assim que entrei na Highschool, por um grupinho de meia dúzia de estúpidos que invocaram comigo logo de cara. Na primeira vez que tivemos uma aula de química no laboratório do colégio um desses garotos, o Austin, que liderava o grupinho por ser o mais ousado e o mais parrudo deles, atravessou o pé quando eu passava pelo corredor entre as bancadas segurando uns frascos com as substâncias que tínhamos que usar no experimento, levei um tombo e caí de cara no chão quebrando os frascos de vidro. O riso escrachado dos garotos ecoou por todo laboratório enquanto o professor me ajudava a levantar. No refeitório, ficavam me atirando pedaços de frutas, derrubavam meu copo de refrigerante sobre a mesa, tentavam grudar papeletas com sacanagens escritas nas minhas costas e por aí vai, não havia limites, a criatividade do bando era infindável. O que mudou em relação ao Brasil, é que aqui eu comecei a revidar as sacanagens, chegando mesmo a me pegar com o Austin no pátio da escola durante o intervalo das aulas, sem me importar com físico atlético dele, pois isso não me intimidava. Engalfinhei-me com ele aos socos e pontapés, enquanto a galera gritava e instigava a briga à nossa volta. Fui parar na sala do diretor com o Austin e levei uma suspensão de três dias, enquanto ele, além da suspensão, foi intimidado a trazer os pais ao final da suspensão, uma vez que sobre ele já pesavam muitas reclamações tanto de professores quanto de outros alunos. A expulsão dele já tinha sido aventada pelo comitê pedagógico do colégio, prevenira-lhe o diretor. Nem isso terminou com as sessões de bullying e, vira e mexe, eu estava envolvido numa discussão ou numa briga. Para evitar as suspensões, quebrava o pau fora da escola, toda vez que zoavam comigo. Houve um lado positivo nisso tudo, eu via o meu fã clube crescer, toda vez que revidava e me engalfinhava com um daqueles imbecis. A galera torcia francamente contra eles, e me ajudava contando que eram eles a começar as provocações, quando o diretor era chamado a intervir. O Austin e mais outro garoto da minha classe costumavam andar com a mesma galera que o Todd, também um bando de encrenqueiros que arrumava brigas por qualquer besteira.

– Está vendo o tipinho de sujeito que é o seu ídolo? Só anda com a escória do colégio. Não sei o que você viu nesse sujeito. – sentenciou a Nancy.

– Ele mesmo nunca me provocou, e se você observar bem, ele também nunca provoca ninguém. O fato de ele andar com esses encrenqueiros não significa que seja um deles. Além do que, até seria legal se o fizesse, ao menos assim eu saberia que ele me notou. – respondi.

– Está doido! Como você pode falar uma besteira dessas? Isso já nem é mais paixão, é uma coisa doentia, seu bobalhão! Bem que dizem que o amor é cego! Você está obcecado por esse safado.– revidou ela, estarrecida.

– Estou brincando! Você leva tudo muito ao pé da letra, nossa, nunca vi! – devolvi

– Eu bem que te conheço! Aposto que se aquele troglodita te desse uma bofetada você ainda ia suspirar por ele. – supôs ela.

– Deixa de ser maluca! Eu, hein! Eu ia sentar a mão na cara dele como faria com qualquer um, isso sim! – asseverei. Ela riu.

– Essa eu gostaria de ver! Você se metendo a besta com aquele cara! Um único soco dele e você cairia nocauteado. Já imaginou, Cooper, nosso Edu nocauteado por aquele brutamontes! – debochou ela, com a conivência do traidor do Cooper.

– É isso que eu recebo como agradecimento por ter bancado o cúpido para vocês dois, seus ingratos? Deixa estar, vou me lembrar disso tudo quando voltarem a precisar da minha ajuda. – retruquei.

– Oh, coitadinho! Nós o magoamos! – exclamou o Cooper, vindo me dar um beijo de reconciliação.

Por estarmos em classes diferentes, minhas únicas oportunidades de ficar sonhando com o Todd aconteciam na quadra de esportes, enquanto a classe dele tinha atividades físicas. Eu não me cansava de vê-lo em quadra jogando rugby. Aquelas pernas grossas e peludas que mais pareciam troncos, aqueles ombros largos que estruturavam seu tronco sólido onde cresciam pelos entre os mamilos e num caminho atapetado que se iniciava abaixo do umbigo e entrava pelo cós do short, os sovacos cheios de pelos escuros, como o cabelo dele, aqueles braços cheios de músculos que se contraíam e formavam saliências maçudas cada vez que ele tinha a posse da bola, tudo me fazia fantasiar comigo afagando esses detalhes da anatomia dele, e me transportavam para um mundo no qual só existíamos ele e eu, um mundo onde não havia restrições ao nosso amor.

– Saca só a cara do Edu! Precisa dizer no que ele está pensando? – observou a Nancy quando me viu sonhando acordado, enquanto ela acariciava a cabeleira do Cooper deitado no colo dela numa das arquibancadas da quadra onde assistíamos a partida.

– Todd! – respondeu o Cooper, desviando ligeiramente o olhar na minha direção e dando uma risadinha.

– Me deixem em paz! Será que nem uma partida de rugby dá para assistir perto de vocês? – revidei

– Claro que dá! Mas você não está nem aí para o jogo, aposto que está sonhando com o Todd. – afirmou ele.

– Ah, não enche! Estou ligado no jogo, nada mais! – exclamei

– Então me diga quantos tries o time sem camisa já fez. – provocou ele.

– Não contei! Foram muitos. Eles estão ganhando. – respondi, sem a menor noção de quantos pontos cada time tinha feito, o que foi o bastante para ambos começarem a rir.

– Os descamisados estão perdendo, e feio! Já se eu te perguntar quantas gotas de suor há no corpo do Todd aposto que você não erra. – continuou caçoando

– Mas foi ele quem fez a maioria do tries! Ou vai dizer que não?

– Isso foi mesmo! Viu como você só tem olhos para aquele sujeito! – confirmou a Nancy, antes de ambos se entreolharem e, em uníssono afirmarem. – Esse Edu é um caso perdido.

Com o final do ano letivo eu achei que nunca mais veria o Todd, pois ele estava na última série. Passei muitos dias na fazenda ajudando e observando como meu pai estava lidando com sua nova atividade. Muitos dias era acometido de um desanimo injustificado e, quando me punha a refletir sobre ele, concluía que era a falta do Todd a origem da minha melancolia. Nunca sequer tinha trocado uma palavra com ele, como se podia explicar sentir tanta saudade de uma pessoa com a qual mal tinha interagido. Ele nem deve saber que eu existo, por que então aquilo doía tanto no meu peito, ficava me perguntado.

Em meados de setembro as aulas recomeçaram. No primeiro dia de aulas fui desesperançado para o colégio, com o que mais me atraia ali eu já não podia contar mais. O Todd devia estar na faculdade, talvez nalguma em outro Estado, ele estava irremediavelmente perdido para mim.

– Que desânimo todo é esse? Até parece que está indo para um velório. – disse a Nancy, enquanto fazíamos o trajeto até a colégio de bicicleta.

– Será que entraram alunos novos na nossa classe? – perguntei

– Por que está me perguntando isso? Todo ano entra alguém, vindo de outras cidades ou Estados, mas isso não muda muito, a maioria da galera deve ser a mesma. – respondeu ela.

– Sei lá! Queria conhecer caras novas, eu acho!

– Quando você diz caras novas quer dizer garotos novos e, de preferência, sarados e sacanas para você logo começar a suspirar por um deles, não é. – ela parecia conseguir ler a minha mente, a danada.

– Não vou mentir, é isso mesmo! Sou gay, não posso ficar sonhando com um cara legal? – retruquei.

– É que você é sonhador demais! O Roger, o Ben e o Ricky já nem se dão ao trabalho de esconder o quanto arrastam as asas para o seu lado e você só os esnoba. Os três são legais, por que não dá uma chance para eles? – questionou ela.

– Por que eles só estão a fim de fazer sacanagens comigo, não de namorar. Eu quero alguém que goste de mim de verdade e que não fique só pensando em como comer a minha bunda. – respondi

– Você não acha que está pedindo demais de garotos nessa idade? Pensa que com a gente é diferente? Eles só pensam com a cabeça debaixo, não se iluda. Nessa idade ninguém pensa num relacionamento sério, é mais para ter com quem zoar por aí e dar uns amassos de vez em quando. Tem horas que você parece um velho! Onde já se viu um compromisso sério na adolescência? – questionou ela.

O professor de matemática fazia uma breve revisão de trigonometria explicando a lei dos cossenos através de um exercício, quando a porta da sala se abriu e nada mais nada menos do que o Todd em todo seu jeito displicente pediu licença para entrar na sala. Ao bater os olhos nele, meu coração disparou, foi como se tivessem me injetado adrenalina nas veias.

– Não perdeu o hábito de chegar atrasado, não é senhor Todd Riggs? – questionou o professor, como se aquela cena já lhe fosse conhecida.

– Posso me sentar naquela carteira vazia? – perguntou o Todd. A carteira a que se referia ficava exatamente atrás da minha, eu pensei que ia ter uma síncope.

– Anda, anda, apresse-se e comece a prestar atenção aqui na frente e não nos seus colegas de lado, ok! – retrucou o professor.

Eu parecia uma estátua, não me atrevi a mexer um músculo sequer, depois de ter-lhe devolvido um sorriso acanhado, e que eu podia jurar tinha me deixado com cara de idiota. Nem preciso dizer que a Nancy e o Cooper olharam para mim e piscaram com as caras mais deslavadas e sacanas que eu já tinha visto. Bem como, seria inútil mencionar, que não ouvi mais nenhuma palavra do que o professor dizia lá na frente, eu inteiro estava concentrado naquela respiração que vinha por trás de mim, e óbvio no cara que a produzia.

O Todd havia repetido de ano, por faltas, por não ter entregue os trabalhos escolares, por ter se saído pessimamente nas provas. Nem isso mudou a imagem que eu tinha dele, e confesso que estava feliz por ele não ter passado de ano, assim talvez eu tivesse uma chance de conquistar aquele cara que tinha a capacidade de embaralhar todos os meus pensamentos só com a sua presença.

Haviam-se passado quase dois meses desde o reinício das aulas e continuávamos praticamente dois estranhos. Afora ele me pedir ora uma caneta, ora umas folhas do meu caderno por não ter trazido o dele e, colado duas respostas de um teste que o professor de física aplicou sem aviso, nada tinha mudado entre nós. Eu devia ser um garoto muito sem-graça para o estilo de vida dele, incapaz de despertar qualquer coisa nele, comecei a conjecturar.

– Juro que vou fazer aquele bobalhão perceber que eu existo! – afirmei determinado para o Cooper e a Nancy numa manhã em que o Todd passou por nós sem nem sequer olhar na nossa direção ou nos dirigir um bom dia.

– A mim não faz a menor falta! Faz para você Nancy? – perguntou o Cooper, obtendo um – não – como resposta.

– Pois a mim faz! Vou conquistá-lo de um jeito ou de outro! Podem escrever! – devolvi resoluto.

Fiquei dias planejando uma maneira de abordá-lo que não fosse tão óbvia, e nem me deixasse constrangido caso ele se mostrasse indiferente. Mas, nenhuma das minhas ideias me parecia adequada.

Chovia naquela tarde em que saí da escola depois das aulas para ir para casa. O Cooper e a Nancy tinham ficado e ido até a biblioteca para fazer uma pesquisa de um trabalho em grupo que o professor de história havia passado. Peguei minha bicicleta e saí feito um louco debaixo da chuva, me descuidando do cruzamento movimentado de duas avenidas que ficavam a poucos quarteirões do colégio. O semáforo estava começando a se fechar para mim quando achei que ainda dava para cruzá-lo antes do vermelho. Uma motocicleta ia me pegar em cheio e o condutor freou com tudo, perdeu o controle no asfalto molhado e foi se estatelar numa ribanceira que corria paralela à avenida. Eu saí ileso, apenas xingado por outros motoristas de veículos que vinham no mesmo sentido da motocicleta. Esbaforido, parei assim que cheguei à calçada do outro lado da avenida e fiquei observando se o motociclista aparecia da ribanceira. Como ele não apareceu, achei que estava ferido e fui ter com ele. Para meu espanto, identifiquei o Todd se contorcendo na lateral da ribanceira, segurando uma das pernas e com a jaqueta de couro rasgada no cotovelo e o capacete todo sujo de lama. Escorreguei até ele e vendo que o jeans estava com sangue na altura do joelho e do calcanhar, chamei ajuda pelo celular.

– Você é maluco ou o que, moleque! Quase me matou! Não enxerga por onde anda? – esbravejou ele quando me reconheceu.

– Quem quase me matou foi você! Quem manda cruzar o semáforo quando ainda estava fechado para você! – revidei.

– Maluco! Olha o que você fez! Acho que quebrei a perna. – disse ele, avaliando os ferimentos.

– Deixa de fazer drama! Devem ter sido só umas escoriações! Mas, eu já chamei socorro. – conjecturei.

– E você, não se machucou?

– Não! Só levei um baita susto vendo você vindo para cima de mim naquela velocidade toda.

– Você acha mesmo que a culpa foi minha, não é? Foi sua, enfia isso na tua cabeça! – esbravejou ele.

Os paramédicos constataram uma luxação no ombro, e uma provável fratura no pé esquerdo por isso o Todd foi levado ao serviço de emergência do hospital mais próximo. O ortopedista confirmou a fratura do calcâneo sem deslocamento articular e imobilizou-a com uma bota por oito semanas. Como os pais do Todd estavam viajando, precisei acionar minha mãe para assinar a papelada no hospital por eles, o que eu sabia ia gerar depois uma porção de perguntas lá em casa.

– Se seus pais estão viajando você não pode ficar aqui sozinho na sua casa. – disse minha mãe quando deixamos o Todd na casa dele.

– Não se preocupe, eu sei me virar.

– Pode até saber, mas com o pé quebrado as coisas são diferentes. – insistiu minha mãe

– Ele podia ficar lá em casa, tem espaço no meu quarto. – argumentei, já me vendo com ele todinho só para mim por oito maravilhosas semanas.

– Vou ficar por aqui. Não quero dar trabalho. – respondeu o Todd

– Não seria trabalho algum, e a ideia me parece boa. – disse minha mãe. Mas, ele não aceitou.

– Então eu venho ficar aqui com você depois das aulas, e te ajudo com o que for preciso. – sugeri

– Está bem! É o mínimo que pode fazer depois de quase ter me matado. – retrucou ele, fazendo minha mãe rir.

– Me ligue para que venhamos te buscar quando quiser voltar para casa, ok. – disse minha mãe ao me deixar com ele.

– Sabe o que foi feito da minha motocicleta? – perguntou ele quando já estávamos a sós, ainda desconfortáveis com aquela situação.

– Minha mãe acionou o seguro e eles a deixaram na sua garagem. – respondi.

– Ela está muito danificada?

– Não sei, não fui ver. Com certeza está mais inteira que você! – ele disfarçou o riso

– Ela não é minha. É emprestada de um amigo do qual eu a ia comprar. Ele a deixou comigo por alguns dias para que a testasse. Agora adeus moto, vou ter que usar a grana para consertá-la e devolvê-la. – disse ele.

– Eu tenho umas economias, posso te ajudar a pagar o conserto. – sugeri.

– À troco do que você faria isso?

– Não foi você mesmo que, agora há pouco, afirmou que a culpa do acidente foi minha?

– Esqueça! Eu estava testando a aceleração, vi que o semáforo ia abrir para mim e acelerei com tudo, deu no que deu. Se ao invés de você tivesse sido um carro a cruzar na minha frente talvez eu nem estivesse aqui para contar a história. – eu não esperava essa resposta dele, tinha para mim que ele me achava mesmo culpado pelo acidente.

– De qualquer forma, vou te ajudar com as despesas do conserto. Amanhã mesmo vou procurar uma oficina para fazer o serviço. – informei. Ele só acenou com a cabeça e voltou a ficar calado por um bom tempo.

– Se eu tivesse te atropelado, estaria encrencado e preso a essas horas, não tenho habilitação para pilotar motocicletas. – revelou.

– Depois o maluco sou eu, não é! – ele riu desengonçado.

Vê-lo ali no sofá da casa dele, sem o amparo dos pais que estavam numa viagem de seis semanas pela Europa, com as roupas sujas, uma perna da calça jeans cortada até a metade da coxa no Pronto-Socorro para que tivessem acesso às escoriações e pudessem fazer as radiografias, o braço esquerdo apoiado numa tipoia, pois também tinha luxado o ombro, além de escoriações e hematomas por todo o corpo, me fez ver uma fragilidade da qual nunca pude imaginar, eu sempre o enxergava como um titã invencível. Não me sentia apenas penalização com sua situação, havia um sentimento tão forte dentro de mim que queria abraçá-lo, colocá-lo no meu colo e cobri-lo de afagos; se aquilo não fosse paixão, eu não saberia dizer o que era.

– Vou te ajudar a tirar essas roupas sujas, a tomar um banho para que se sinta mais confortável. – sugeri, pedindo que me dissesse onde ficava o banheiro e tudo o mais que fosse necessário para isso.

– Não preciso de ajuda, eu sei me virar sozinho! – respondeu ele, com aspereza na voz.

– Pois bem! Então vá se virar, você está fedendo mais do que um gambá. – retruquei.

Ele mal conseguia se mexer, não apenas as dores o incomodavam como não podia se firmar com os braços por conta do ombro luxado e tinha sido proibido de apoiar o pé fraturado por oito semanas e que, naquele momento, devia estar doendo muito dentro da bota de imobilização, pois o pé estava tão inchado que mal cabia dentro dela. Mas, ele reuniu o que lhe restava das forças e, teimoso, tentou levantar e ir em direção à escada para subir ao andar onde ficavam os quartos. Perdeu o equilíbrio, rodopiou ao redor de si mesmo e, por pouco, não se estatelou no chão, conseguindo no último momento desviar o corpo e cair novamente sobre o sofá.

– É assim que pretende se virar sozinho? – perguntei. Ele rosnou feito um cão enraivecido.

– Talvez eu precise de uma mãozinha. – admitiu contrariado.

Levantei-o, fiz com que se apoiasse no meu ombro, enlacei-o pela cintura e, mancando apenas sobre um pé, começamos a subir a escada. O esforço o exauriu. Enchi a banheira que fica num dos quartos, enquanto o ajudava a se despir, minhas mãos tremiam à medida que aquele corpão másculo e sensual se revelava em toda sua potencialidade. Quando fui arriar a cueca ele a segurou com força.

– O que pensa que está fazendo? – indagou acabrunhado

– Estou tentando te despir para que possa te colocar na banheira, ou vai tomar banho vestido?

– Eu mesmo faço isso, pode deixar! – exclamou, mas assim que tentou passar uma perna pela cueca voltou a se desequilibrar.

– Deixa de ser teimoso, Todd! Senta na beira da banheira e pare de querer bancar o herói! – protestei resoluto, baixando a cueca e fazendo surgir um cacetão imenso e pesado.

Não era a primeira vez que eu me deparava com aquele caralhão, já o tinha visto quando o Todd se banhava no vestiário do colégio após as partidas de rugby, mas nunca o tinha visto assim tão próximo, tão explícito, tão acessível. A galera zoava com ele por conta do tamanho da pica, era a maior rola do colégio, e ele parecia gostar da propaganda que os demais garotos faziam do seu cacetão para as garotas. Eu corei feito um tomate maduro, ele percebeu, não disse nada, mas eu podia jurar que estava se divertindo por me ver encabulado. Eu evitava olhar para aquele pintão e aquelas bolas gigantescas, que mais se pareciam com o escroto de um touro.

Acomodei-o na banheira com o pé fraturado apoiado na borda, acima do nível da água. A teimosia o levou a intentar banhar-se sozinho, mas o ombro luxado cerceava os movimentos e ele mal alcançava a cabeça sem sentir as pontadas de dor. Convencido de que não daria conta daquilo sozinho, encolheu os ombros abatido. Naquela altura minhas roupas também estavam encharcadas de tanto ele se debater quando fui colocá-lo na banheira. Livrei-me delas, à exceção da cueca que, embora também estivesse molhada, não tive coragem de tirar, não com aquele caralhão solto. Comecei a banhá-lo, deslizando delicadamente minhas mãos sobre aquelas omoplatas vigorosas para ensaboá-lo. Ele finalmente se rendeu, fechou os olhos e usufruiu da maciez e leveza das minhas mãos. Passou-me pela mente que aquilo podia excitá-lo, e quase me retraí; porém, a vontade de sentir aquela pele quente e aqueles músculos me fez continuar. Ele soltava uns gemidos quando eu tocava nas escoriações ou nalguma parte que devia ter sido traumatizada, mas ainda não apresentava sinais da lesão.

– Está doendo? – perguntei, suavizando ainda mais os toques

– Num ponto ou outro! – confirmou ele.

– Estou sendo o mais delicado possível. – exclamei

– Você tem mãos tão leves e macias! É bom senti-las, mesmo quebrado como estou. – sentenciou ele, o que me deixou feliz como um bobo alegre.

A proximidade que estava dele para alcançar todas as partes de seu corpo era desconcertante, ele ficava me observando trabalhar, não interferia e nem protestava, apenas se deixava banhar como se aquilo lhe estivesse aliviando as dores. Nalguns momentos ficávamos tão próximos que eu conseguia sentir o ar da expiração dele roçando a pele das minhas tetinhas, e um frenesi percorria minha espinha de cima abaixo. Foi num momento desses que ele, de repente, passou o braço sadio e vigoroso ao redor do meu tronco e me puxou para dentro da água.

– Você ficou doido! Dá uma olhada como ficou o chão, o banheiro todo está nadando n’água! – exclamei zangado

– É você quem vai limpar essa bagunça toda! – revidou ele, com um sorriso safado na cara.

– Faz tempo que eu notei o quanto você é gostoso, mas assim de perto você fica ainda mais atraente e sensual. – confessou ele, tocando de leve um dos meus mamilos.

– Não sabia que você ficava me espionando!

– Toda vez que te via debaixo das duchas do vestiário! Desde o ano passado! Ficava imaginando como seria sentir a pele das tuas nádegas. Aliás, elas são lindas! – disse ele, numa voz quase sussurrada e propositalmente rouca para dar ênfase ao que dizia.

– O médico esqueceu de avaliar a sua cabeça, a queda com certeza deve ter desalojado alguns parafusos dentro dela. – sentenciei, sentindo o calor tomando conta do meu rosto.

– Então qualquer coisa que eu fizer com você poderá ser atribuída a um louco, e não será passível de punição. – retrucou.

– Como o que, por exemplo?

– Como te foder aqui e agora! – respondeu obstinado

– Bobalhão! Guarde suas energias para se recuperar, você não está em condições de fazer nada, muito menos estripulias. – afirmei.

– Isso é o que você pensa!

Ele encostou a testa na minha, ficamos alguns minutos assim, em silêncio, apenas nos tocando. Aos poucos, uma necessidade premente foi se apoderando de ambos, nossos rostos iam se tocando até as bocas se encontrarem. Ele me deu dois selinhos suaves e rápidos, depois colou sua boca à minha com ímpeto e força enquanto me segurava pela nuca e ia enfiando a língua na minha boca, devassa e impudicamente e, em seguida, começou a mordicar meu lábio inferior nos excitando e nos envolvendo numa aura de prazer sublime. Eu me apoiava nos ombros largos dele, afagava-os, enquanto retribuía o beijo com todo meu carinho. Eu estava sentado no colo dele, quanto mais intenso se tornava o beijo, mais crescia o caralhão que cutucava minha bunda, e mais audível e sôfrego se tornava o nosso arfar.

– Você é um tesão, Edu! – ronronou ele, sem parar de me beijar.

O Todd tinha uma barba bem cerrada, de pelos duros que a fazia parecer uma lixa. Era uma das coisas que mais me atraía nele, e depois daquele beijo, não tive vergonha de admitir que a achava sensual, enquanto a acariciava com as pontas dos dedos. Ele não a fazia todos os dias, o que acentuava sua aparência viril. Ela já estava crescidinha, e resolvi fazê-la, já que me foi concedida essa chance.

– Não precisa! É um porre fazer a barba, sempre fico com a pele do rosto toda irritada. Quando eu me recuperar eu faço. – disse ele, quando me propus a fazê-la.

– Deixa eu fazer, vai? Prometo que vou ser cuidadoso! – pedi fazendo dengo.

– Você está se aproveitando de mim, devia ser castigado por isso! – as mãos dele deslizando sobre as minhas nádegas me davam uma noção do tipo de castigo em que ele estava pensando.

– Depois você me castiga, agora deixa eu fazer sua barba, deixa vai. – ele assentiu com um sorriso

Eu queria que aquele momento se eternizasse, queria ficar sentado no colo dele sentindo sua ereção e seu desejo por mim se prolongar, queria poder ficar cuidando dele por toda uma vida, queria sentir aquela felicidade que quase fazia meu peito explodir.

– De agora em diante, vou te convocar toda vez que for fazer a barba, a suavidade das tuas mãos me deixa louco, sabia? – sussurrou ele, enquanto eu deslizava o barbeador retirando a espuma que cobria aquele rosto pelo qual eu estava perdidamente apaixonado. Eu daria tudo para descobrir o que se passava na mente dele enquanto me encarava com aquele olhar enigmático.

Eu praticamente me mudei para a casa dele durante aquelas semanas. Trazia o conteúdo das matérias, trazia a comida que minha mãe preparava para nós, fazia os curativos sempre sob protestos e manhas dele, e dormia abraçado a ele todas as noites. Estava me sentindo a mais feliz das criaturas e não escondia isso de ninguém.

– Essa cara de bobo alegre é porque está cuidando do seu troglodita? – indagou a Nancy, quando lhe contei que estava passando todo o tempo com o Todd.

– Devo admitir que esse acidente foi a melhor coisa que me aconteceu. Ele é maravilhoso, Nancy, você precisa ver a carinha dele quando faço alguma coisa da qual ele gosta, quando cuido dele, quando beijo ele. – respondi todo empolgado.

– Você não toma jeito mesmo! É o gay mais romântico que eu já vi. Só cuide para não se machucar, Edu. Eu odiaria te ver sofrendo por causa daquele cara. – disse ele

– Por que eu sofreria por causa dele? Ele é incrível, maravilhoso, amoroso, tudo com o que eu sempre sonhei. – devolvi

– Mas ele vai se recuperar um dia e voltar a ser o Todd de sempre! Não se iluda meu amigo querido, não sonhe demais. Você está apaixonado por ele, mas isso não significa que ele também esteja. Procure ser racional. Até porque até poucos dias atrás ele estava dando uns amassos e uns beijos na Lisa que, de longe, parecia que ele ia sugar a alma dela pela boca. Portanto, abra os olhos antes que se desiluda com seu príncipe encantado, que está mais para sapo do que para príncipe. – advertiu ela.

– Você é uma grande estraga prazeres, Nancy! Nossa, que agourenta! – exclamei exasperado. Contudo, as palavras dela me deixaram de sobreaviso, por alguma razão eu temia que elas se tornassem verdade.

Eu já tinha visto a Lisa dando em cima dele, aliás ela dava em cima de todos os garotos bonitos ou tesudos do colégio, isso não era novidade para ninguém, pois ela fazia o gênero piranha descarada. No semestre passado inclusive eu fui um dos seus alvos, quando veio se engraçar para cima de mim. Como nunca me interessei pelo sexo feminino, a não ser por amizade, o que no caso dela nem isso ia rolar, ela precisou se contentar com o meu fora.

– A Lisa dá em cima de tudo que se mexe e tem um pinto no meio das pernas, daí eu não conseguir enxergar onde ela vai ter uma chance com o Todd. – argumentei

– E ele dá em cima de tudo que se mexe e tem uma fenda no meio das pernas! Portanto, temos aí a fome com a vontade de comer e, isso não metaforicamente. – devolveu ela

– Ah Nancy! Está bom, já entendi, você não vai com a cara do Todd, já entendi. Não precisa ficar me envenenando contra ele. – afirmei exasperado.

Durante aquelas seis semanas que fiquei com ele, praticamente todos os finais de semana meu pai ou minha mãe iam buscar o Todd para ficar conosco. Eles não precisaram de muito tempo para constatar que toda aquela minha dedicação para com ele não se devia exclusivamente por conta do acidente. Meu bom humor, aquela súbita explosão de energia, aquela inclusão do nome dele a cada três frases que eu proferia só podiam significar uma coisa, eu estava interessado naquele garoto.

– Você está gostando do Todd, não é filhão? – perguntou-me meu pai numa manhã chuvosa em que me levava para o colégio.

– Acho que estou! Por que, vocês não aprovam nossa amizade?

– Não, não é nada disso! Você sabe que aprovamos as tuas escolhas e que sempre vamos estar do seu lado, em qualquer circunstância. Estamos felizes por você ter encontrado alguém que parece estar correspondendo à sua dedicação. Ele nos parece um garoto legal. Só não vá com sede demais ao pote, não queremos que se decepcione. – pronto, lá estava outra vez alguém me dizendo para ter cautela. O que os outros estariam enxergando que eu não?

Quando os pais e os dois irmãos menores do Todd voltaram da viagem ele voltou a frequentar as aulas no colégio. Eu estava com ele quando os pais dele chegaram, e tivemos a oportunidade de contar juntos como tinha ocorrido o acidente, embora o Todd tivesse me obrigado a omitir certos detalhes e confirmar outros que não correspondiam bem à verdade, tudo para que eles não se aborrecessem com ele. Se, por um lado, era bom ver a franca recuperação dele, por outro, eu me vi privado daquelas longas horas ao lado dele, o que me deixou com saudades daquela intimidade toda. Os pais dele se mostraram muito agradecidos pelos meus préstimos, tinham se afeiçoado a mim, e faziam questão de me convidar ou para alguma refeição ou para passar a noite e fazer companhia para o filho, sem desconfiar do que rolava entre nós.

O professor de biologia tinha organizado uma excursão de dois dias para coletarmos amostras da água do Rio Laramie e do Rio North Platte para serem analisadas no laboratório do colégio; uma vez que a região de Laramie e os arredores haviam sido contaminados quando empresas de produção de alumínio, ácido arsênico, cimento e outros metais estratégicos atuavam na região. O objetivo era verificar se elementos da fauna e flora ainda apresentavam traços dessas substâncias. O local escolhido para o acampamento foi a reserva nacional de Fort Laramie, onde passaríamos uma noite acomodados em duplas nas barracas. Desde o instante em que o professor avisou da excursão, eu já comecei a traçar os planos para ficar na mesma barraca do Todd, seria a nossa chance de repetirmos aqueles beijos tórridos que já não aconteciam na mesma frequência de antes, pois sempre estávamos rodeados de pessoas.

– Já combinei de dividir a barraca com a Lisa. – disse ele quando fui lhe fazer a proposta, despejando um balde de água fria nos meus sonhos.

– Com a Lisa? Aquela piranha não perdeu tempo, pelo visto. – afirmei despeitado.

– É melhor do que ficarmos dando bandeira! – retrucou ele.

– É com isso que você se importa? Com o que os outros pensam ou deixam de pensar, em vez de se preocupar com o que sentimos um pelo outro. – revidei zangado.

– Você prefere cair na boca do povo? Quer que todos saibam que é gay? Eu não me vejo levantando bandeiras pela causa dos homossexuais, sinto muito!

– Quem foi que te pediu para levantar bandeiras? Eu estou pouco me lixando para as pessoas. Nunca fiz alarido sobre a minha condição, mas também não tenho vergonha de admitir o que sou. – afirmei. Foi a nossa primeira briga e, para mim, aquela excursão já perdera toda a graça.

Ele tentou algumas vezes chegar em mim quando estávamos acampados, mas eu o evitei, principalmente quando flagrava a Lisa pendurada no pescoço dele e ele usando aquelas mãos bobas para vasculhar todo o corpo dela.

– Não sei por que você fica se martirizando, eu não te avisei para não se iludir com o Todd? – questionou a Nancy quando me flagrou macambuzio.

– Não estou me martirizando! Só estou puto com aquela vadia, qual o problema disso?

– Não é com a piranha da Lisa que você deve ficar puto, é com o seu príncipe-sapo; é ele quem está pisando na bola com você! – retrucou ela.

– Não vou discutir isso com você outra vez! Me deixa! – eu estava sem paciência para ouvir sermões.

Como não tinha conseguido me abordar no acampamento, o Todd apareceu em casa naquela mesma noite do regresso, um sábado quando eu havia me trancado no quarto para ouvir música, pois não estava a fim de interagir com ninguém. Queria remoer aquele ciúme sozinho.

– O Todd está lá embaixo, filho, querendo conversar com você. – anunciou minha mãe. Eu ia pedir para ela o mandar embora, mas aí todos iam ficar sabendo que brigamos.

– O que você quer? – perguntei ríspido quando saímos para dar uma caminhada pelas ruas próximas.

– Queria te ver! – respondeu ele, percebendo que estávamos prestes a começar outra briga.

– Por que não foi ver a Lisa? Ela deve ter coisas mais interessantes para te falar e para oferecer para as tuas mãos. – revidei.

– Eu gosto de você e não da Lisa!

– Não foi o que me pareceu!

– Eu só estava mantendo as aparências! Já te expliquei isso umas mil vezes, é tão difícil de entender? – questionou zangado

– É, é difícil de entender e, principalmente de acreditar num cara que diz que gosta de mim e fica se esfregando e transando com uma piranha na minha cara. – retruquei furioso.

– E você e o Bernie ficaram fazendo o quê debaixo daquela barraca a noite toda? Todo mundo sabe que ele é afim de comer a tua bunda. Ficaram contando as estrelas, é isso? – questionou enciumado.

– Não interessa o que eu fiz ou deixei de fazer com o Bernie! Mas te garanto que não foi nada de que precise me envergonhar ou arrepender, isso garanto!

– Está bom, vou fingir que acredito! Você e ele, a noite toda deitados um ao lado do outro, e ele não tentou nem fez nada com você! Você jura? Ele não te desvirginou? – insistia ele

– Não ligo se você acredita ou não! Se toda a sua preocupação se resume a ele ter me desvirginado ou não, fique tranquilo, eu só vou deixar o cara que me ama de verdade me desvirginar, não qualquer mentiroso que anda por aí. – respondi

– Você sabe que só tem um cara que te ama de verdade, e esse cara sou eu! – exclamou ele, pondo novamente um sorriso no rosto depois que lhe afirmei não ter perdido a virgindade.

– Por enquanto você faz parte da lista de mentirosos! – revidei

– Está tão zangado assim comigo? Sabe o que é isso, falta dos meus beijos. Você podia me dar alguns, ninguém vai ver.

– É isso que importa, não é? Que ninguém veja, que ninguém saiba, que ninguém suspeite daquilo que você faz com um gay! Você sente vergonha de mim, não é? Do que eu sou, apesar de quase ninguém saber ou suspeitar que sou gay? – questionei irado.

– Não tenho vergonha de você! Não repita isso! Eu gosto muito de você! Quero você para mim, isso não basta? – devolveu

– Não, não basta! – respondi.

A calçada pela qual passávamos estava repleta de árvores plantadas ao longo dela, e ele me prensou contra o tronco de uma delas e colou a boca na minha com força e determinação. Me impediu de rechaçá-lo, e foi enfiando a língua na minha boca e me provocando até eu parar de reagir. Eu precisava daquele beijo, daquelas mãos me palpando, daquele tesão injetando ânimo no meu corpo.

– Eu quero você, Edu! Quero agora! – disse ele, quando parou de me beijar feito um alucinado e me exibiu sua ereção, sobre a qual ele levou a minha mão.

– Não, hoje não! – respondi, sentindo o cacetão dele pulsando debaixo da minha mão.

– Quando então? Não aguento mais esperar.

– Na terça-feira! Só pode ser na terça-feira! Meus pais vão ficar na fazenda e minha irmã só chega em casa tarde da noite, depois das aulas de pintura. Já vou deixar avisado que você vai dormir em casa por conta de um trabalho do colégio. – respondi, tão ansioso quanto ele para aquela nossa primeira transa. Ele ficou desapontado, queria me pegar a qualquer custo, insistiu para que fizéssemos no carro da mãe, na garagem da casa dele, aquela noite mesmo.

– Você não gosta de mim tanto quanto eu de você! Se não fosse assim, você viria comigo agora mesmo. – afirmou, quando adiei aquele encontro amoroso.

– Você sabe muito bem que eu te amo muito, e que também te quero, mas não vou fazer uma loucura dessas, não sem termos a certeza de que não seremos flagrados. – retruquei.

Quando voltei para casa minha cabeça estava a mil, agora ia acontecer, tínhamos data e hora marcadas para nossa primeira transa, na qual eu perderia a minha virgindade. De repente, estava apavorado com essa ideia. Quase não preguei os olhos aquela noite, só imaginando como seria a minha primeira vez, o que ele faria comigo, o que eu tinha que fazer para tudo dar certo. Era assustador.

No dia seguinte, domingo, os pais dele me convidaram para o almoço, algo que já vinha acontecendo com certa frequência, pois gostavam da minha amizade com seu filho. Alegavam que ele tinha mudado muito depois que começou a andar comigo, que tinha ficado mais responsável, que suas notas eram sensivelmente melhores depois que passamos a estudar juntos, que já não era mais tão respondão, e tudo atribuíam à nossa amizade, o que me tornou muito bem quisto na casa deles. A família do Todd era católica, do tipo fervoroso que ia à missa praticamente todos os domingos e, para onde inclusive já tinham me arrastado algumas vezes. Não que eu me importasse de frequentar uma igreja diferente da minha, meu interesse maior ao acompanhá-los estava no fato de poder ficar mais tempo ao lado do Todd. Durante todo o almoço, ele ficou me lançando olhares libidinosos, como se quisesse dizer – a sua hora está chegando, vou te pegar na terça-feira e tirar sua virgindade – o que me fazia sentir um calafrio na espinha e lhe devolver um sorriso tímido e assustadiço.

Por mais ridícula que a situação se mostrasse, em pleno século XXI, quando qualquer jovem na minha idade já não só conhecia, como fazia sexo a torta e direita, eu continuava virgem e ignorante nessa questão, embora estivesse às vésperas de completar dezenove anos. Naquela situação eu queria que, ao invés de uma irmã mais velha, eu tivesse um irmão mais velho a quem pudesse consultar sobre como transar. Com a minha irmã eu nem precisava contar, apesar de ela saber que eu sou gay, jamais ia me ajudar com uma coisa dessas. Meus pais também estavam fora de questão, talvez meu pai até me desse umas dicas sinceras, mas eu tinha vergonha de falar com ele tão abertamente sobre sexo, especialmente sobre perder a virgindade com o Todd. A única opção que me restava era a Nancy, nela eu podia confiar, mas ela se sujeitaria a ter esse tipo de conversa comigo? Eu precisava arriscar.

– Posso te fazer uma pergunta muito íntima e pessoal, tipo bem íntima mesmo? – comecei, na segunda-feira, ainda à caminho do colégio.

– Lá vem besteira! Que tipo de pergunta íntima? Não se atreva a me perguntar sacanagens! – respondeu ela, com sua costumeira sinceridade

– Não é sacanagem, mas é sobre sexo! – ela parou de caminhar e me encarou de um jeito esquisito.

– Veja lá o que vai perguntar! Não pense que por sermos bons amigos eu não te meto a mão na cara se você folgar comigo. – ameaçou ela

– Então esquece! Já vi que não posso contar com você! – exclamei zangado

– Vá, anda! Pergunta de uma vez, agora que me deixou curiosa.

– Você e o Cooper já transaram? – arrisquei, me afastando um pouco dela, caso resolvesse me dar um tapa na cara.

– O que isso te interessa?

– Eu avisei que era uma pergunta íntima, se não quiser responder, tudo bem!

– Foi o Cooper que te mandou perguntar isso? Eu ainda estou puta da vida com ele, diga que se ele quiser fazer as pazes comigo que venha ele mesmo falar comigo e não mandar um mensageiro. – despejou ela.

– Não é nada disso, o Cooper não me mandou perguntar nada! Foca na pergunta e me responde.

– Olha aqui, Edu, se você abrir essa sua boca eu juro que nossa amizade acaba para todo o sempre e que eu meto a mão na sua cara na frente de todo o colégio. – voltou a ameaçar. – Já, já transamos, por que?

– Ele não foi seu primeiro namorado, que eu sei. Você perdeu a virgindade com ele? – ousei

– Essa conversa está ficando muito estranha, onde você quer chegar com esse interrogatório todo?

– Me responde, foi com ele?

– Foi! Vou repetir, se você abrir essaE como foi? – perguntei, interrompendo-a

– Foi como tem que ser, ora!

– Isso não é resposta!

– Ah, agora estou sacando! Você é virgem e está querendo deixar de ser, aposto que com aquele troglodita do Todd! Ai que fofinho! Você não existe, Edu! O garoto mais fofo do colégio, além de lindo é virgem! Ah, se as garotas souberem disso, seu sossego acaba na mesma hora. Isso sem mencionar aquele bando de babacas tipo Austin e sua corja, eles fariam a festa com essa informação. – ela me zoou o quanto pode.

– Esquece, não pergunto mais nada! Se soubesse que você ia ficar caçoando de mim, não tinha nem aberto a boca! – exclamei irritado.

– Desculpe, não estou te zoando. É que você fica ainda mais fofo quando expõe toda essa sua inocência. Amo você, Edu! Amo de verdade, meu amigo! Meu gayzinho mais fofinho do mundo! – tripudiou ela em sua autenticidade.

– Já chega, tá! Esquece o que te perguntei.

– Vou falar sério agora, juro! Eu acho que perder a virgindade para uma mulher é muito diferente do que para um gay, sei lá! As garotas sabem que isso faz parte da vida delas, desde que o mundo é mundo e, meio que encaram isso como um rito de passagem. Não sei como é para um gay perder a virgindade, por que é uma escolha consciente, eu acho. Para nós a escolha recai sobre o cara que você escolhe para fazer isso, não com o ato em si. – sentenciou ela, me deixando na mesma. – Não quero me meter na sua vida, mas pense muito bem antes de se entregar para aquele troglo…., para o Todd. – aconselhou ela, quando lhe lancei uma cara feia por desmerecer o cara pelo qual eu estava perdidamente apaixonado.

– Voltemos ao que interessa! E como rolou, o que o Cooper fez, e o que você fez? – insisti, pois era dessas informações que eu precisava.

– Ah! Sei lá, vai acontecendo à medida que a intimidade e o envolvimento crescem, não tem uma receita feito bolo a ser seguida. – respondeu ela

– Quando você diz intimidade e crescimento você que dizer o tesão, o pinto duro e sei lá o que acontece com vocês garotas, essas coisas, não é?

– Sim, é isso! É um pouco assustador no início, não vou negar. Também é meio desconfortável e dolorido no começo, mas depois fica bem legal quando é o cara certo. No nosso caso, a gente sangra um pouco, isso você sabe, mas no caso dos gays eu não sei como é. Você teria que perguntar a outro gay que já passou por isso. – revelou ela

Se eu já estava confuso, agora a minha cabeça estava dando um nó. Foi tolice e ingenuidade minha perguntar isso para uma garota, afinal elas são completamente diferentes da gente. Idiotice, pura idiotice minha. Como continuava na mesma ignorância, resolvi apelar para o maior gênio e sábio que já existiu, Mr. Google. Corri para o notebook e digitei – o que um gay precisa saber para perder a virgindade – a tela se encheu de milhares de respostas. Havia listas incontáveis e discrepantes do quê e como fazer, sugestões que até para mim, um virgem leigo, pareciam esdrúxulas, quando não assustadoras. Elas iam desde, o primeiro beijo com um cara, o que eu tirei de letra, pois sabia exatamente como era aquele arrepio que chegava até o último fio de cabelo quando o Todd colava seus lábios quentes e úmidos nos meus; passavam por, o primeiro pinto que você coloca na boca, alertando para, socorro vou engasgar e, posso passar o dia inteiro fazendo isso; o primeiro cacete que entra no seu cu, uma mistura de, fodeu vai dar merda com aí que delícia; até a primeira ida ao proctologista, aquele senhorzinho de cabelos grisalhos a quem você deve contar sua vida sexual e expor seu cu para ele examinar e ver se não há algo de errado dentro daquele buraco, enquanto você não vê a hora de sair correndo do consultório dele. Fechei o notebook, pois aquilo estava me deixando mais apavorado do que se me visse diante de um fantasma. Respostas, que é bom, nenhuma que se pudesse aproveitar. Cacete, a humanidade trepa e fode desde Adão e Eva e até hoje ninguém conseguiu elaborar um guia prático para aqueles que estão se aventurando pela primeira vez nessa seara? Está aí uma tarefa a que vou me dedicar, tão logo eu descubra como é que se transa pela primeira vez.

Na terça de manhã acordei elétrico, o dia tinha chegado. Ainda estava em tempo de inventar algum pretexto para adiar aquele encontro, mas eu só conseguia pensar no corpão do Todd, nos braços dele me envolvendo, naqueles beijos que me faziam estremecer todo. Ele pouco ajudou, assim que nos encontramos naquela manhã, seu sorriso cheio de safadeza e libertinagem foi a primeira coisa que me lançou, acompanhado de um sussurro discreto que plantou discretamente junto ao meu ouvido ao me devolver umas canetas que eu havia esquecido na casa dele.

– Não vejo a hora de ter em meus braços e fazer de você uma parte de mim mesmo! – sussurrou ele, fazendo minha pele se arrepiar toda. Nem gaguejando consegui dar uma resposta.

Não consegui me concentrar em nenhuma das aulas daquele dia e, a respiração do Todd nas minhas costas não estava me ajudando em nada, só me deixando cada vez mais tenso. A professora de geografia tinha me feito uma pergunta, quando dei por mim que a classe toda me encarava. Eu não sabia a resposta, dei a primeira que me veio à mente, a classe caiu na gargalhada, pois ela nada tinha a ver com a pergunta.

– É melhor o senhor trazer o seu cérebro junto para a próxima aula, Sr. Downley! – exclamou ela, fazendo a galera rir mais alto.

A culpa disso foram as camisinhas, sim as camisinhas, eu havia me esquecido completamente delas. Ao final das aulas teria que correr rapidamente ao supermercado ou a uma farmácia para comprá-las. Quantas? Uma meia-dúzia, talvez? Não, isso é um exagero, afinal é uma para cada trepada, e eu não ia trepar seis vezes com o Todd logo de cara. De qualquer forma, era bom ficar prevenido, meia-dúzia, estava decidido.

– O que está acontecendo com você hoje, Edu? Parece um maluco que acabou de sair do hospício? – questionou a Nancy, percebendo minha agonia.

– Me deixe, Nancy, hoje não, pelo amor de Deus, hoje não! – devolvi, procurando uma maneira de me livrar dela, para que não fosse comigo até a farmácia ou supermercado comprar as camisinhas, pois isso era dar bandeira demais.

O supermercado é melhor, lá não vou precisar ficar cara-a-cara com o balconista, pensei comigo mesmo. O caralho da divisão para produtos masculinos tinha um monte de prateleiras e zilhões de marcas, tamanhos, com sabor, sem sabor; quem precisa de uma camisinha com sabor de cerveja quando ela vai ser enfiada no cu e, até onde eu sei, não existem papilas gustativas no cu, eu acho. Sensitive, Skyn lubrificada, Ice, Prudence, Extra Premium e aquela infinidade de nomes não acabava; por todos os santos, se eu me puser a ler as características de cada uma, vou passar o dia aqui dentro. A Prudence chamou minha atenção, pois era justamente o que estava me faltando quando topei entregar meu cuzinho a um homem pela primeira vez. Tamanhos, também tem essa, para deixar tudo mais complicado. Inteligente e Sob Medida, o que é uma camisinha inteligente, cacete? Uma que tenha mais massa encefálica do que eu provavelmente. Tamanho Standard Médio, eu devia ter medido meu pinto para ter uma ideia do tamanho real dele. Espaçoso XL, Super Large XXL Fit, que porra, como eu vou saber qual deles o Todd usa? Com aquele caralhão que eu vi no vestiário deve ser o maior tamanho. Ah, finalmente uma caixa com alguma informação útil, uma escala de cores que vai do verde SLIM 45 ao azul 72 WIDE! Devem ser essas, para caber aquele pintão só podem ser essas. Joguei duas caixinhas 72 WIDE na cesta e para disfarçar peguei mais algumas besteiras para não pagar mico no caixa. Ao ganhar a rua minha respiração e meus batimentos cardíacos foram lentamente voltando ao normal. Santo Deus, quanto estresse para deixar de ser virgem, se soubesse disso antes, teria decidido virar padre. Agora só falta dar uma garibada no meu quarto, trocar a roupa de cama, espalhar um perfuminho, sumir com tudo que vá nos atrapalhar, escolher umas músicas legais que tanto ele como eu curtam; sem ser as clássicas, já que a Jessica vive falando que isso é coisa de nerd. Anoiteceu antes que eu esperava, e ele tocou a campainha antes das seis, duas horas antes do combinado. Isso só podia significar uma coisa, ele estava tão ansioso com aquela primeira transa quanto eu, muito embora eu soubesse que não era a primeira vez dele, e nem me atrevia a imaginar em quanto essa conta já estava, uma vez que sua fama de garanhão não era segredo para ninguém.

– Oi!

– Oi!

– Cheguei cedo demais?

– Não! Está tudo bem.

– Cortou o cabelo? – eu havia mandado dar uma leve aparada nas pontas, coisa mínima, mas ele notou, o que só podia ser sinônimo de que vivia me observando. – Está lindo! – elogiou.

– Só um pouco! A franja estava caindo na testa. – respondi, encabulado. Eu tinha certa dificuldade em aceitar elogios.

– Está sozinho em casa?

– Estou! – tive a nítida impressão de estar confirmando ao predador que sua presa estava desprotegida.

E isso se confirmou assim que ele me puxou para junto dele numa pegada firme e determinada, me prensou contra a parede e começou a me beijar ao estilo dele; dois selinhos rápidos, uma colada firme e sôfrega de bocas, mordiscadas no meu lábio inferior, enquanto suas mãos entravam debaixo da minha camiseta, tirando-a pela cabeça e avançando sobre meus mamilos. Será que ele beijava todo mundo assim? Nunca notei ele beijando a Lisa dessa maneira, esse estilo peculiar. Seria só comigo que ele fazia assim? Ao sentir os dedos dele roçando meus mamilos, os biquinhos rosados se projetaram, deflagrando o tesão que começou a se apoderar de mim. Ele me apertava com todo o corpão dele me fazendo sentir a ereção que esfregava afoitamente na minha coxa. Envolvi-o com os meus braços, minhas mãos tateavam, sem rumo, aquele tronco sólido e quente, percorrendo ombros, flancos e ventre como alguém que se tivesse perdido numa imensidão desconhecida. Quando não estava movendo a língua fundo na minha boca, seus lábios chupavam os meus e eu retribuía na mesma intensidade e frenesi. Ele enfiou a mão dentro da minha calça até conseguir agarrar uma das minhas nádegas, amassando-a com força, enquanto minha carne se amoldava à sua sanha tarada.

O caminho para o meu quarto ele já conhecia bem, e foi para lá que foi me conduzindo aos empurrões, sem parar de me bolinar e beijar até me lançar sobre a cama. Ele arrancou a própria camiseta, me exibindo o tórax viril com aqueles pelos sensuais que me deixavam excitado e desejoso de os afagar. Inclinou-se sobre mim, abriu a minha calça e a puxou junto com a cueca pernas abaixo me deixando completamente nu. Voltou a me beijar enquanto segurava meu rosto em suas mãos, me encarando com o tesão explícito brilhando em seu olhar cobiçoso. Como eu gostava e queria aquele macho, eu sonhava com esse momento desde a primeira vez que coloquei os olhos nele. Tinha sido algo inexplicável, foi uma atração tão intensa, tão cheia de repercussões dentro de mim como eu nunca havia sentido nada parecido antes. Seus beijos, intercalados com chupões e mordidas foram descendo pelo meu pescoço, cobrindo meus ombros, rumando na direção daqueles biquinhos rijos e delatores do desejo que me consumia. A língua dele se movia ao redor deles, que iam ficando cada vez mais sensíveis à medida em que se projetavam devassamente hirtos, reféns de sua cobiça. Sua boca se fechou e apreendeu o primeiro, senti-o sugando minha teta com força, o que me fez gemer e meu corpo começar a ser contorcer de prazer. O Todd prendeu o mamilo entre os dentes e o tracionou até ouvir meus gemidos aumentarem, depois o mastigou fazendo-o inchar pela injuria incontrolada de sua tara. Quando a soltou, ela tinha o dobro do tamanho da outra. Ele a acariciou como se quisesse me recompensar pelo dano, me lançou um sorriso e atacou a outra com a mesma voracidade predadora. Eu segurava sua cabeça em minhas mãos, enfiava a ponta dos dedos na cabeleira dele e a agarrava enquanto prazer e dor se misturavam ao meu tesão. Seus beijos e chupões foram descendo pelo meu ventre, me fazendo sentir cócegas e refém incondicional daquele macho sequioso. Ele se divertia com o meu contorcionismo para me livrar das cócegas, enquanto aproveitava para bolinar minha bunda quando ela ficava ao seu alcance. O Todd me virou de bruços, me puxou até a beira da cama, abriu minhas pernas e avançou sobre a minha bunda. Suas mãos me amassavam ao mesmo tempo em que apartavam as bandas, expondo meu reguinho profundo e liso, onde um montículo rosado que piscava denunciava ser o lugar onde ele queria entrar. Senti-o mordiscando minhas dobras entre as coxas e a bunda, avançando sobre as nádegas que eram torturadas por suas mordidas para depois serem beijadas e lambidas como forma de compensação. Um tremor intenso foi se apoderando do meu corpo, como se estivesse prestes a convulsionar, ele nunca havia reagido a nada tão veementemente. A boca úmida e quente do Todd foi se aprofundando no meu reguinho, seus dentes fisgavam minha pele lisinha, eu precisava gemer para liberar todo aquele excesso de ar que ia se acumulando nos meus pulmões. Então o primeiro gemido depravado ecoou por todo o quarto, a língua dele havia lambido minha rosquinha anal. Nem sei como descrever aquela sensação que tomou conta de mim, enquanto ele me lambia devassamente aquela região tão íntima e resguardada, só sei que era algo sublime. Não consegui deixar de fazer uma analogia de um cão estar farejando o cio de uma cadela antes de cobri-la, pois era exatamente assim que eu me senti naquele instante, uma cadela prestes a se entregar ao macho. O Todd voltou a me segurar em seus braços, me beijando, acariciando meu rosto sem tirar aquele olhar cheio de desejo do meu.

– Você é tão lindo, Edu! Tão lindo! – ronronou ele, me acariciando com uma suavidade quase angelical.

– Eu te amo, Todd! – me ouvir verbalizando o que havia tempo carregava em meu peito foi como expressar a maior felicidade que já havia experimentado. Ele colou delicada e carinhosamente seus lábios aos meus num demorado beijo apaixonado.

A ereção gigantesca dele continuava encarcerada dentro da calça, e eu precisava libertá-la daquela prisão, eu precisava tê-la todinha ao meu alcance para cobri-la de atenção e carícias. Fui abrindo a braguilha dele, empurrando a calça para baixo naquelas pernas grossas, musculosas e peludas. Havia se formado uma rodela úmida na cueca dele, onde estava a cabeçorra que pulsava indômita debaixo do tecido. Eu aproximei o rosto para sentir mais intensamente aquele cheiro almiscarado que vinha daquela rodela, era o cheiro que identificava o meu macho, que o distinguia de todos os outros, o que seria minha ligação com ele. Tirei o cacetão com cuidado de dentro da cueca, como se fosse o objeto mais precioso que já tivera nas mãos. Ele me acompanhava com o olhar ávido. Tão de perto, o caralhão me pareceu ainda maior do que eu imaginava. Ele parecia ter vida própria, pois latejava vibrantemente nas pontas dos meus dedos, que o tocavam com sutileza, percorrendo toda sua extensão, deslizando sobre as grossas e saltadas veias, enquanto eu explorava toda sua potencialidade. Não me recordo quando começou essa minha fascinação por caralhos, eu sempre os achei lindos, emblemáticos, como se toda a energia da humanidade estivesse contida naqueles centímetros de carne. O do Todd era perfeito, incomparável de tão lindo e promissor. Ele sorriu ao constar meu olhar embasbacado admirando seu falo e afagando seus testículos taurinos.

– Gosta? – perguntou ele

– Muito! É tão lindo e cheiroso. – respondi, o que o fez ampliar o sorriso e trazer minha cabeça para junto de sua virilha pentelhuda.

Fechei minha mão ao redor do caralhão e o levei à boca, comprimindo meus lábios ao redor da glande estufada e babada. Ele soltou um grunhido rouco e apertou minha cabeça entre suas mãos. O pré-gozo fluía abundante, viscoso, translúcido e levemente salgado, e eu o sorvia com chupadas suaves e carinhosas. O Todd se contorcia, trocava constantemente o pé no qual se apoiava, como se estivesse trotando para controlar o tesão que só crescia.

– Ah, Edu, assim você acaba comigo! – gemeu ele.

Para quem nunca teve a pica de um macho na boca aquilo só podia significar que eu estava fazendo tudo certo, o que me motivou a continuar lambendo e chupando aquela jeba saborosa e suculenta. Já que estava ali, também precisava descobrir a consistência e o sabor daquelas bolas ingurgitadas. Coloquei uma delas na boca e a chupei com o mesmo ímpeto e voracidade que havia chupado o cacetão. Ela era globosa e mal cabia na minha boca, mas cheirava e tinha um sabor delicioso. Minhas mãos espalmadas ora sobre seu ventre, ora sobre suas coxas peludas, deslizavam afagando e incendiando o desejo do Todd. Quando sentia que ia gozar, ele me mandava parar e sacava bruscamente o cacetão da minha boca, me deixando desacorçoado como um menino do qual se tirou o pirulito. Mas, eu também tinha minha obstinação e era ela que me levava a abocanhar pronta e novamente o caralhão dele, para continuar chupando e sugando sua carne intrépida. Depois de ele ter me afastado umas três vezes para evitar o gozo na boca, na quarta eu fui mais rápido e não soltei a cabeçorra, prendendo-a com força e dando uma chupada enérgica, a porra explodiu na minha boca, enchendo-a e me obrigando a engolir um jato atrás do outro para não sufocar. O Todd só me contemplava atônito, observando como eu deglutia seu esperma cremoso sem nenhuma reserva ou repulsa.

– Caralho, Edu! Caralho, como isso é bom! – grunhia ele, ejaculando fartamente tudo o que havia se acumulado no seu sacão.

Ele depois se deitou ao meu lado, me tomou em seus braços e colocou minha cabeça em seu peito, percorrendo com as pontas dos dedos o contorno do meu rosto. Eu sentia a respiração dele, o sobe e desce ritmado do tórax a cada inspiração, num misto de excitação e conforto, estar ali com ele era a coisa mais maravilhosa do mundo. O Todd e eu finalmente juntos, não era mais um sonho, estava se tornando cada vez mais real.

– Sabia que é a primeira vez que alguém engole a minha porra! – asseverou ele.

– Então não sou só eu quem está tendo a sua primeira vez nalguma coisa. – respondi. – Ela é muito saborosa! – acrescentei. Ele riu.

– Só mesmo você, Edu, para falar uma coisa dessas com toda essa inocência. Quer dizer que minha porra é gostosa, nunca pensei nela nesses termos. – afirmou ele.

– É muito! – garanti, beijando-o.

Meu beijo minou sua resistência, acabou com seu autocontrole e ele foi me virando de bruços e montando em cima de mim. Fiquei preso sob o peso do corpão dele, o cacetão havia se imiscuído no meu rego e, com os movimentos que ele fazia, eu o sentia deslizando no fundo dele, roçando meu cuzinho. Guiando a pica com a mão, ele começou a forçá-la na minha fendinha estreita, cada tentativa fazia com que ela se distendesse, esticando as preguinhas além do suportável me fazendo sentir dor. Fiquei apavorado, e cada nova tentativa fica mais difícil, pois minha musculatura anal se contraía toda travando a entrada da fenda. O Todd forçou mais, senti como se meu cu estivesse se rasgando e gritei.

– Ai, ai Todd, está doendo, isso não vai dar certo! – gani, tentando escapar de debaixo dele.

– Respire, só respire! Vai dar certo sim, é só você respirar e relaxar. – afirmou ele, antes de começar a forçar novamente.

– Não, não, Todd, não vou aguentar, dói muito! – gritei, tentando fugir novamente.

Ele resolveu mudar de posição, me girou para que ficasse de frente para ele, se posicionou de pé na beira cama, abriu minhas pernas e as apoiou sobre os ombros. Guiou o caralhão para cima do meu cuzinho e voltou a forçar. A dor me levava a querer fechar as pernas e a travar o cu assim que a elasticidade das minhas pregas chegava ao limite do suportável. Umas cinco tentativas acabaram em gritos e eu implorando para ele parar. Sua mão espalmada sobre o meu peito sentia meu coração batendo disparado.

– Meu passarinho assustado, não precisa ter medo! – asseverou, ao notar toda a minha fragilidade. – Quando você se mostra assim tão frágil e delicado eu fico com mais vontade de te ter, de te fazer meu. Eu te quero mais do que tudo nessa vida, meu passarinho! – sussurrou ele, explodindo de tanto tesão.

– Não vai dar, Todd, eu não aguento, eu não aguento! – exclamei choroso, achando que meu sonho ia acabar incompleto.

– Vamos tentar outra posição! Só não fique tenso, tudo vai dar certo. Eu não vou te machucar, juro! – afirmou ele, voltando a me acariciar e a me beijar para me tranquilizar.

– Me desculpe, Todd! Eu não queria ser assim. – retruquei.

– Você é maravilhoso, lindo, doce, não tem que me pedir desculpas! É exatamente assim como você é que eu gosto, você é único e sou louco por você! Nós vamos conseguir, confie em mim. – eu sabia que ele estava certo, e queria que aquele medo irracional sumisse para eu poder me entregar a ele como ele merecia.

Ele se deitou de costas, me fez montar nele, sentando em cima do caralhão como tínhamos feito quando fiz a barba dele na banheira quando estava com o pé fraturado. Suas mãos deslizando pelo meu tronco e seus beijos alimentavam as minhas esperanças e o desejo dele. Enquanto me segurava pelas ancas, amassava minhas nádegas, ele enfiou um dedo no meu cuzinho. Assustado com aquela invasão travei involuntariamente os esfíncteres e prendi o dedo intruso no meu cuzinho.

– Está vendo, é isso que vai acontecer quando meter a minha rola no seu cuzinho. Não precisa ter medo! – garantiu ele, enquanto posicionava novamente a cabeçorra na porta do meu cuzinho. – Agora é você quem vai colocá-la para dentro, no seu ritmo, no quanto você aguentar. Me cavalgue e engole minha rola, engole, meu passarinho virgem! – ordenou ele.

Eu comecei a movimentar minha pelve para frente e para trás, o roçar a cabeçorra sobre meu cuzinho foi me deixando alucinado, eu comecei a me abrir, ela ia abrindo e distendendo as pregas, minha respiração se transformava num arfar e, de repente, com uma estocada abrupta do Todd, o caralhão entrou no meu cuzinho. Eu gritei ao sentir minha carne se rasgando toda, ele me segurou com força pelos quadris e não me deixou levantar.

– Isso, você é tão apertado, Edu! Vai engolindo minha pica, vai, devagarinho, você consegue! – gemia ele satisfeito, me encorajando.

Fiquei imaginando como se engole algo pelo cu, e tinha quase certo que sua única capacidade era expelir, mas descobri que ele podia muito mais. À medida que eu me movimentava como se estivesse montado numa sela, relaxava os esfíncteres e sugava aquele caralhão imenso para dentro do meu rabo sentindo a dor e o prazer se consumando numa harmonia única. Quando o Todd dava uma estocada eu gania ou, dependendo da intensidade, gritava e ele logo vinha me abraçar, até aquele caralhão todo estar vibrando dentro de mim. Eu estava exausto, quando terminei de engolir o cacetão, e só queria sentir os beijos dele me recompensando pelo esforço.

– Viu como tudo deu certo! Você agora é meu, Edu! Como eu sempre quis, todinho meu. – ronronou ele, erguendo os quadris para dar cadência ao vaivém com o qual ele me fodia.

Eu me agarrava a ele, na solidez de seus ombros e bíceps, sentindo aquele entra e sai no meu cuzinho. Não podia haver nada mais sublime, nada mais maravilhoso, e aquele prazer todo me fez gozar. Eu gemia enquanto ejaculava e ele me apertava com mais intensidade em seus braços. O prazer me fazia cavalgar mais energicamente, as estocadas me atingiam profundamente as entranhas e a dor ia sendo sublimada em favor do prazer. Aos poucos, o Todd foi nos virando, abraçados e aos beijos, até ele voltar a ficar por cima de mim, encaixado entre as minhas pernas, estocando o caralhão no meu cuzinho enquanto eu gania. Senti-o se enrijecendo, seus músculos se contraindo, sua pelve se retesando, seus impulsos se tornando curtos, o clímax brilhando em seu olhar que penetrava fundo o meu, um urro gutural escapando de sua boca quando se despejou todo dentro de mim. Dava para sentir os jatos quentes que esperma abrandando a ardência da minha mucosa anal esfolada, num prazer que parecia não ter fim. O Todd largou todo o peso de seu corpo sobre mim, eu o envolvi em meus braços e acariciei suas costas, enquanto o caralhão ia amolecendo lentamente no meu cuzinho. Lembrei-me das palavras dele quando falou que me queria em seus braços fazendo parte de si mesmo, pois era exatamente isso que senti naquele momento. Com o cacetão engatado no meu cu ele fazia parte do meu corpo, éramos um único ser, pois até nossas respirações se devam em consonância. O tempo que havia deixado de existir durante todo o coito, começou a se fazer presente lentamente enquanto continuávamos ali abraçados, nossos corpos unidos. Só aí, afagando suavemente a nuca dele, me dei conta de que todo meu planejamento para aquela transa tinha sido em vão. Ninguém se lembrou de regras, do que fazer ou não fazer, eu não precisei de nada daquilo que Mr. Google havia me dado em resposta às minhas dúvidas, o nosso entrosamento foi se dando naturalmente, sem necessidade de uma receita, sem uma camisinha que tanto trabalho me dera para escolher. Tínhamos sido o Todd e eu a encontrar e trilhar o nosso caminho, que foi único e me levou a deixar de ser virgem da maneira mais magnífica possível.

– Acabei te machucando! – observou ele quando notou meu cuzinho sangrando. Fiquei um pouco desconcertado. Não são apenas a garotas que sangram na primeira transa quando seu hímen se rompe? Ele percebeu meu embaraço e sorriu. – Não vou negar que me sinto muito mais homem vendo seu cuzinho sangrar. Pode parecer egoísta de minha parte, mas ver a confirmação de que arrombei seu cu é uma satisfação ímpar! – afirmou ele.

– Foi a coisa mais maravilhosa que já senti, Todd! – asseverei tímido.

Ainda estávamos engatados quando amanheceu e a claridade invadiu o quarto, deitados abraçados em conchinha. Ele acordou primeiro e, além da costumeira ereção matinal, ele sentiu que ela estava envolta pela maciez estreita dos meus esfíncteres. Acordei com os beijos dele no meu ombro e pescoço, para só então sentir que ele continuava dentro de mim.

– É assim que pretendo acordar todos os dias pelo resto da minha vida. – ronronou ele, ao notar que eu havia despertado.

– Eu vou adorar! – exclamei sonolento, ao mesmo tempo em que sentia um primeiro impulso que aprofundou o caralhão dele no meu cuzinho. Apesar da agrura, eu o acolhi e acabou rolando uma transa gostosa, sem nenhuma pressa, até eu acabar todo esporrado.

Não me lembrava de outro dia que tivesse começado tão bem. O Todd me completava de alguma maneira, e essa sensação era nova para mim e muito prazerosa. Estava feliz, muito feliz. E, pelo que pude perceber, ele também. A impressão que eu tinha, era a de que ele havia se encontrado consigo mesmo, com seus anseios e desejos.

De uma maneira ou de outra, demos um jeito de nos encontrar regularmente para transar. Chegou a ser divertido e engraçado driblarmos pessoas e situações para levar à cabo aqueles encontros fortuitos que tanto prazer nos davam. A maioria deles aconteceu no meu quarto, uma vez que a minha família, já sabendo que sou gay, não fazia restrições ao Todd vir dormir frequentemente em casa. Os que aconteceram na casa dele, sempre se deram quando os pais dele estavam ausentes e; raramente, também seguíamos para um platô famoso entre as montanhas nos arredores da cidade, para onde se dirigia a moçada que queria namorar e transar enquanto curtiam a bela vista de um céu esplendorosamente estrelado e as luzes da cidade algumas centenas de metros abaixo. Tudo ia tão bem que achávamos que nada nem ninguém podia estragar aquele amor que crescia a cada encontro. Pelo menos, era assim que eu pensava. Porém, logo vim a descobrir que o destino e a vida podem ser muito cruéis com uma paixão como a nossa.

Eu havia sido convidado para o almoço de domingo na casa do Todd, como em inúmeras vezes anteriores. Subitamente, no meio da conversa à mesa, o pai dele começou a falar de namoradas, citando a Lisa como uma moça interessante e, em cujo namorico do Todd com ela, eles faziam muito gosto. Eu me limitava a ouvi-lo sem emitir nenhuma opinião, uma vez que conhecia a fama de piranha dela e, definitivamente, não ia com a cara dela.

– Você também tem uma namorada no colégio, Edu? – certamente todos aqueles comentários anteriores tinham sido apenas o preâmbulo para essa pergunta que o pai dele me fez.

– Não, não tenho! – respondi

– Nas vezes em que levei o Todd ao colégio, pude observar que vocês são privilegiados nesse aspecto, há muitas garotas bonitas por lá. Já se interessou por alguma delas, Edu?

– Não, ainda não! – eu começava a me sentir desconfortável com o rumo que aquilo estava tomando.

– Mas, já se encantou por alguma garota alguma vez, não é? Quem sabe até deixou uma no Brasil, de coração partido. – continuou ele, fechando o cerco cada vez mais, como se fosse uma corda me estrangulando o pescoço.

– Também não! – devolvi sincero.

– Você é tão popular no colégio, Todd, está na hora de você dar uma força para o seu amigo e apresentar uma dessas garotas que vivem ligando para cá atrás de você. – o Todd apenas me lançou um olhar constrangido e tentou mudar de conversa.

– Na semana que vem vai haver uma quermesse na igreja, venha conosco Edu, lá também é um ótimo lugar para conhecer uma boa moça de família, tenho certeza que você vai ter trabalho em se decidir pela mais bonita. Então está combinado, domingo que vem você vem conosco à igreja, ok! – a insistência dele estava me irritando, e resolvi por um ponto final naquele assunto, revelando a verdade. Até por que, mais cedo ou mais tarde, à medida que o Todd e eu fossemos nos envolvendo cada vez mais, eles teriam que saber.

– Eu sou gay, senhor Riggs! Meus interesses não recaem sobre as garotas. – afirmei sincero, expondo minha condição. Os minutos seguintes foram de um silêncio quase torturante. A maneira como todos se entreolharam me fez perceber que tinha acabado de cometer um grande erro, para não dizer, o maior sacrilégio que um pecador podia cometer diante de católicos fervorosos.

O que era para ser uma tarde de domingo comum, como tantas outras que o Todd e eu tivemos, se resumiu a pouco mais de uma hora depois de findo o almoço familiar. Ele passou a falar pouco, me dava respostas curtas e evasivas e, por fim, deu a desculpa de que ia à casa de uns tios com o restante da família, o que só reforçou a tese de que eu havia cometido um erro imperdoável ao ser sincero.

– O que foi aquilo ontem, Edu? Você ficou louco? Por que foi dizer aos meus pais que é gay? Cara, você perdeu o juízo, só pode ter sido isso. – afirmou o Todd na segunda-feira assim que nos encontramos no colégio.

– O que você esperava, que eu mentisse para o seu pai? Que inventasse estórias que um dia ele descobriria serem pura enganação? Eu fui ensinado desde criança a não mentir, a não enganar as pessoas, não fazê-las de trouxas. Por isso não menti para o seu pai quando ele começou a me encurralar com aquela conversa toda. Ele já desconfiava da minha masculinidade, não se engane, por isso todas aquelas perguntas. – respondi.

– Você complicou tudo para nós, será que não percebe? – revidou ele, transtornado.

– Não penso assim, eu acho que pus tudo em pratos limpos! Eu gosto da sua família, não quero entrar para ela pela porta dos fundos, mentindo e enganando.

– O que vai ser de nós de agora em diante? Você já pensou nisso? – questionou-me ele.

– Nós vamos continuar nos amando, uma hora eles vão perceber como nos amamos e vão aprender a lidar com a situação. – respondi.

– Você não vive nesse mundo, só pode ser isso! Eles nunca vão aceitar que eu me envolva com um gay, enfia isso na sua cabeça oca!

– Bem, então não sei o que pensar! – devolvi

– Você devia ter pensado antes de abrir a sua boca, isso sim! – ele estava zangado e ficou de cara amarrada o dia todo. Também se recusou a fazer as tarefas escolares na minha casa e fugiu do meu beijo quando fui me despedir dele, o que me deixou arrasado.

Ele me ligou tarde da noite, disse que me amava e que agora se via entre a cruz e a espada. Desculpou-se pelo que tinha me dito naquela manhã e afiançou que estava muito apaixonado por mim.

Cerca de uma semana depois do fatídico almoço, fui à casa dele para darmos uma volta de bicicleta, uma vez que fazia uma tarde fria, mas linda de outono e, algumas trilhas estavam com as folhas multicoloridas das árvores produzindo um espetáculo de cenários com a luz fraca do sol atravessando suas copas.

– Vamos sair daqui! Preciso conversar com você. – disse o Todd, ao vir me atender na varanda da casa dele.

– Deixe-me ao menos cumprimentar seus pais, antes de seguirmos para o passeio. – pedi, antes de ele se postar a minha frente e bloquear minha entrada na casa.

– Não! Meus pais não querem que eu continue a me encontrar com você! Esse é o resultado de você não ter ficado de boca fechada! – afirmou ele.

– Como assim, eles viviam me fazendo elogios?

– Tudo mudou depois de você afirmar que é gay. Eles temem que sua influência possa perturbar a cabeça dos meus irmãos menores. Você já não é mais bem-vindo nessa casa, Edu. Eles deixaram isso bem claro. – revelou ele. Tive vontade chorar, montei na bicicleta e saí pedalando feito um louco engolindo aquele nó que sufocava a minha garganta. Nem os berros do Todd me chamando e me mandando esperar eu conseguia assimilar.

Ele apareceu à noite lá em casa, enquanto estávamos jantando. Meus pais o acolheram com o mesmo carinho de sempre, até por que não estavam sabendo de nada. Ele ficou me estudando com o olhar, sorria economicamente, tenso e sem saber como eu ia reagir diante daquela vontade louca que sentia de me abraçar e dizer que nada tinha mudado entre a gente.

– Posso dormir aqui esta noite? – o pedido dele foi tímido e ele já esperava por uma negativa.

– Pode, claro! – respondi, o que o fez sorrir

– Mandei a Lisa às favas! Já não estava mais suportando esse teatrinho! – revelou ele, tão logo ficamos a sós. – Não gosto de te ver tão triste! Esqueça os meus pais, esqueça o que disseram, eu não penso como eles. – asseverou ele, quando entrou comigo na cama e me envolveu em seus braços. Eu queria poder acreditar nas palavras dele, mas já não era tão fácil quanto antes. Fizemos amor e, enquanto o cacetão dele encolhia atolado no meu cuzinho esporrado, eu me perguntei por quanto tempo ainda eu o teria tão próximo de mim.

Toda a galera do colégio notou que o Todd e eu estávamos mais próximos um do outro do que antes de ele me desvirginar, e os comentários não tardaram a surgir. A maioria era de despeito e crueldade, quesito no qual o Austin se esmerou para expressar sua revolta por ter perdido o amigo de turma para mim, pois o Todd raramente se juntava a eles, exceto nas partidas de rugby.

– A quantas anda o seu namoro com o Todd, agora que ele conseguiu o que queria com você? – perguntou-me o Cooper, numa tarde em que eu estava novamente fazendo o meio de campo entre ele a Nancy, para se reconciliarem depois daquela briga sem sentido que tiveram.

– Não sei se posso chamar de namoro o que está rolando entre a gente. Tem tanta coisa lutando contra que eu já não sei de mais nada. – respondi

– Vocês também brigaram?

– Não, pior que não!

– Pior? O que você quer dizer com isso?

– Que se ele tivesse brigado comigo, eu ao menos saberia o que ele pensa sobre nós dois. – esclareci.

Logo depois, a Nancy se juntou a nós, eles fizeram as pazes, e eu tinha ganho o meu dia juntando novamente aquelas duas criaturas de que tanto gostava.

– Você até pode me mandar mudar o disco, mas vou repetir mais uma vez, cuidado Edu. Cuidado com o Todd, ele ainda vai te machucar muito. – a segurança com a qual a Nancy proferia essas palavras me assustava.

Havia surgido um novo bar na cidade que, além das bebidas, trazia música ao vivo, disponibilizava alguns jogos e tinha virado o point onde a galera se reunia nas noites pouco badaladas de Laramie. O Todd e eu fomos conhecê-lo, combinamos de encontrar outros amigos por lá e, no início da madrugada, ele me levou até o platô, pois fazia uma noite linda de céu limpo. Nem percebemos que havíamos sido seguidos pela gangue do Austin, que nos viu juntos no bar. O Todd estava me dando uns amassos no carro, o caralhão dele só pensava em sair da calça a cada beijo tórrido que trocávamos. Eu estava excitado, cuzinho piscando de desejo e tesão, mamilos enrijecidos e sensíveis que me faziam gemer a cada toque da mão cobiçosa dele. Abri o zíper do jeans dele e enfiei minha mão lá dentro para tirar o cacetão e dar umas chupadas antes de senti-lo entrar no meu rabo. Me atrapalhei um pouco na tentativa de tirar aquele monstro de dentro do jeans apertado, o que foi providencial, pois o Austin e mais três carinhas cercaram o carro e nos flagraram no amasso. O Todd fechou o zíper na hora e desceu do carro.

– Você nos trocou mesmo por essa bichinha, não é? Nem te reconheço mais, Todd! Qual é a sua? – questionou o Austin. O Todd o mandou embora, dizendo que não tinha que dar explicação alguma.

– E você seu viadinho, está aqui querendo levar pica no cu? Olha em quantos somos para satisfazer o seu desejo! Pode começar me fazendo um boquete! – provocou o Austin se voltando para mim.

– Vá a merda, Austin! Você não pega nem fechadura quanto mais alguém de carne e osso! – revidei

– Então pega aqui na minha rola e eu vou te mostrar o que é que eu pego, sua putinha! – ameaçou ele.

– Chega! Vamos parar! – ordenou o Todd

– A galera vai gostar de saber que você e esse viadinho estão fodendo! Eu pensava que a gente era amigo, Todd, mas você preferiu essa bicha. – sentenciou o Austin. – Em nome de nossa velha amizade, vamos ao menos compartilhar a bundinha desse viado. Ele vai gostar de sentir quatro machos enrabando o cu dele. – continuou.

– Seu escroto de merda! Você só andava com o Todd por que era ele quem atraia as garotas, pois você não atrai nem as putas, seu desgraçado. – berrei na direção do Austin.

– Vou quebrar a sua cara, sua bichinha! – ameaçou

– Como? Do mesmo jeito que fez lá na escola, quando esmurrei essa sua cara de babaca? – questionei. Ele veio furioso para cima de mim e começamos e nos socar.

Eu estava com tanta raiva que meus socos o atingiam com muito mais força que os dele me atingiam e, em minutos, ele estava caído no chão e eu socando a cara dele com o ódio fervendo dentro de mim. Os capangas o acudiram e me tiraram de cima dele. Humilhado e com a boca sangrando, ele jurou se vingar de nós dois. Depois, voltou a me agredir, com socos e pontapés, pois não queria ficar com a fama de ter perdido mais uma vez uma briga para um gay. O Todd precisou intervir e o tirou de cima de mim, dando umas porradas nele até fazer com que se desse por vencido.

– Se você encostar a mão nele mais uma vez, eu te arrebento, Austin! Juro que te arrebento, cara! – ameaçou o Todd, ante o olhar atemorizado dos comparsas dele. – Você não vai abrir a sua boca, está entendo? Se isso aqui vazar, é comigo que você vai acertar as contas.

O Austin e os comparsas entraram no carro e foram embora. Eu tentava conter o sangue que saia do meu nariz enquanto procurava entender o que tinha sido tudo aquilo.

– Está contente agora? – berrou o Todd comigo. – Amanhã o colégio todo vai saber da gente! Era isso que você queria, nos expor? – continuava ele, furioso.

– É esse o seu medo, que todos saibam que a gente se ama? – questionei atordoado.

– Nós vamos virar alvo de piadas, vão nos infernizar, é isso que você quer? – continuava ele, andando de um lado para o outro, enquanto passava a mão pelos cabelos.

– Eu não me importo com o que meia dúzia de babacas fala, Todd! Eu me importo com o que sinto por você, eu me importo com o nosso amor, nada mais! – devolvi, indo ao encontro dele, para afagar o semblante contraído dele, o que ele não permitiu, me rechaçando.

– Chega, Edu! Chega! Para mim deu! Eu não posso viver assim! Acabou! Acabou, entendeu! – berrou ele.

– O que você quer dizer com isso? – perguntei sentindo um pavor dentro do peito.

– O que você ouviu! Acabou! Nós, essa porra toda, isso não vai continuar! Acabou! – ele me deixou em casa e não nos falamos mais.

Por algumas semanas ainda nutri esperanças de ele voltar atrás e reconsiderar sua posição, mas isso não aconteceu, e eu devia ter previsto isso por que o Todd sabia ser bem teimoso e turrão. De tão tolo e inexperiente nesses assuntos de paixão e amor, eu me vi chorando no isolamento do meu quarto nas primeiras noites. Contudo, eu não fazia o gênero melodramático, e logo resolvi deixar tudo para trás. Doeu, é verdade, mas eu consegui. Vez ou outra tinha uma recaída, pois era impossível não nos encontrarmos, estudando na mesma classe. O Todd pareceu ter adotado a mesma conduta e, a recaída dele, se deu refazendo a amizade com o Austin, que nunca mais mexeu comigo.

O destino muitas vezes consegue ser bem irônico. Uns dois três meses depois da minha discussão com o Todd eu vim a conhecer o irmão mais velho da Lisa, no bar que continuei frequentando com a Nancy, o Cooper e uma galera com a qual passei a sair. O Troy havia concluído a faculdade há pouco menos de um ano na Europa e voltou para Laramie para trabalhar num negócio da família.

– Não é por nada não, mas eu acho que você acaba de ganhar um novo admirador! – afirmou um colega que estava comigo e com a Nancy e o Cooper, numa sexta à noite. – Você conhece aquele cara, naquela rodinha perto do balcão?

– Não, nunca o vi. Deve ser novo por aqui. – respondi

– Claro que viu! Foi pouco depois de você se mudar para cá, ele é irmão da Lisa, você não deve se lembrar por que ele estava estudando em Londres, e só o viu uma vez. – disse a Nancy

– Não me lembro!

– Mas, algo me diz que ele se lembra bem de você, não para de ficar olhando para cá! – disse o Cooper.

– Se a irmã fosse um décimo dele já dava para suportá-la! Ele é muito fofo, sem mencionar que é um pedaço de mau caminho. – sentenciou a Nancy, no que levou uma encarada e um beliscão do Cooper. – Ai! Não dá para negar, bonito e gostoso ele é. Não adianta ficar com ciúmes, seu bobão! – continuou ela.

– Acho que ele criou coragem, está vindo para cá! – disse meu amigo, quando o viu se aproximando.

– Oi! – cumprimentou, olhando especificamente para mim.

– Oi! – respondemos em conjunto.

– Lembra do Edu, Troy? O garoto que veio do Brasil? – perguntou a safada da Nancy, para me colocar na berlinda.

– Claro que lembro! Assim que vocês chegaram eu o reconheci. Tudo bem? Já se ambientou por aqui? – perguntou-me ele, enquanto eu via os risinhos disfarçados nas caras dos demais.

– Tudo! Já sim, já me acostumei. – respondi, ficando tímido com aquele olhar penetrante pousado sobre mim.

– Você está na mesma turma que a minha irmã, pelo que eu sei. – fiquei me perguntando quem o estava abastecendo com essas informações.

– É estou! Todos aqui estamos.

– A Nancy eu sei que não morre de amores pela minha irmã, você é do mesmo time? – questionou ele.

– Você quer uma resposta sincera, ou uma para te deixar feliz? – devolvi. Ele riu.

– Você é bem espirituoso, gostei! A Lisa não é fácil, tenho que admitir. Não sei a quem puxou, pois só ela é a destrambelhada lá em casa. – respondeu ele

– Destrambelhada é pouco! Não sou só eu quem diz isso, pode perguntar para a turma toda, sua irmã não goza de muita simpatia entre a galera. – afirmei.

– É estou sabendo! Mas, não foi dela que vim falar com você. – de repente, vi que estava sozinho com ele, e saquei que tinham me deixado na boca do lobo.

– Comigo?

– Você está saindo com alguém, quero dizer, sem ser a Nancy e o namorado?

– Não! Por que?

– Não, nada! Legal! – ele se atrapalhou um pouco com a minha pergunta. – E o namorado, não veio, ficou em casa? – continuou assim que se recuperou da minha espontaneidade.

– Não tenho namorado!

– É que me disseram que você estava com um ex da minha irmã. – revelou ele

– Te deram uma informação errada! Não tenho mais nada com o Todd! – devolvi

– Legal! Bom saber! – senti um calor se espalhando pelo meu corpo quando vi o sorriso franco e espontâneo dele com a minha resposta. – Isso significa que se eu te convidar para sair uma hora dessas a chance de você aceitar é grande, estou certo?

– Muito provavelmente! – ele tornou a rir.

– Esse ‘muito provavelmente’ pode ser amanhã? – ele era direto e, concordando plenamente com a Nancy, era bonitão e charmoso.

Trocamos telefones, e ficamos de nos encontrar no dia seguinte. Aquele convite foi uma espécie de injeção de ânimo no meu moral que andava baixo desde que terminei com o Todd. O Troy sabia que eu era gay e, mesmo assim, não deixou de flertar comigo e me convidar. Não só por ser uns cinco ou seis anos mais velho do que eu, ele era mais maduro do que o Todd, e aparentemente não se importava com a opinião dos outros em relação às suas escolhas. Aos vinte cinco anos ele tinha corpo e cabeça de homem, e isso me encantou. Começamos a sair, e a notícia se espalhou pelo colégio como rastilho de pólvora até cair nos ouvidos do Todd.

– Preciso ter uma conversa com você! – disse ele, numa noite em que me ligou já bastante tarde e com a voz pesada de quem tinha bebido demais.

– Você me disse que não temos mais nada a conversar! Que acabou, lembra disso? Então vamos manter as coisas como estão! Boa noite Todd! – eu desliguei na cara dele, pois suspeitava do tipo de conversa que ele queria ter comigo.

Meu pai e eu estávamos fazendo compras no supermercado quando a mãe do Todd e um dos irmãos dele cruzaram conosco no corredor. Passei por ela sem cumprimentar, mas ela travou a passagem colocando o carrinho de compras na frente.

– Olá Edu? Como vai? – começou ela. Continuei calado, apenas esbocei um sorriso em resposta. – Podemos conversar um pouco?

– Não temos nada a conversar! Acho que a senhora e seu marido já disseram tudo que tinham para dizer. – respondi ríspido

– Edu, que modos são esses? – perguntou meu pai, não acostumado a me ver tratando as pessoas com desrespeito.

– Eu queria falar sobre o Todd, pode me ouvir, prometo não te aborrecer. – pediu ela.

– Não tenho mais nada com o Todd! Você e seu marido conseguiram acabar com o amor que sentíamos um pelo outro, a senhora devia estar feliz com isso! Não era o que queriam? Pois conseguiram! – retruquei ainda mais ríspido.

– Chega Edu! Não vou permitir que você seja tão grosseiro! – advertiu meu pai.

– Não tem importância, seu filho está certo, não fomos nem um pouco compreensivos em relação ao que meu filho e ele sentiam um pelo outro. – afirmou ela. – Mas, eu estou arrependida, Edu, pode ter certeza. Eu estou muito arrependida, de verdade. O Todd era outro quando estava com você, era o filho que sempre desejamos, respeitoso, carinhoso, sempre presente e cheio de alegria dentro de casa. Quando vocês terminaram ele mudou. Agora ele mal para em casa, por duas vezes o pai precisou buscá-lo na delegacia; uma por ter roubado um carro com aquele famigerado do Austin, um rapaz de péssima reputação e influência; e outra, por ter sido pego numa briga de gangues, portando algumas gramas de cocaína no bolso. Eu não o reconheço mais, ele está agressivo, não fala conosco, nunca sabemos por onde e com quem ele anda. Seria tão bom se você o procurasse, que voltassem a ser amigos. Sei que é muito te pedir uma coisa dessas depois de tudo, mas se você ainda sente alguma coisa por ele, por favor, vá procurá-lo. – a voz dela começou a embargar e, quando a vi chorar, me comovi.

– Já não importa o que eu sinto por ele, senhora Riggs! O Todd me disse com todas as letras que acabou, ele me dispensou, disse não ao nosso amor. Se não fossem vocês a impedir que essa paixão floresça, sempre haveria alguém contra nós, e o Todd não consegue lidar com isso. Ele não consegue aceitar que se apaixonou por um gay, tem vergonha disso. Foi mais fácil para ele terminar comigo. Eu estou seguindo em frente, e espero sinceramente que ele faça o mesmo e encontre a felicidade, pois tudo o que me importa é que ele seja feliz. Adeus senhora Riggs! – precisei sair dali, pois parecia que meu peito ia arrebentar.

– Nos perdoe, Edu! Me desculpe, me desculpe! Você sempre será bem-vindo em nossa casa à hora que quiser, não se esqueça disso, filho! – ouvi-a dizer às minhas costas.

No carro eu desabei. Meu pai me abraçou e eu chorei no ombro dele.

– Então foi por isso que o Todd desapareceu lá de casa. Por que não nos contou, filhão? – perguntou meu pai, vindo a descobrir o motivo da nossa separação.

– Eu não quis aborrecer vocês com as minhas besteiras, pai!

– Sua vida e o que acontece com ela não é nenhuma besteira, filhão! Nós te amamos e ficamos preocupados com a sua felicidade. Você devia ter compartilhado sua dor conosco, só queremos te ajudar.

– Eu sei, pai! Eu sei! Eu amo aquele idiota, pai! O pior é que eu ainda amo aquele idiota! – afirmei, procurando abrigo e segurança naqueles braços que nunca me negaram amor e compreensão.

Eu já sabia dos problemas que o Todd vinha causando, o colégio todo sabia, mas me senti impotente para fazer alguma coisa; afinal a vida era dele, as decisões e consequências também.

O Troy foi se mostrando um cara muito legal. Não escondia o quanto estava gostando de mim e que queria me levar para a cama. Quase me deixei enredar por suas palavras sedutoras, pelo corpão viril, pelos beijos acalorados que trocávamos, mas não conseguia me entregar para ele por inteiro, mesmo sem ter mais nenhuma esperança de reatar com o Todd.

No final do ano letivo, recebi a resposta de duas universidades para as quais tinha me candidatado, ambas longe de casa. Eu estava ciente de que aquelas opções eram uma fuga, mas eu precisava de um tempo longe de tudo, para ver se valia à pena ou não me envolver numa relação homossexual e sonhar com uma vida juntos com outro homem. Minha escolha recaiu sobre a Universidade da Califórnia, em Berkeley. Talvez um saudosismo brasileiro me levou a escolhê-la, pois a Califórnia é um Estado quente, de praias e com uma galera jovem circulando pelas ruas. Me mudei logo após o baile de formatura do colégio, antes mesmo do inverno rigoroso do Wyoming dar as caras. O Cooper e a Nancy seguiram para Pensilvânia, ambos ingressaram na Wharton School para cursar administração. Antes de partir, ainda perguntei a eles se sabiam se o Todd tinha entrado nalguma faculdade, mas as notícias sobre ele haviam rareado depois que ele se envolveu com as trapaças do Austin e ninguém soube me dar uma resposta, embora a maioria acreditasse que ele não ia cursar nenhuma faculdade.

Foram cinco anos longe de casa, os quatro da faculdade de bioengenharia que cursei em Berkeley, mais um ano de estágio numa Startup que um dos meus professores havia criado e para a qual me convidou a participar. Meus pais tinham ido me visitar duas vezes nesse período, não sei se apenas pela saudade, ou se para confirmar que eu estava bem, ou até de namorado novo. Não encontraram nenhuma novidade, o filhão ajuizado deles tinha se dedicado tão somente aos estudos e ao início de carreira, a vida pessoal a amorosa tinha ficado em banho-maria, apesar dos assédios constantes. Não era todo dia que se podia deparar com um garotão bronzeado de mais de 180cm de altura, com umas coxas grossas e lisas de fechar o comércio e uma bunda carnuda como a minha patinando de short pelas alamedas da universidade e pelos calçadões à beira da Baía de São Francisco.

Por indicação do mesmo professor com o qual estagiei, consegui uma indicação para um emprego em Boston, mais uma grande mudança no rumo da minha vida. Eu tinha ido passar o Natal e final de ano com a minha família, só precisava estar em Boston na segunda quinzena de janeiro. Aqueles cinco anos distante de Laramie me fizeram ver que eu não pertencia aquele lugar, aliás, eu já vinha me perguntando há algum tempo, se eu realmente pertencia a algum lugar, ou se seria um eterno errante. Ficava deprimido quando esses pensamentos me assolavam. Minha família sempre tinha sido meu porto seguro, e ela parecia ficar cada vez mais distante.

O voo estava novamente atrasado, seis horas para ser mais exato, depois de o do dia anterior ter sido cancelado devido a nevasca que cobriu Laramie com mais de sessenta e cinco centímetros de neve. O saguão do aeroporto regional de Laramie estava lotado, muitos passageiros haviam pernoitado no saguão e o acúmulo de pessoas e bagagens só crescia. Quando o painel exibiu a partida do meu voo para o Aeroporto de Denver no Colorado, onde faria a conexão para seguir até Boston, respirei aliviado. Se o voo não fosse partir naquele dia, eu chegaria atrasado logo no meu primeiro dia de trabalho na nova empresa. Durante o check-in no balcão da companhia, houve discussões e brigas, mas consegui sair ileso e seguir para o embarque. Todos os 76 assentos do CRJ900 Bombardier da SkyWest Airlines que operava a rota regional estavam ocupados, e a impaciência e o cansaço dos passageiros exauridos pela longa espera fizeram do embarque um verdadeiro caos. Praticamente fui lançado no assento 6A da Classe Comfort pelas pessoas que se espremiam pelo corredor. A neve tinha voltado a cair, os flocos ainda pequenos e leves, flutuavam diante da janela, e meus pensamentos já estavam em Boston, no pequeno apartamento que a empresa havia alugado temporariamente para eu me instalar. Eu tinha cada uma das imagens das fotografias que me enviaram na cabeça, e não pude deixar de me sentir feliz por ter um cantinho só meu, mesmo que provisoriamente.

– Desculpe, senhor! Acho que está sentado na minha poltrona. – um arrepio percorreu meu corpo quando ouvi aquela voz. Ela já havia entrado em meus ouvidos centenas de vezes, com aquela mesma entonação firme e grave. Antes mesmo de me virar na direção dela, eu sabia a quem pertencia.

– Todd? – ele levou um susto quando se deparou comigo.

– Edu! – balbuciou ele. Parecia não acreditar no que seus olhos estavam vendo, – Edu, é você! – exclamou, antes de um sorriso se abrir em seu rosto. Os passageiros na fila reclamaram e ele se sentou apressadamente na poltrona ao lado.

– Me desculpe, não me ative ao número da minha poltrona! Vamos trocar assim que todos se acomodarem. – retruquei, pois não encontrava outra coisa para dizer.

– Esqueça, fique onde está! Não sabia que você tinha voltado a Laramie. Para onde está indo? – perguntou ele, visivelmente feliz por me rever.

– Boston! Vou começar um trabalho novo por lá. E você? – minha voz falhava, meu coração estava disparado, eu tive vontade chorar diante daquele rosto lindo que tinha tanto significado para mim.

– Só pode ser brincadeira! Eu trabalho em Boston há um ano, vim apenas visitar minha família. – respondeu ele.

Ficamos em silêncio, as orientações de segurança estavam sendo apresentadas e o comandante anunciara a decolagem. O cheiro de Todd chegou as minhas narinas, a primeira lágrima desceu pelo rosto, e eu voltei a olhar a neve caindo lá fora para disfarçar. Com as turbinas na máxima potência, o Bombardier se desprendeu do solo e alçou voo. Nossas mãos apoiadas sobre a divisória entre as poltronas se tocaram num roçar sutil e cauteloso. Nenhum dos dois se retraiu. Aos poucos e suavemente, os dedos dele foram cobrindo os meus, o calor que comecei a sentir contrastava com a paisagem gelada do lado de fora da janela. Mais lágrimas rolavam pelo meu rosto e não me preocupei em secá-las. Quando o avião chegou à altitude de voo e se estabilizou, nossos dedos estavam entrelaçados, mas eu ainda não tinha a coragem de virar o rosto na direção do Todd.

– Me perdoe! – exclamou ele, apertando minha mão com mais força.

Eu me virei para ele e esbocei um sorriso débil. Percebendo que eu chorava em silêncio, ele repetiu – Me perdoe, Edu! – com a voz embargada. Não consegui responder, simplesmente deitei minha cabeça no ombro dele. Foi o bastante para ele saber que o perdoei e ainda o amava como no dia em que sentado no colo dele, fiz sua barba num jogo emblemático e sedutor.

Em dezembro daquele mesmo ano o Todd e eu voltamos para Laramie por duas semanas e nos casamos oficialmente, rodeados por nossas famílias e amigos. O Cooper e a Nancy foram meus padrinhos, e seguravam nos braços o pequeno Eduardo, que tinha nascido há pouco mais de um ano, quase às vésperas da formatura deles e, que tinha recebido esse nome em homenagem a mim por tê-los unido e do qual eu seria padrinho.

Por conta dos nossos empregos fizemos nossa vida em Boston. O começo de carreira nos deixava com pouco tempo livre para outras coisas, mas não para consolidar aquela união. O Todd havia voltado a ser aquele homem apaixonado por mim, com a diferença de que não escondia mais esse amor de ninguém. Ele me apresentava a quem quer que fosse com orgulho e afeto como seu marido. De alguma forma, o tempo em que ficamos afastados o amadureceu e o fez perceber que me assumir não o fazia menos homem; pelo contrário, estar ao meu lado fazia dele um macho mais viril. Se eventualmente surgia algum comentário quanto ao nosso relacionamento ele também não se deixava mais abalar, pois sabia que poucos heterossexuais tinham a capacidade que ele tinha de seguir seu coração e não as convenções sociais para ter uma vida plena e feliz.

Desde quando adquirimos nossa própria casa, ela ia se enchendo de um novo círculo de amigos que gostavam de compartilhar conosco a felicidade que vivíamos. A cada novo membro que se juntava ao grupo, já tinha se tornado corriqueira a pergunta – Como vocês se conheceram? – e o Todd, prontamente, se encarregava de respondê-la – Foi no dia em que ele fez a minha barba sentado no meu colo e deixando minha rola dura como uma rocha – a resposta costumava ser acompanhada de uma risada geral e compartilhada. E, toda vez que eu a ouço, se confirma a certeza de que ele me ama tanto quanto eu o amo porque é a mesma lembrança que eu guardo na minha mente e coração; a daquele dia, a do nosso primeiro beijo, sei até quando foi o momento exato em que me apaixonei por ele e, ao que parece, ele também sabe. Dois selinhos rápidos, bocas coladas com volúpia e intensidade, mordiscadas no meu lábio inferior, uma espécie de mantra que define nossa paixão.

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