O motorista de aplicativo tarado

Fim da balada, ao menos para mim, pois estava acontecendo algo de errado comigo desde que tomei aqueles dois goles do drinque que aquele parrudão tesudo insistiu para eu experimentar do próprio copo dele, sob o pretexto de eu sentir os lábios dele, uma vez que estava me recusando a fazê-lo através do obstinado beijo que ele estava forçando me dar. O Túlio e o Bernardo não gostaram nem um pouco quando sugeri que fossemos embora. O Túlio por conta da garota que ria feito uma cacatua toda vez que a mão dele deslizava sobre seu monte de Vênus, e o Bernardo por conta do garotão loiro de camiseta agarrada ao corpo que estava se fazendo de difícil e resistindo gloriosamente às cantadas dele. É bem verdade que o Túlio teria que liberar uma grana se quisesse comer aquela

xana, cuja abertura só acontecia mediante cachê, baixo, diga-se de passagem, porque a garota parecia não ser lá muito seletiva. Quanto ao Bernardo, eu não via futuro naquela paquera, uma vez que havia pelo menos outra meia dúzia de garanhões disputando a atenção do loirão, com aquela carinha de anjo jogando charme para todos os lados. Porém, apesar dos protestos, e talvez, porque estivessem cientes de que sairiam de mãos abanando de qualquer forma, ambos resolveram vir comigo.
– Tu é um estraga prazeres, Caio, puta merda que cara mais pé no saco! – praguejou o Túlio, quando sugeri deixarmos a balada.

– Pode crer! São só três e pouco da manhã, quem é que sai de uma balada numa hora dessas quando a coisa está bombando? Viado do cacete! Por que não liberou esse cuzinho encruado para o gatão cheio dos músculos? Ele está babando por esse rabão, e você fica regulando a rosca. Escreve o que estou dizendo, isso ainda vai criar teia de aranha de tão inflexível que você é. Dá logo esse cu! – despejou o Bernardo.
– Isso, joguem suas frustrações em cima de mim. Nenhum dos dois conseguiu porra nenhuma até agora e, pelo andar da carruagem, não vão conseguir nem que passem o mês todo aqui tentando. Fiquem se quiserem, eu estou indo. – revidei, com algo dentro da cabeça rodopiando mais do que um carrossel.

– Puto do caralho! – foi a resposta simultânea dos dois.
Éramos amigos desde a infância, esses perrengues entre nós não eram nenhuma novidade para ninguém, mas no final das contas, continuávamos alimentando aquela amizade. Os dois já tinham tentado me descabaçar, desistiram, ou melhor, deram-se por vencidos diante da minha inabalável determinação de não liberar o cu para nenhum dos dois. Não que não fossem atraentes, mas não faziam meu tipo, que eu ainda estava por descobrir qual seria.
Será que eu tinha exagerado nos drinques? Pareceu-me que não. Contudo, a zonzeira que imperava na minha cabeça parecia querer dizer o contrário. Certamente não, foram aqueles dois goles do copo do parrudão tesudo, eu podia jurar. Eram eles os responsáveis por eu estar vendo aquelas abelhas se movendo na tela do celular quando abri o aplicativo de viagens e tentava solicitar um motorista para nos levar para casa. A ponta do meu dedo não acertava a tela no lugar certo de tão embaralhadas que estavam minhas ideias.

– É para hoje isso aí? Arranca a gente no melhor da festa para ficar ciscando feito galinha velha nessa porra de celular. – esbravejou o Túlio.
– Minha cabeça está girando! – exclamei
– Pudera, quaisquer goles depois do segundo e a virgenzinha aí já fica de pileque. Dá essa merda para cá que eu mesmo faço isso. – a voz do Bernardo também estava começando a soar estranha, como se fossem os acordes de um violino percorrendo dos graves aos agudos de uma partitura.
Nossas casas não distavam mais do que uns dois ou três quilômetros umas das outras, portanto, o Bernardo fixou o meu endereço como destino final da corrida, enquanto digitava duas paradas rápidas pelo caminho. Quando me devolveu o celular, eu olhei novamente para a tela onde um mapa da região continuava a mostrar as abelhinhas se movendo graciosamente, o que me fez rir.

– Cara, você está muito do esquisito! Isto é, ainda mais esquisito do que já costuma ser. – disse o Túlio. O rosto dele ora se espichava para as laterais, ora se espichava de cima para baixo, deformando-o de uma maneira muito engraçada. Precisei rir disso também.
– O cara pirou! Só pode ser. – sentenciou o Bernardo.
O parrudão tesudo e o amigo do qual estava acompanhado também estavam na porta da balada onde esperavam que o manobrista da empresa de Valet trouxesse o carro deles. Poucos metros nos separavam na calçada em frente a casa noturna, ele fazia beicinho com os lábios me mandando beijos, só que a cara dele também se movia como a do Túlio, de tão hilário que ele parecia, eu não parei de sorrir na direção dele.
– Vai duma vez dar o cu para o cara, em vez de ficar aí rindo feito uma hiena! – vociferou o Túlio.
Quando o motorista do aplicativo estacionou junto à calçada e o Bernardo e o Túlio se certificaram de que era o solicitado, eu me instalei no banco traseiro e encostei aquela cabeça que parecia estar pesando mais que o globo terrestre no encosto e abri o vidro, eu precisava de ar fresco ou ia sufocar.
Os dois continuaram a despejar sua raiva sobre mim, eram agora frases que eu precisava me esforçar para distinguir o que diziam. Ficavam evidentes apenas alguns trechos das reclamações dos dois, e eles estavam descascando o verbo a meu respeito. Afirmavam categoricamente que eu precisava começar a dar o cu para ficar menos mala, que devia ter dado um trato na pica do parrudão tarado, que ao invés de ter enchido a cara de álcool devia ter experimentado a porra dele, ao menos não estaria chumbado feito um pinguço a essas alturas. Eu queria revidar, mas minha língua pesava feito chumbo, deixando apenas balbucios desconexos escaparem da minha boca. O motorista, um parrudão que eu jurava ser o sósia do que passou a noite toda me cantando, seguia a rota traçada pelo GPS, a maioria do tempo calado. Algumas vezes ele esboçava um risinho contido quando os adjetivos com os quais o Túlio e o Bernardo me classificavam se tornavam cômicos. Fiquei puto com ele. Qual é a desse sujeito, tirando onda com a minha cara? Quem deu essa liberdade para esse picareta?
– Está rindo do quê? Qual é a tua, engraçadinho? – perguntei com a voz embaralhada, num esforço tremendo para conseguir articular as palavras. Ele continuou rindo, mas não disse nada.
– Não esquenta não! Nosso amigo aqui resolveu entornar todas hoje, só para fugir de um cara que estava a fim do rabão gostoso dele. – sentenciou o Bernardo. O motorista continuou calado, como se pouco lhe importasse um macho ter cantado um gay numa balada.
– Eu não bebi! Quer dizer, só um pouquinho! Foi o cara que colocou alguma porra naquele copo. – ainda havia laivos de lucidez no meu cérebro, eu precisava que eles acreditassem em mim.
– Claro, você não bebeu nada! Nadinha mesmo! Não contraria bêbado que é pior. – afirmou o Túlio, como se fosse o dono da verdade.
– Seu merda! Eu sei o que está tentando fazer, quer que o moço aqui pense que eu sou um viado depravado. Não sou não, viu moço? – revidei
– São só mais alguns quarteirões, quer que eu fique caso ele resolva dar trabalho? – perguntou o Bernardo ao motorista quando chegaram à casa dele.
– Não precisa não! Acho que ele está chapado demais para dar alteração. Pode ficar despreocupado. – respondeu o motorista.
– Comporte-se hein, Caio! Vê se não dá alteração e enche o saco do Marcos aí, ok? Amanhã a gente se fala, e pode esperar que vou te azucrinar o ouvido por ter acabado com a nossa noitada. Tchau, se cuida, viado! – foram as palavras de despedida do Bernardo ao chegar à porta de casa.
Embora estivesse gostando daquele repentino silêncio, comecei a ficar com medo do motorista. Àquela altura dos acontecimentos, eu podia jurar de pé junto que ele era o cara da balada. Um tipão sem dúvida, mas era o meu tipão? Não, eu não tinha nenhum tipão. Mas que ele era um tesão isso lá era, grandão, a cabeça quase resvalava o teto do carro, os ombros eram muito mais largos do que o encosto do banco, os braços estavam forrados de uns baita músculos, as coxas grossas mal cabiam na calça e, no meio delas tinha um volumão daqueles. E a cara então, quando virava para o meu lado para conferir se eu ainda não tinha desmaiado, tinha aquele par de olhos castanho claros me encarando, aquela boca esboçando uma risada disfarçada. E aqueles lábios então, estavam úmidos e fiquei louco para beijá-los. Mas, eu não podia, senão ele ia me foder, era essa a finalidade de todas aquelas cantadas que ele ficou me dando a noite toda. Ele queria o meu cuzinho, eu não ia dar nada para ele, tinha fechado essa questão e nada ia me demover dessa intenção.
– Pronto, está entregue! – disse ele, quando parou em frente de casa. – Consegue chegar até a porta sozinho?
– Claro que consigo! O que você pensa que eu sou, algum tipo de retardado? – devolvi, embolando as palavras
– Não, só um cachaceiro que pode se machucar antes de conseguir destrancar a porta. – ele estava tão certo do que dizia que fiquei puto.
– Cachaceiro é o teu cu! Eu estou bem, não está vendo? – mal eu tinha descido do carro e quase levei um tombo, não fosse ter me agarrado à porta do carro.
– Estou, estou vendo como você está ótimo! Deixa que eu te ajudo, não devia, seu boca suja, mas vai ser meu ato de caridade do dia. – disse ele, descendo e vindo ao meu amparo.
– Você é grandão e gostoso, mas eu não curto caras grandões! Foi por isso que não caí na sua lábia, tá entendendo? Viu como sou determinado, não adiantou nada você me dar aquele drinque batizado. – ele não estava entendendo metade do que eu dizia, só queria me colocar para dentro e seguir seu caminho.
– Onde está a chave da porta? – perguntou ele
– No meu bolso, tá no meu bolso, moço! – ele a procurou, enfiando a mão nos meus bolsos e tateando.
– Sabe que assim de pertinho você até que é um tesão! Tira a mão da minha bunda! Que liberdades são essas? Não é porque você tem esse peitão cheio de pelos que eu vou deixar você foder o meu cuzinho, até porque você é grandão demais e vai detonar ele. – há muito que já não era eu quem proferia as frases, mas algo dentro da minha cabeça sobre o qual eu não tinha o menor controle.
– O que te faz pensar que estou a fim do seu cuzinho?
– Ora, ficou me chavecando a noite toda! Para dizer que meus olhos verdes são lindos é que não foi. – respondi, me pendurando naquela fortaleza que me segurava em seus braços vigorosos.
– São lindos mesmo! Sabe qual dessas chaves é a da porta? – indagou ao encontrar o chaveiro no meu bolso.
– A maior, ela que abre tudo. As coisas grandes é que abrem tudo, sabia? Claro que você sabe! Você já deve ter aberto muita coisa, não foi? Conta para mim, juro que guardo segredo. – balbuciei
– Já, já abri muita coisa estreita e apertada, você precisava ver! – respondeu rindo ao destrancar a porta e abri-la. Só havia um abajur acesso no hall, o restante da casa estava imerso na escuridão e no silêncio. – Onde é o sofá, vou te deixar lá para que não se esborrache no chão? Não tem ninguém em casa para te levar até o quarto?
– Não, não tem, eu moro sozinho. Pode me levar até lá, eu deixo! Mas me prometa uma coisa, prometa que não vai me abrir com essa chave enorme que você tem. – eu tinha levado uma das mãos até o rosto dele e acariciado a barba espinhenta. – Você é bonitinho, mas é muito perigoso, sabia?
– Por que me acha perigoso?
– Encosta o ouvido mais aqui perto. Porque meu cuzinho está todo assanhado. É culpa sua, sabia? Culpa sua! – no fundo eu sabia que estava delirando, mas seja lá o que tinha naquele drinque, agora era ele quem ditava as regras, pois de um segundo para o outro, tudo ficou escuro, e tão silencioso como se eu estivesse mergulhado no vácuo.
A luz que entrou nos meus olhos se parecia com duas adagas perfurando-os. Depois de um esforço tremendo para mantê-los minimamente abertos e, virado na direção do relógio de cabeceira, vi que fazia mais de duas horas que o meio-dia havia ficado para trás. Senti um sobressalto no peito. Um lençol fino me cobria, eu estava nu debaixo dele. Aos poucos, meu cérebro dava sinais de estar reconhecendo as sensações que se espalhavam pelo meu corpo. A mais intensa e pungente vinha do meu cu, ele ardia como se houvesse uma brasa entalada nele. Eu estava molhado, de um molhado estranho, um molhado que estava dentro de mim, lá no fundo embrenhado nas minhas entranhas. Quando minha consciência começou a dar sinais de que também havia se recuperado, um pressentimento pavoroso me passou pela mente. Alguém me fodeu. Quase soltei um grito quando tirei o lençol de cima de mim e vi manchas vermelhas sobre a cama onde eu estava deitado. Tinha sangue no meu rego. Eu tinha brigado com o Túlio e o Bernardo, isso começava a aparecer, ainda que de forma indelével, na minha mente. Aqueles dois filhos da puta tinham enfim conseguido enfiar as rolas no meu cu, por isso eu briguei com eles. E o grandalhão do peito cheio de pelos, o que ele faz no meio dessas imagens confusas? Quem é esse cara que eu nunca vi mais gordo? Melhor dizendo, mais tesudo e gostoso. É, é isso, ele é um tremendo de um tesão, agora que as imagens estão ficando mais nítidas, não resta a menor dúvida, um tesão.
Levei mais uma hora até atinar com tudo o que aconteceu na noite passada. Desde a ida até a balada, até aquele motorista do aplicativo entrar comigo no quarto, me carregando sobre o ombro. O sacripanta me fodeu, fodeu não, estuprou, é assim que se chama o que ele fez comigo. Desgraçado. Aquela carinha de bom moço, de cãozinho perdido e abandonado, aquele corpão que fez meus hormônios ferverem dentro das veias, como fui cair numa armadilha dessas?
Eu mal consegui dar uns passos em direção ao chuveiro, parecia haver um túnel escavado no meu rabo, e qualquer passo mais largo podia fazer minhas entranhas escaparem por ele. Isso sem mencionar a dor que cada passo fazia despontar no meu baixo ventre, algo incapacitante. Pensei que a água morna que descia pelo meu corpo fosse me trazer algum alento, mas o torpor que ela produziu durou pouco tempo. Me pus a trocar aqueles lençóis manchados de sangue disposto a voltar a me deitar, pois meu corpo parecia ter sido atropelado por um caminhão. Foi aí que vi o bilhete alçar um curto voo, com o movimento dos lençóis – Obrigado pela noitada maravilhosa. Ligue para esse número quando quiser repetir a dose. Com um beijo ardente, tchau! – estava escrito com uma letra cursiva firme e ereta, abaixo da qual se destaca um número de celular. Eu estava em estado de choque, fiquei imaginando que tudo não passava de um pesadelo, e que eu ia acordar de verdade a qualquer momento. Esse momento não veio, porque eu estava acordado, e bem acordado. Aqueles dois iam me pagar, ah se iam!
– Túlio, seu bosta! Que ideia infeliz foi aquela de me deixar aquele bilhete ridículo, depois de foder meu cu? Eu já não cansei de afirmar que nunca ia deixar rolar uma baixaria dessas entre a gente? Seu puto do caralho, pode estar certo que vou enfiar a mão na tua cara na próxima vez que a gente se encontrar. – eu nem havia deixado tempo de ele dizer alô quando atendeu o celular.
– Ei, ei, que bronca gratuita é essa? Dormiu com o cu virado para a lua, foi? Não estou entendendo porra nenhuma do que você está falando. – a voz dele ainda estava sonolenta, e o raciocínio pelo visto também.
– Gratuita o cazzo! Não se faça de engraçadinho! E, se não foi você, foi o merda do Bernardo. – afirmei convicto.
– Foi o quê cara? Nós te deixamos no carro do aplicativo e você seguiu para casa sozinho, não falando coisa com coisa, bêbado feito uma vaca. – o cafajeste ainda por cima ria.
– Tá, eu vou acreditar numa balela dessas, vai se iludindo, seu depravado!
– Caio, qual é a sua? Eu mal acordei e você despeja esse esporro para cima de mim, vá se foder! – revidou zangado.
– Um de vocês, ou até os dois, já se encarregaram disso, cínico do caralho!
– Como é que é? Do que é que você está me culpando? Juro que não fiz nada, cara! – repentinamente eu estava experimentando outra vez aquela incerteza angustiante.
– Torno a repetir, se não foi você, foi o Bernardo. Vocês se aproveitaram da situação e mandaram ver. – teria sido mesmo um dos dois? Já não dava mais para acreditar naquilo que eu supunha ser a verdade encravada na minha mente.
Não deu meia hora depois de ele desligar o celular na minha cara para que ele e o Bernardo estivessem diante da porta com as caras mais deslavadas que eu já tinha visto. Faltou um triz para eu não voar na cara deles quando destranquei a porta. Mas aí, vi que o Túlio segurava um buquê de rosas brancas na mão e fiquei sem entender o que significava aquilo.
– Acha que com um punhado de rosas vai me fazer desistir de quebrar a cara de vocês? – perguntei, tão logo reparei nelas.
– Ei, ei! Segura essa mão! Perdeu a noção do perigo? Uma porrada nossa e você vai para o chão inconsciente, sacou? Segura tua onda! – protestou o Bernardo, impedindo facilmente que minha mão alcançasse sua cara insolente.
– Isso estava aqui diante da porta quando chegamos, nenhum de nós tem nada a ver com isso! – asseverou o Túlio, antes de começar a colocar um risinho debochado na cara. – Recebendo flores! Será que são do parrudão? – emendou ligeiro, na direção do Bernardo, procurando sua cumplicidade.
– Vá se foder!
– Tem um bilhete aqui no meio. Vamos ver o que o parrudão escreveu depois da noitada de orgia. – disse o Túlio, retirando um pequeno envelope prateado do meio do buquê. Agora os dois estavam rindo.
– Me dá isso aqui! Se não foram vocês, não deem uma de bisbilhoteiros. – protestei. Até então eu tinha por certo que aquela brincadeira era coisa de um deles, mas no momento em que retirei o papelzinho de dentro do envelope, minhas pernas tremeram.
Ainda estou em êxtase! Valeu cada segundo que passou nos meus braços! Espero ansioso por sua ligação. Beijão! – Reconheci a letra no instante em que abri o papelzinho, era a mesma do bilhete deixado na cama. Aquilo não estava acontecendo, eu só podia estar delirando. Que tipo de brincadeira bizarra era aquela? O Bernardo e o Túlio me encaravam curiosos, esperando pela minha reação após ter lido o conteúdo do papelzinho. Fiquei sem coragem de olhar para a cara deles.
– E aí? O quis no bilhete? É uma declaração de amor ou um pedido de trégua? É, porque li uma vez não sei onde, que flores brancas são sinal de paz, pureza, reverência, amor eterno e até segredo, se não me falha a memória. Tem um cara apaixonado pela nossa virgenzinha! – exclamou o Túlio caindo na risada.
– Deixa de ser besta! Agora, falando sério? Onde pretendem chegar com essa brincadeira toda? Vocês me ferraram, sabiam? Mal posso dar um maldito passo que sinto toda a arregaçada. – eu precisava encurralá-los contra a parede, aquilo só podia ser obra de um daqueles dois celerados.
– Você está afirmando que perdeu o cabaço essa madrugada? Cara, fala sério, você deu o cu e não se lembra para quem? Bem que dizem que os mais certinhos são os piores. Saca essa Túlio, o cara deu o rabo e não é capaz de dizer quem estourou as preguinhas virgens dele, é mole? – houve mais risos, que demoraram a cessar.
– Dá para não usar todo esse vocabulário chulo? – eu estava revoltado, já nem mais tanto com eles, que me pareceram tão surpresos quanto eu ao acordar todo esfolado na cama, mas comigo mesmo, pois não me lembrava direito do que tinha acontecido naquela maldita balada. De um momento para o outro, percebi que haviam lágrimas nos meus olhos, e uma delas rolou pelo rosto bem diante daqueles dois.
– Fala o que está acontecendo, Caio! Você está começando a nos deixar preocupados. Você trepou com alguém? O que o cara fez com você? Fala, cara! Você está machucado? Fala, porra! – a voz do Bernardo era efusiva e exigente. O que eu podia dizer, se não me lembrava de nada.
Encarando o chão, porque não conseguia encarar os rostos curiosos dos dois, fui relatando, com uma voz que quase não saia, tudo de que me lembrava, das imagens desconexas que estavam na minha cabeça. Eles continuaram tão desinformados quanto antes de eu iniciar o relato.
– Você deu seu telefone, ou o endereço daqui para aquele cara que estava te chavecando na balada, o parrudão? – perguntou o Túlio, tentando fazer uma reconstrução das últimas horas.
– Não, claro que não! Não sou nenhum maluco! Só me recordo de ele ficar me aporrinhando e depois me oferecer aquele drinque que eu relutei em aceitar, mas ele insistiu. Só dei dois golinhos, o troço estava horrível. – afirmei
– Fora ele, você também ficou de trelelê por bem um quarto de hora com o barman boa pinta quando foi pegar as nossas bebidas no balcão, que eu vi. Depois disso voltaram a se encontrar? O cara parecia estar à procura de uma transa após o expediente. – questionou o Bernardo
– Não! Ele só estava sendo gentil. Disse que nunca tinha me visto por lá e que não ia se esquecer jamais se tivesse visto. – respondi.
– Olha o outro suspeito surgindo aí! – sentenciou o Túlio. – E fora esse, você conversou com alguém quando foi ao banheiro? Você demorou um século para voltar para a mesa. Rolou um pega-pega por lá? – as perguntas deles estavam me deixando cada vez mais irritado.
– Quem vocês acham que eu sou, uma puta que sai por aí se oferecendo para o primeiro que estiver a fim de me enrabar? Vão se ferrar!
– Você sabe que não é nada disso! É que você é certinho demais, travadão demais, cagão demais, vai que resolveu soltar a franga ontem à noite. – argumentou o Bernardo.
– Não dá mesmo para conversar com vocês! Esquece! Olha para a minha cara, Bernardo! Eu soltar a franga? Jura que você acha que eu sou desse tipo? Com amigos como vocês dois, não preciso de inimigos.
– Você está sendo injusto! Você tomou um tremendo pileque e não sabia mais onde estava e o que estava fazendo, virou um chato para falar a verdade, acabou com as nossas chances de sair da balada com um programinha para a madrugada. – afirmou em revide.
– Eu não tomei pileque porra nenhuma, será que não dá para acreditar no que estou dizendo? Fiquei esquisito depois daquele drinque, pode ter certeza! – asseverei
– Então te deram um boa-noite-cinderela, foi isso! Mas, você estava acordado quando te confiei para o motorista do aplicativo. O cara até foi bem bacana, ficou aguentando sua chatice e me garantiu que ia te deixar em casa e, ao que parece, ele cumpriu a palavra. – garantiu o Bernardo.
– Será que foi ele que deu um trato no cuzinho do Caio? – a suspeita foi levantada subitamente pelo Túlio.
– Que absurdo você está falando, Túlio, que trato no meu cuzinho o quê! De onde saiu essa bobagem?
– Ora, você não está reclamando que foderam o teu cu? Alguém deve ter sido!
– O cara me pareceu gente boa, não foi ele, não. Ele estava defendendo uns trocos trabalhando de madrugada. Periga até de o sujeito ser casado e se sujeitar a rodar de madrugada pelas ruas para levar o leitinho do filho para casa. Era gente boa, vai por mim. – asseverou o Bernardo.
– Você rodou uns vinte quarteirões no carro dele, como pode ter tanta certeza? Se o Caio não consegue se lembrar de ninguém da balada, só pode ter sido ele. – ponderou o Túlio
– Seria um idiota! Tem o nome dele, a placa do carro, e mais uma porrada de informações no aplicativo, é moleza levantar os dados dele e denunciá-lo à polícia. O cara estaria ferrado se fosse ele. – argumentou o Bernardo.
– É isso, vou denunciar o cara para a polícia! Está decidido! – exclamei, como se de repente, a solução me caísse nas mãos.
– E vai dizer o que para a polícia? Olha, seu delegado, ontem eu entrei bêbado num carro de aplicativo e hoje acordei com o cu todo estourado, mas não me lembro de mais nada durante todo esse período. – ironizou o Bernardo.
– Não debocha! Foi isso mesmo que aconteceu, é a verdade! – afirmei categórico.
– Da mesma forma que até uns minutos atrás você tinha certeza de que tínhamos sido nós a te descabaçar. Você está fodido, Caio! Fodido e sem saber quem fez o milagre de te desencruar. – debochou o Túlio.
Mas àquela altura do campeonato eu sabia quem tinha se aproveitado do meu cuzinho. Havia o bilhete da cama, cuja existência ambos ignoravam, havia as imagens na minha mente, confusas é certo, mas que me faziam recordar de um sensual tórax peludo, havia aqueles braços cheios de músculos que deram conta de me colocar sobre um ombro maçudo, havia aquele rosto inebriante em cujo olhar se podia ver uma imensidão tão vasta quanto o oceano e tão mansa quanto uma brisa numa noite enluarada de verão.
– Foi o cara do aplicativo! – deixei escapar, após um breve silêncio, no qual os dois apenas tentavam decifrar as expressões do meu rosto. – Foi ele, tenho certeza!
– Eu seria bem cauteloso se fosse você! Fazer uma acusação dessas diante de um delegado pode te colocar em maus lençóis, estou avisando, agora como advogado, mais do que apenas amigo. – sentenciou o Bernardo.
Para que não pensassem que eu havia enlouquecido, subi e fui buscar o bilhete. Esfreguei-o prazerosamente na cara deles.
– E então, isso não é prova suficiente?
– Não, não é! – garantiu o Bernardo.
– Como, não é? É praticamente uma confissão, só não enxerga quem não quer. – devolvi exasperado.
– Disse bem, praticamente! Isso se uma batelada de outros fatos corroborarem sua afirmação. – quando o Bernardo dava para se sentir como se estivesse atuando no fórum, eu ficava puto. – Quem garante que essa letra é dele? Em primeiro lugar, quem pode afirmar que ele não te deixou na porta de casa e partiu em busca de outra corrida, ignorando o que se passou com você depois de ter deixado cambaleando de tão bêbado? Você tem alguma prova de que ele agiu de maneira diversa? O cara que traçou sua rosquinha deixou um número de celular, é alguém que você conhece ou conheceu há pouco, e que sabia que você estava a fim de queimar esse rabinho.
– Não delira! Do jeito que você fala até parece que eu estava procurando macho. Que saco, Bernardo! Eu te odeio, cara! – ele parecia estar certo, e isso me enervava.
– E não estava?
– Cretino!
– O foda é que eu te amo, Caio, e perdi a chance de ser o primeiro a comer esse rabão. – disse ele, como se aquelas palavras fossem verdadeiras.
– Ridículo! – essa sensação de que podia ter sido qualquer um dos caras que me sussurravam esse tipo de besteiras nos ouvidos, é que me deixava irritado. Eu tinha cara de virgem, me comportava como um virgem, fugia dos assédios como um virgem, estava na cara de quem quisesse ver. E o mais temeroso dessa história toda, não faltavam candidatos a descobrir os prazeres que minha bundona roliça escondia.
– Liga para o número e pergunta se foi a pessoa que atender que enfiou o cacete no teu rabo. – sugeriu o Túlio.
– Chega! Já deu! Os dois, sumam daqui! Fora! – esbravejei, tendo chegado ao limite da minha tolerância.
– Ui, que nervios! Agora o bicho pega! – zombou o Bernardo. Porém, quando viu meus olhos marejando novamente, veio me abraçar. – Calma, não é o fim do mundo! Vamos te ajudar a descobrir quem é o felizardo. Vai que ele é aquela paixão que você tanto procura.
– Não estou procurando paixão nenhuma! – resmunguei
– A gente sabe, a gente sabe! – exclamou o Túlio
Me aporrinharam tanto que eu liguei para número do bilhete. Uma voz grossa e ligeiramente familiar respondeu. Subitamente travei, não sabia como continuar. Eu ia perguntar o quê, foi você que me enrabou essa madrugada? Apertei a tela e desliguei. Eu não estava preparado para aquilo, eu não estava preparado para a verdade.
– Qual é, por que desligou? – perguntou o Túlio
– Não consigo continuar com isso. – respondi
– Reconheceu a voz, é alguém conhecido? – o Bernardo ansiava pelas respostas, feito um menininho que quer descobrir o que tem debaixo dos papeis que embrulham um presente.
– Não! – eles tinham que se contentar com isso por enquanto.
Esperei até o final daquela semana para ligar novamente. Tinha ensaiado, mil vezes, centenas de frases que ia usar para chegar à verdade. Esqueci todas tão logo a voz grave atendeu.
– Caio? É você? Alô!
– Sou … sou eu!
– Por que interrompeu a ligação naquele dia? Eu estava ansioso esperando você me retornar. – como é que ele conseguia falar com toda aquela tranquilidade? Esse cara tinha detonado meu cu e agia como se fosse o mais inocente dos anjos.
– Quem é você? – num esforço hercúleo foi o que consegui pronunciar.
– Como assim, quem sou eu? Não é você quem está me ligando? – questionou o sujeito
– Você deixou um bilhete na minha cama com esse número e sem assinatura. As flores, digo, o bilhete que estava junto às flores também não estava assinado. – revelei, me sentindo um babaca por ainda estar em dúvida quanto ao autor desses bilhetes.
– Cara, desculpa! Sou meio atrapalhado, às vezes. Mas, você podia ter descoberto meu nome pelo aplicativo. – argumentou ele
– Não achei que pudesse ser você! – por que raios de uma imbecilidade dessas, é que eu soltei essa frase?
– Tem tantos admiradores assim? Então posso me considerar um privilegiado por ter chegado até onde chegamos. – era tudo o que eu não precisava ouvir daquele estranho.
– Não, não é isso! É que fiquei confuso, quer dizer, estou confuso ainda. Não sei como foi que aquilo tudo aconteceu. – eu estava sendo o mais sincero que podia.
– Aconteceu porque você quis que acontecesse, fiquei meio travadão de início, mas não aguentei mais quando vi como você estava afim. – retrucou ele
– Como assim, eu estava afim? Não sei onde quer chegar afirmando uma coisa dessas?
– Podemos nos encontrar? Estou vendo que através do celular não vamos chegar a conclusão alguma. – sugeriu ele.
– Me encontrar com você? Não sei se é uma boa. – respondi
– Tem medo de não resistir novamente?
– Do que você está falando? Resistir a quê?
– Me dá uma hora, talvez um pouco mais, daqui a pouco chego aí! Está em casa, não está? – resolveu ele, vendo que do contrário não íamos nos acertar.
– Es … estou. Estou em casa! – afirmei – Não estou sozinho! – emendei o mais depressa que pude. Ouvi a risada dele do outro lado antes da ligação ser interrompida.
Se eu fosse um cara prudente e precavido, teria imediatamente ligado para o Túlio ou o Bernardo e pedido para acompanharem a minha conversa com aquele desconhecido cujas intenções podiam ser as piores possíveis. No entanto, eu nunca via maldade nas pessoas, até elas me provarem o contrário. E, por outro lado, era bom que aqueles dois não ficassem sabendo de todos os detalhes picantes dessa história, o que seria inevitável, se o cara fizesse qualquer referência de como tinha me violado. Muni-me de coragem, pois isso eu tinha de sobra, e fiquei à espera dele. Uma espera angustiante, devo admitir, pois estava impaciente até o momento em que finalmente a campainha tocou.
Minha nossa, como o cara é grande. Diante de mim com um sorriso que me pareceu de alguma forma familiar, como se eu já o tivesse presenciado tão espontâneo e gracioso antes, é que pude constatar a enormidade do sujeito. Ele colocava facilmente o parrudão da casa noturna no chinelo.
– Oi Caio!
– Oi! – tive que dar uma chacoalhada na cabeça para tirar uns pensamentos pouco recomendáveis da minha mente, uma vez que aquele era um instante em que eu deveria estar focado, nada mais.
– Fiquei supercontente com sua ligação! Para ser sincero, achei que demorou a me ligar. – o que ele queria dizer com isso?
– Acho que você me deve uma porção de explicações, e quero ouvi-las antes de tomar as devidas providências. – comecei, partindo logo para a discussão, pois era só o que eu queria fazer com aquele cara. Só discutir é modo de dizer, eu queria partir para a briga, mas olhando bem para aquele corpão com quase 1,90 de altura e todos aqueles músculos, seria a coisa mais imbecil a se fazer, até porque ele continuava com aquele sorriso bonachão na cara, e isso estava me abalando as ideias.
– Explicações? Providências? O que você quer dizer com isso? Não sei por que está tão belicoso comigo. – retrucou ele
– Ah, não sabe! Puxa, que cara de pau! Eu estou tentando entender como você invadiu a minha casa, me largou todo ensanguentado na cama, me mandou rosas como que tirando uma com a minha cara, e me deixou bilhetes que até o momento não atinei que serventia têm. – despejei, procurando me fazer indignado. – Eu podia ter ido à polícia, você bem sabe; assim como podia ter te denunciado para a plataforma do aplicativo, o que você fez é crime. Pode esperar que tomarei as providências para corrigir isso. – acrescentei
– Bom, acho que me enganei quanto às tuas intenções. Eu esperava outra coisa quando me ligou. Mas, sinta-se à vontade para tomar as tais providências que julga necessárias. – respondeu ele, de uma maneira inabalável demais para quem tinha me fodido.
– Esperava o quê? Que eu te agradecesse por ter me enrabado?
– Confesso que sim!
– Você é um escroto! Puta cara de pau!
– Talvez, se eu tivesse te largado na calçada aqui em frente as quatro horas da madrugada, bêbado como estava, à mercê de qualquer malandro, você estaria mais satisfeito.
– Cazzo! Quantas vezes vou ter que repetir para as pessoas que eu não estava bêbado!
– No seu juízo perfeito é que não estava, isso eu garanto!
– Você está lá em condições de garantir qualquer coisa que seja? Não me conhece!
– Posso assegurar que sim! – ele estava confiante e seguro demais para falar daquela maneira comigo.
– Bem, admitamos que você esteja certo, mas veja bem, só admitamos, não estou afirmando que você está certo, ok. A invasão de domicilio e todo o resto, continuam a não fazer de você nenhum santo, concorda?
– Não fui o mais santo dos caras naquela noite, concordo. Mas também não sou de ferro, teve uma hora que eu não consegui mais resistir e a partir daí eu deixei rolar, estava bom demais para eu me recusar a continuar. – sentenciou ele, o que me intrigou.
– Como assim resistir? Vai querer me convencer que fui eu quem provoquei tudo aquilo. – questionei
– Exatamente!
– Ora seu pulha desgraçado! Escreve o que eu estou falando, eu vou te ferrar até onde a lei me permitir, pode contar. – meu sangue fervia nas veias.
– Vá em frente! Eu já disse, faça como quiser. Antes quero te mostrar uma coisa, para depois você não alegar que eu joguei sujo. E também, não entenda isso como uma ameaça, pois não é. Apenas quero te provar a minha inocência. Bem, admito, inocência é muito, digamos a minha pouca culpa nesse episódio.
– Do que você está falando?
– Disso! – ele tirou o celular do bolso e o que, num vídeo feito por ele, surgiu na tela, quase me levou a ter uma síncope.
Lá estava eu, meio que pendurado no corpão dele, balbuciando elogios e acariciando o peito dele após ter desabotoado sua camisa – você é muito do gostosão, se eu fosse mulher ia querer ter um filho seu – pasmo, eu queria jurar que não eu naquelas imagens, que não pararam por aí. Eu comecei a lamber o peito do cara, enquanto ele todo espantado e mal acreditando que aquilo estava acontecendo, focava seu olhar e a câmera do celular para as minhas libertinagens. O que eu dizia enquanto beijava e lambia o cara é melhor nem mencionar. Fui descendo pela barriga e enfiando minha mão dentro da calça dele, pedindo para ele me mostrar a rola que eu alegava já sentir começar a ficar dura. Na maior tranquilidade ele confirmou a ereção, e me aconselhou a não brincar com ela, uma vez que não saberia se ia se aguentar por muito tempo. Eu não só ignorei as palavras dele, como fui abrindo descaradamente a braguilha e metendo a minha mão curiosa na virilha dele. Em dado momento, eu tirei a caceta à meia-bomba lá de dentro, afagando-a como se fosse um bichinho de estimação – Que pin-in-tão, hein. Juro que nunca vi um pin—i-i-in-tão desse tamanho, e tão gos-gos-gos-to-o-o-o-so – era a minha voz, por mais inacreditável que estivesse soando, mas era ela toda embolada e pronunciada no tom mais safado que eu já tinha ouvido. Meu assanhamento parecia fora de controle – eu vou chu-chu-par o seu pau! Sabia que eu nun-nun-nun-ca chu-chu-pei uma rola? Eu que-ro-ro chu-par-par essa aqui. – nem bem eu tinha soltado esse absurdo, e já coloquei a pica dele na boca, devorando-a como se fosse um famélico. Ele me pedia calma, me mandava chupar mais devagar alegando que o que eu tinha na boca era muito sensível e que meus dentes estavam machucando a cabeçorra que eu fazia força para engolir. As imagens não deixavam dúvidas, eu estava sendo a mais rameira das putas, justo eu, o gay mais contido e discreto que podia existir. A essa altura, meu rosto ardia em brasa, e eu sabia que estava vermelho feito um pimentão, enquanto ele continuava tão impassível e até satisfeito com aquelas cenas bizarras. A despeito dos repetidos avisos de que ia acabar gozando se eu continuasse a fazer aquele boquete delicioso, eu não parava. Tinha perdido as estribeiras do juízo e estava me deixando levar por uma espécie de tara que não conhecia limites. Como eu continuava lambendo, mamando e fazendo cafuné no sacão dele, ele acabou gozando na minha boca. Ele se desculpou, disse que tinha me avisado e que não tinha mais conseguido se aguentar, esperando até que eu parasse depois disso. – Isso é bem mais gostoso do que aquele drinque que você me deu lá na balada. É a coisa mais gostosa que já provei – professava eu, engolindo os jatos esbranquiçados e espessos que o tesão dele ejaculava na minha boca. Ele estava mais do espantado com a minha reação, e confessava que nunca tinham mamado o cacete dele daquele jeito. Ele me questionou se eu era maluquinho assim o tempo todo, ou se só estava fazendo isso por conta do pileque que havia tomado. Depois disso, eu cheguei ao limite do que podia ver, não eram cenas montadas, não eram cenas de um filme pornô qualquer, eram cenas protagonizadas por mim. Por meio delas, ficava em aberto, quem estuprou quem no final das contas? Pois, que nome se daria ao que eu protagonizei naquelas cenas?
– Chega! Não consigo mais assistir a nada disso! – exclamei me afastando ligeiramente dele.
– Bom, eu preciso dizer que a coisa não parou por aí. Você me deixou com tanto tesão quando tirou a roupa e veio rebolar esse bundão na minha virilha que duvido até, que o mais celibatário dos homens não ia perder a cabeça com a sua sensualidade e sua pele ardendo de tesão se esfregando na gente. Você pedia para eu te enrabar, pedia não, implorava, dizia que queria saber como era ter um macho com um pintão como o meu dentro de você. Me fez promessas de que ia me satisfazer, de que ia me dar todo o carinho que tinha guardando dentro de si. Agora me responde, quem é o homem que aguenta ouvir uma coisa dessas sem perder a cabeça? – revelou ele
– Eu estava fora de mim, estava drogado, você se aproveitou disso! – de alguma forma eu precisava me livrar da culpa que aquelas cenas libertinas ensejavam, precisava imputá-las a outro.
– É aí que eu admito a minha culpa, que confesso que a carne foi fraca, pois mesmo sem ter uma camisinha à mão, eu estava tão envolvido pela sua sedução que não resisti e quando você se deitou na cama e me chamou para fazer amor com você, eu simplesmente deixei o tesão falar mais alto. Fazia quatro meses que eu tinha terminado com uma namorada e desde então não tinha atendido às exigências da minha pica. – cada revelação dele me deixava mais encabulado, eu sou um pervertido, concluí.
– Se você fosse um cara decente, não teria feito o que fez comigo.
– Talvez, quem sabe! Naquele momento eu deixei a decência de lado e só pensei em satisfazer minha pica que clamava pelo seu cuzinho virgem, conforme seus amigos afirmavam ser. Bom, acho que colocamos tudo em pratos limpos. Faça o que acha que deve ser feito, e me perdoe por ter vindo aqui com esperanças infundadas e por ter te deixando com tanta raiva de mim. – ele seguiu em direção à porta deixando evidente a frustração que sentia. – Tchau!
– Tchau! – eu estava tremendo quando o vi entrando no carro e partir. Não tinha resolvido absolutamente nada, e agora me sentia péssimo.
Como eu tinha dado um toque para o Túlio de que esperava o sujeito para uma conversa e recusado que ele viesse me dar um suporte caso isso se fizesse necessário, ele me ligou pouco depois de o cara sair.
– E aí, como foi a conversa com o cara? Foi ele mesmo que te descabaçou, ou não? – questionou curioso.
– Foi ele!
– E o que você vai fazer agora? Vai à polícia? Falando nisso, você já deu uma conferida pela casa para ver se ele não roubou alguma coisa, seus cartões de crédito, sei lá? – indagou
– Já fiz tudo isso, não falta sequer um alfinete na casa. Não vou à polícia, não vou fazer nada. – respondi.
Enquanto conversava com o Túlio ao celular, o Bernardo apareceu querendo saber praticamente a mesma coisa. O Túlio se juntou a nós pouco mais tarde, ao saber eu o Bernardo estava comigo.
– Que fique só entre nós, estão entendendo, seus fofoqueiros? Resolvi não fazer nada porque não sou tão inocente nessa história como pensava. – afirmei
– Como assim?
– Eu praticamente levei o cara para a cama, é só o que vou revelar. E tudo por culpa daquele maldito drinque que o cara me ofereceu na balada.
– Tá, isso você já disse! Mas, como foi você quem levou o cara para a cama e, afinal de contas qual é o nome desse cara? – perguntaram praticamente ao mesmo tempo.
– É Marcos! Eu esqueci de perguntar, mas é o nome que aparece no aplicativo de viagens.
– E como é essa história de que você levou o cara para cama?
– Isso é melhor vocês não saberem. Não foi nada lisonjeiro, posso garantir. – respondi. Ambos começaram a rir.
– Quer dizer que você seduziu o cara a ponto de deixar ele doidão e a fim do seu cuzinho, é isso? – o fato de eu me manter calado serviu como resposta.
– Eu não disse, os mais certinhos são os piores! – exclamou o Túlio novamente
– Cala a boca, Túlio! Que saco! – revidei. Eles riram ainda mais.
Minha conversa com o Marcos não me saia da cabeça. Conforme o Bernardo havia dito, ele parecia mesmo ser um cara boa gente. Quanto mais eu pensava no risco que corri nas mãos de um completo desconhecido, que podia ter feito gato e sapato de mim naquelas condições, mais eu me convencia do bom caráter dele. Eu devia um pedido de agradecimento, até de desculpas a ele por tê-lo tratado da maneira como eu o tratei quando ele veio aqui em casa.
Poucas semanas depois, precisei levar meu carro à oficina para consertar um problema no sistema de arrefecimento. Ia ficar sem carro por três dias, segundo o mecânico. Estava aí a minha chance de me redimir com o Marcos. O bilhete, assim como o cartão que acompanhou as rosas ainda estavam na gaveta da cabeceira da cama. Se você me perguntar porque eu os guardei, não vou saber explicar. O fato é que continuavam guardados.
– Oi, Marcos? É o Caio, tá lembrado?
– Oi! Estou sim. – havia uma frieza em sua voz, bem ao contrário da última vez que liguei para ele.
– Eu estou sem meu carro e gostaria de saber se você não se importa de me levar para o trabalho amanhã.
– Por que não liga para a plataforma do aplicativo? – questionou ele
– Não sei! Gostaria que fosse você a me levar, pode ser? Vou me sentir mais seguro. Eu te pago o mesmo valor do aplicativo, ou o que você cobrar, tudo bem.
– Tudo bem! A que horas quer que eu te apanhe?
– Às 07:00 hs, tudo bem para você?
– Beleza! Estarei aí. – ele desligou rápido, nem me deu chance de agradecer o favor.
Cinco minutos antes do combinado ele estava diante do portão, me cumprimentou com a mesma gentileza que cumprimentaria qualquer outro passageiro. Fui eu a quebrar o silêncio que reinava nos primeiros quarteirões percorridos.
– Obrigado sinceramente pelo que fez por mim naquela noite, não era sua obrigação me aturar, nem me deixar em casa em segurança. – comecei, procurando em suas expressões, um pouco de condescendência com a maneira pela qual agi. Ele respondeu que não precisava agradecer. – Também te devo desculpas por ter dito aquelas coisas e te ameaçado quando foi lá em casa conversar comigo. Também aí ele alegou não haver necessidade de desculpas, que estava tudo bem. Havíamos chegado à empresa, e o papo tinha que parar por aí. Quando quis pagar pela corrida ele se recusou a receber a grana, fiquei sem saber como agir.
No final do dia, quando ele veio me buscar para me levar para casa, eu insisti na conversa, mas ele continuava pouco receptivo. Não o culpei, mas queria que fosse diferente.
– Você toparia jantar comigo amanhã à noite, depois que vier me buscar? – de um jeito ou de outro, eu queria tirar dele aquela imagem ruim que deixei. E seria meu modo de pagar pelas corridas que ele não estava me cobrando. Quando falei que ele não precisava vir me buscar mais, já que não me cobrava, ele ficou zangado.
– Não posso, tenho um compromisso amanhã à noite! Mas agradeço!
– Tudo bem! Entendo que tem razões para estar com raiva de mim. Só queria que não pensasse que sou uma má pessoa. – esclareci – Não é justo você não me cobrar pelas corridas, afinal é o seu trabalho. – argumentei
– Não estou com raiva de você, é que realmente não posso me encontrar com você durante a semana. E, não se preocupe, eu sei que não é uma má pessoa. – fiquei um pouco aliviado, não sabia se ele estava sendo sincero ou se só estava sendo gentil.
– Talvez, num final de semana, então. O que faz durante as noites da semana, se me permite perguntar? – eu não sou do tipo que desiste fácil, e ele me parecia um cara que tinha muito a ser descoberto.
– Estudo e depois pego algumas corridas. – revelou ele.
– Parece bem puxado! E perigoso também! Até que horas fica fazendo corridas?
– Às vezes até umas duas da madrugada.
– Não sei como você aguenta passar o dia todo ao volante no meu desse trânsito maluco, estudar e ainda voltar para mais um turno depois disso. – eu estava sondando, queria que ele se abrisse, talvez tivesse uma chance de me mostrar como realmente sou.
– Não faço corridas durante o dia, trabalho numa financeira.
– Então meu pedido para me levar ao trabalho não faz parte da sua rotina? – algo me dizia que eu tinha pisado na bola mais uma vez.
– Não, não faz. Mas está tudo bem, é meio que o caminho que eu faço, então não tem problema. – revelou. Ele é muito legal, não havia do que duvidar.
Todo aquele mistério que o envolvia começou a despertar em mim uma curiosidade sem fim. Quem era aquele homem charmoso e lindo, pois agora eu já o achava o mais lindo dos machos; o que havia por trás daquele jeitão tranquilo que inspirava uma paz dentro da gente e, porque aquele corpão maçudo e varonil me fazia sentir uma quentura ardendo nas minhas entranhas? Eu me pegava dia e noite pensando nele, sentindo uma coisa crescendo dentro de mim que não sabia como explicar, mas da qual não queria abrir mão.
– Nosso amiguinho enrustidinho está apaixonado pelo motorista tarado, ora quem diria! Bastou conhecer a pica do sujeito e a paixão floresceu! – zombou o Túlio, quando revelei que o Marcos estava me levando de casa para o trabalho e vice-versa.
– Deixa de ser ridículo! Não dá para contar nada para vocês dois. Tarados são vocês, que não sabem falar de outra coisa! – retruquei irado. Me transformei, a partir daí, no alvo de suas chacotas.
Fiquei eufórico quando o Marcos aceitou meu convite para o jantar alguns dias depois. Ele me ligou confirmando; pois, meu carro já tinha saído da oficina e não nos encontramos desde então. Pensei em leva-lo a um restaurante sofisticado, como uma maneira de pagar pelas corridas, mas meditando bem a respeito, achei que ia parecer esnobismo de minha parte, e desisti. Resolvi fazer o pedido de um jantar bem caprichado num outro restaurante que entregava na casa dos clientes um cardápio bem elaborado. Ia ter o mesmo charme, pensei, sem parecer tão presunçoso.
Passei o dia todo sendo consumido por uma ansiedade sem igual. Enquanto o aguardava por volta das oito horas da noite do sábado, todo produzido, apesar do ar despojado que queria deixar transparecer, e com a casa toda envolta num clima de aconchego, sentia que meu coração palpitava dentro do peito e minhas mãos suavam como aconteceu na época em que prestei os vestibulares. Ele foi pontual, parecia ser uma de suas características. Esfreguei rapidamente a mão na bermuda para disfarçar o suor que havia nela.
– Oi! Obrigado por ter vindo! – minhas palavras pareciam querer saltar da minha boca antes mesmo de eu refletir sobre elas.
– Oi! Eu que agradeço pelo convite. – ele precisava sorrir sempre daquele jeito? Se ele soubesse o quanto eu perdia o prumo com esse sorriso talvez não me provocasse tanto.
– Fique à vontade! Posso te oferecer alguma bebida? Não tenho um grande arsenal, mas eis o que tenho, é só escolher. – eu já tinha jurado a mim mesmo que naquela noite não ia colocar uma gota sequer de álcool na boca, a última vez que fiz isso ele pode ter a exata dimensão dos resultados disso.
– Tomo o mesmo que você!
– Vou tomar um suco, talvez você prefira algo mais forte. – retruquei. Ele conteve um risinho
– Ficou traumatizado com a última experiência? – ele estava se divertindo comigo
– Pode crer! Mas, não dá para jogar a culpa do que aconteceu na caipirinha de tangerina com vodka e no gin cosmopolitan que ingeri naquela noite. – respondi
– Você deve ser fraco para bebidas, então, pois seu pileque era dos bons! – exclamou rindo.
– Deixa para lá! Ninguém me leva a sério quando digo que foi aquele drinque batizado que o parrudão me fez tomar. – continuei
– Me conta essa história direito! Tinha um parrudão dando em cima de você?
– Pode gozar, meus amigos não fazem outra coisa desde então. Mas, ele não estava dando em cima de mim, quer dizer, até estava, mas eu não estava dando bola para as cantadas dele, foi aí que veio o drinque e a insistência para eu provar. Foram dois goles muito dos mixurucas, mas resultou no que você já sabe.
– Devia ser um boa-noite-cinderela mal dosado, ou porque você tomou pouco, e o efeito demorou a acontecer. – ele era o primeiro a acreditar em mim, dava para ver na fisionomia dele.
– Foi o que o Bernardo também suspeitou.
– Aquele seu amigo que te colocou nas minhas mãos? – eu corei com a pergunta dele
– É aquele, irresponsável! – o Marcos rindo novamente
– Você agia como se eu fosse o tal parrudão. Acho que ele acabou conseguindo te impressionar. Gosta de parrudões?
– Não me faça sentir mais vergonha do que já sinto. Aquelas cenas que você gravou no celular não refletem quem eu sou, pode ter certeza. – respondi encabulado
– Você liberou seus medos, seus desejos, pense assim, vai doer menos. Se bem que eu não tenho do que reclamar. – ele lançou um olhar libidinoso na minha direção e, de repente, eu senti tesão com isso.
– O estrago está feito, não tem como voltar atrás. Por que guardou essa gravação? Esperava alguma retaliação da minha parte, como estupidamente sugeri fazer? Eu ia ficar mais tranquilo se você apagasse o vídeo. – afirmei
– É por conta disso que me convidou para esse jantar?
– Não! Não, Marcos! Juro que não, por favor, acredite em mim! Eu te convidei por que me sinto em débito com você, acredite! – fiquei com tanto receio de que ele interpretasse tudo errado e fosse embora furioso comigo que quase não consegui controlar aquele nó na minha garganta.
– Não é razão para você ficar tão aflito, calma! Foi só uma pergunta. – asseverou ele
– Não quero que se zangue comigo, Marcos! É muito importante para mim. – confessei
– Não estou zangado, fique calmo! Estou adorando a sua companhia, como adorei cada minuto daqueles que passamos juntos naquele dia. – eu lhe devolvi um sorriso penhorado, embora me recordar do estado em que acordei após a noitada com ele me fizesse estremecer nas bases.
– Eu também gostei! Isto é, estou gostando.
– Você lembra como foi nós dois na cama? – arriscou ele, curioso
– Para ser sincero, tem uma baita confusão na minha cabeça. Não sou capaz de fazer um relato sequenciado dos fatos. Desculpe. – respondi sincero
– Vai se sentir mal se eu contar?
– Talvez se deixarmos isso para uma outra vez, eu me sentiria menos envergonhado. Baseado nas cenas do vídeo, eu não sei se estou preparado para encarar a realidade e, muito menos a você. – respondi
– É uma pena, porque eu gostaria que você soubesse o quanto me fez feliz. Eu nunca pensei que um cara podia ser tão carinhoso com outro homem na cama. Você foi muito generoso e pródigo nas tuas carícias. – afirmou ele. – E, a propósito, eu gostaria de deixar esse vídeo com você antes de tirá-lo do meu celular. Talvez isso te deixe mais tranquilo. Dê a ele o destino que julgar melhor. – emendou
– Não, não precisa! Confio em você! Ele está tão seguro nas tuas mãos quanto estaria nas minhas. – retruquei
– Façamos o seguinte, vamos deixar uma cópia num pen-drive na gaveta na cabeceira da sua cama, e talvez possamos assisti-lo juntos muito em breve, lá mesmo. – tímido, eu procurei mudar de assunto. A perspectiva de uma cama combinada com aquele homem sensual e másculo, não estava me deixando pensar com clareza.
Enveredamos por assuntos que acabaram por nos levar a contar um pouco de nossas histórias de vida. Sem perceber, eu tinha contado àquele estranho detalhes da minha vida quem nem mesmo o Túlio e o Bernardo conheciam, apesar dos longos anos de nossa amizade. Pareceu-me que ele também se abriu comigo como talvez nunca antes com outra pessoa. Foi como se ambos precisássemos compartilhar momentos marcantes de nossas vidas com alguém que estivesse verdadeiramente interessado neles. Assim, descobri que o Marcos não se resumia a um mero motorista de aplicativo, que ele era um cara cheio dos talentos e dono de qualidades que eu presava por demais. Ele acabou se tornando motorista da plataforma de viagens por uma questão financeira. Como filho único, que deixou a alguns anos os pais residindo no interior, ele veio atrás de melhores oportunidades na capital. Conseguira o emprego na renomada financeira e já havia galgado alguns cargos em pouco mais de dois anos, quando decidiu fazer um MBA em gestão de risco para chegar à função de gerente de grandes contas, geralmente empresas de grande porte ou investidores endinheirados que movimentavam valores enormes no mercado financeiro. Sobrava-lhe pouco tempo para o lazer ou outras distrações trabalhando durante o dia e fazendo a pós-graduação à noite. Nesse interim, descobriu que o pai precisava de uma cirurgia para a colocação de duas próteses de quadril, devido a uma enfermidade que lhe comprometera severamente o caminhar e a manutenção de suas funções num pequeno negócio que sempre havia sustentado a família. Sem um plano de saúde, os altos custos do procedimento, somados aos das próteses e à posterior e longa fisioterapia, o Marcos viu-se obrigado a custear todo o tratamento e, por conta disso, vinculou-se à plataforma de viagens abrindo mais um turno de trabalho nas madrugadas em sua já repleta agenda de afazeres. Segundo ele, e até brincando com a situação, ele me disse que nos últimos meses seus sonhos se resumiam a uma infinidade de contas, que ele via passar pela mente como se estivesse contando carneirinhos, pois à todas que já havia mencionado, acrescia-se a do financiamento do apartamento que havia comprado ainda na planta e a do aluguel de onde morava. Em nenhum momento eu senti que a revelação de sua conturbada situação financeira tivesse o intuito de se fazer de coitadinho, de me sensibilizar com seus problemas, era, tão somente, a revelação de seu cotidiano. Também não foi isso que estava mexendo comigo enquanto ele falava, mas sim, a vivacidade de seus belos olhos, a maneira como se formavam duas quase imperceptíveis covinhas no canto da boca quando sorria, a textura de seus lábios de um vermelho intenso que contrastava com a cor da pele do rosto, quase toda camuflada por aquela barba cerrada que lhe chegava até o pescoço e da qual dava a impressão ele tinha pouco tempo de cuidar, pois trazia-a sempre como se nos últimos três dias não tinha visto um barbeador. Aquilo me encantava, era um tipo de relapso que acrescentava charme a ele, deixava-o sexy. Tão próximos como estávamos agora, sentados a poucos metros um do outro, seus ombros e o tronco trapezoidal me pareciam maiores, mais vigorosos, mais másculos. Braços e mãos eram uma tentação à parte. Os antebraços emergiam da manga da camiseta tão grossos quanto um tronco e estavam revestidos por pelos densos concentrados principalmente nos braços. Nas mãos se destacavam os dedos grossos que davam mais vigor à força de que eram dotadas. Elas eram enormes, fazendo jus ao tamanho do próprio Marcos e, apesar de se parecerem com garras de um urso polar, notava-se que eram capazes de externar afagos tão sutis quanto os de um gato. Aquele homem diante de mim me fascinava à medida que eu ia descobrindo mais detalhes daquele corpo imenso. Nunca alguém havia me feito sentir isso antes. Eu estava gostando imensamente dele, apesar do pouco que o tinha visto. A única coisa que me intrigava, era o jeito com o qual ele olhava para mim. A inquietação dele não estava concentrada apenas no olhar, mas se espalhava por todo o corpo do Marcos. Era como se seu corpo se conturbasse ao estar tão próximo de mim, contraindo a musculatura involuntariamente, se preparando para perpetrar um acasalamento instigado por um desejo do qual estava possuído e o qual fazia força para conter. Envolvido com todos esses pensamentos e emoções a respeito dele, minha mente construía cenários onde ambos atuaríamos em conjunto, engendrava soluções para ajudar aquele homem que já tinha me conquistado por inteiro. Não senti as horas passando e, pelo visto, nem ele. A madrugada já corria alta quando nos demos conta do horário. Propus que ele ficasse, que dormisse num quarto vago da casa as poucas horas que restavam até o amanhecer para não ter que circular de madrugada pelas ruas. Eu subitamente me vi preocupado com ele e com sua segurança, nada de mal podia acontecer com aquele homem, pois eu o queria para mim, queria cuidar dele, queria poder colocá-lo no colo e deixa-lo adormecer sob meus afagos. Ele aceitou, dizendo que estava com preguiça de voltar para casa e encontra-la vazia, sem alguém tão legal quanto eu esperando por ele. Eu não era dado a faniquitos, mas ao ouvir aquilo, me derreti todo. Por hora, seria bom que ele não soubesse disso.
Na manhã seguinte, isto é, praticamente na hora do almoço, pois ambos havíamos acordado tarde, eu lhe ofereci o quarto disponível. Argumentei que se livrando do aluguel onde morava, poderia dispensar as corridas do aplicativo, teria mais tempo para se dedicar aos estudos, estaria mais próximo tanto do trabalho quanto da universidade, e teria menos custos dividindo as despesas da casa comigo.
– E, eu juro que não vou te atrapalhar, como você pode perceber, você terá seu espaço no quarto, um banheiro privativo, e todo o sossego e privacidade de que precisa. – afirmei. Se eu estava sendo apenas ousado fazendo aquela proposta ou se estava maluco, nem eu mesmo saberia dizer.
– Nossa! É uma oferta tentadora. Meu contrato de locação está mesmo para vencer no final do mês e isso viria a calhar como uma luva. Por que está me fazendo essa proposta? – questionou ele, me pegando de calças curtas.
– Ora, por todos os argumentos que enumerei! – ele sabia que havia algo mais por trás disso, mas resolveu não me colocar contra a parede. Até porque, estar mais próximo de mim, facilitaria enormemente as coisas para ele.
– Posso te dar uma resposta nos próximos dias? – foi como um balde de agua fria sobre os meus sonhos, mas eu acenei que sim. Talvez apenas eu estivesse enchendo a minha cabeça de caraminholas achando que ele estava tão interessado em mim quanto eu nele.
No meio daquela semana, ele me propôs almoçarmos juntos para combinar os detalhes da mudança. Ele topava vir morar comigo. No dia seguinte, à mesma hora, eu estava em outro restaurante durante meu horário de almoço contando a novidade para o Túlio e para o Bernardo.
– Você o quê? Tá maluco! Nem pensar! Onde já se viu colocar um estranho que você nem sabe quem é dentro da sua casa! Isto está fora de cogitação! Sem falar que foi esse estranho, que na primeira chance, se aproveitou de você! – o Túlio ergueu tanto a voz que metade do restaurante se virou na direção da nossa mesa para saber o que estava acontecendo.
– Ontem você queria ir à polícia denunciar o sujeito e hoje você quer enfiar ele debaixo do seu teto? Estou de pleno acordo com o Túlio, nem pensar! Não vou deixar você fazer uma sandice dessas! – vociferou o Bernardo, também alterado.
– Epa, epa! Qual é a de vocês? Que eu saiba, sou maior de idade, dono do meu nariz, pago as minhas contas e tomo as minhas próprias decisões. Portanto, vão segurando a onda de vocês, porque ninguém vai me dizer o que eu posso ou não fazer com a minha vida. O Marcos se muda lá para casa dentro de alguns dias, antes do final do mês, e está acabado esse assunto. Pensando bem, nem sei porque fui contar isso para vocês dois. – respondi exasperado com a intromissão deles.
– Eu sabia que tinha que estar presente nesse encontro entre vocês dois. O cara é um picareta que soube te levar no bico na maior facilidade. Não satisfeito em tirar o teu cabaço na primeira oportunidade que surgiu, ele agora vai usar esse cuzinho para conseguir tudo o que quiser. – sentenciou o Bernardo, com uma indisfarçável ponta de ciúmes que chegaria até ser engraçada, não fosse a dureza de suas palavras.
– Não foi você mesmo quem disse que o cara era boa gente, que era honesto e responsável e que jamais poderia ter sido ele a transar comigo naquela noite em que você me deixou aos cuidados dele? Me explica essa repentina mudança de opinião, que eu não estou entendo. – retruquei.
– Eu estive com ele por uma meia hora, como poderia fazer ideia do caráter desse cara? Agora que os podres dele estão surgindo, eu me dou ao direito de mudar de opinião. – devolveu ele.
– Que podres? Não fala besteira! Pois eu descobri que ele é mesmo boa gente, depois de conhecê-lo melhor. Argumentei
– O desgraçado só pode ter levado o Caio para cama de novo e dado um belo trato no cuzinho dele para essa súbita mudança de opinião. Vai por mim, o cara meteu outra vez a pica nesse rabo! – sentenciou o Túlio, igualmente se corroendo de ciúmes.
– Eu não admito que vocês falem assim comigo! Vão se ferrar! Do jeito que vocês falam parece que eu sou um imbecil desprotegido e sem noção que se deixa levar por qualquer cantada. Depois desses anos todos, vocês deveriam saber que não sou nada disso, seus putos! – eu estava tão irritado com aquela conversa que deixei-os falando sozinhos e saí pisando firme do restaurante, acabando com aquele encontro do qual já estava tremendamente arrependido.
Na véspera do final daquele mês, o Marcos se mudou. Eu estava radiante, sentia um calor prazeroso no peito e sabia que tinha feito a coisa certa. O Túlio e o Bernardo ficaram de cara virada por umas duas semanas após aquele nosso tumultuado almoço. Eu não ia deixar nossa amizade esfriar ou se perder, mas decidi que não ia mais deixar que me manipulassem com a mesma desfaçatez como vinham fazendo até então.
Ver o Marcos tão logo eu acordava, sentir sua presença se espalhando pelos cantos da casa, desfrutar daquele sorriso a qualquer momento, estava enchendo a minha vida de significado. Ele sentia tesão por mim, me tocava sutilmente com frequência como se esses toques lhe assegurassem uma futura posse irrestrita do meu ser e do meu corpo. Ele não queria avançar o sinal antes de ter a certeza de que o verde estava indicando o caminho livre. Mas, era notório o esforço que fazia para disfarçar as ereções que eu lhe provocava. Eu também não queria precipitar as coisas antes de saber que estava pisando em terreno firme. Tanto quanto ele, eu fazia um esforço gigantesco para me segurar e não me pendurar naquele pescoço cobrindo aquela boca com meus beijos quando ele circulava com aquelas bermudas de elástico na cintura que lhe chegavam até os dois terços das coxas grossas e peludas, sem nada por baixo delas. A visão do caralhão volumoso balançando solto a cada movimento que ele fazia, me deixava com tanto tesão que eu sentia meu cuzinho se contorcendo em espasmos. O Marcos sabia que eu me fazia de difícil, era o que mais o excitava. Sutis e discretas encoxadas quando se aproximava pelas minhas costas era o subterfúgio do qual se valia para dar vazão ao tesão que o queimava e, uma maneira de ver se eu ia ceder e me entregar aos seus desejos. Eu não fugia delas, fingia que não percebia a intenção por trás delas, mesmo quando meu corpo começava a tremer de desejo, sentindo os pelos do peito dele roçando minhas costas e aquela rola enrijecida querendo se insinuar entre as nádegas.
Fazer com que o Túlio e o Bernardo conhecessem melhor o Marcos acabou virando uma questão a ser resolvida. Chamei-os para um churrasco num final de semana. O Marcos havia se proposto a comandar a churrasqueira enquanto eu cuidava das outras coisas. Os dois patetas, antecipadamente, no dia do convite, já me preveniram de que isso não os faria baixar a guarda e nem virarem amiguinhos do sujeito que tinha livre acesso ao meu rabo. Eles ficariam de olho na malandragem que o Marcos queria fazer transparecer uma simples amizade, segundo as palavras do Bernardo, das quais eu caçoei sem o menor escrúpulo.
– A porra do sujeito é bem maior do que eu me lembrava! – grunhiu disfarçadamente o Túlio para o Bernardo quando os fiz entrar e os coloquei frente a frente, tirando momentaneamente o Marcos da churrasqueira na área coberta atrás da cozinha.
– Oi! Sejam benvindos! – a gentileza e receptividade do Marcos eram genuínas e não fruto de uma imposição.
– Oi! Vejo que já está bem alojado e enturmado! – exclamou o Túlio, não disfarçando uma olhada que mediu o Marcos da cabeça aos pés como se estivesse avaliando um rival.
– Olá, tudo bem? – o Bernardo queria parecer cortês, mas também estava avaliando seu oponente.
Não foi exatamente a tarde amistosa que eu havia planejado, mas também não foi nenhum rinque de disputas para ver quem se saia melhor e acabava com o prêmio. Por hora, ficou claro que, se um dia eles fossem se tornar amigos, isso estava num futuro ainda distante. Muitas barreiras teriam que ser derrubadas, e não só do lado do Túlio e do Bernardo, mas do Marcos também.
– Onde conheceu esses dois cães de guarda? – foi a primeira coisa que o Marcos me perguntou depois do Túlio e do Bernardo irem embora. Precisei rir.
– Sério, é isso que pensa deles? Somos amigos desde a infância. Temos nossos altos e baixos, pois os dois são meio castradores, mas é uma amizade que eu preso bastante.
– Meio castradores? Eu já estava me preparando para entrar numa luta corporal com os dois, como se tivesse que defender meu território e meu harém. – devolveu ele. – Nunca rolou nada entre vocês? Pois tive a impressão de que você é território inviolável deles. – acrescentou
– Claro que não! Como eu disse, somos amigos, não rola nada além disso. – asseverei.
– Então de onde vem toda essa ciumeira que eles têm de você?
– Vou ser sincero, ambos já se engraçaram para o meu lado, mas nunca deixei passar disso. Posso te assegurar que nenhum deles sabe explicar essa fixação por mim, acho que se sentem responsáveis por mim, pois acham que não dou conta de cuidar de mim mesmo. O Túlio é aquele heterozão que acha que tem direito a todas as bucetas e cus que cruzam a vida dele. Sempre de brincadeira, ele tentou algumas vezes me botar sob seu domínio. Como não rolou, ele fica de olho afastando quem se aproxima de mim. O Bernardo já é o tipo que não perde uma chance de meter aquela pica no primeiro buraco disponível. É um caçador nato, caiu na rede vira presa, seja homem, seja mulher. Me aporrinhou a vida toda, e ainda não se convenceu de que nunca vai rolar, apesar dos mais criativos estratagemas que usa comigo. Daí, usa a mesma estratégia do Túlio, fica me controlando para ninguém se apossar do que julga ser dele. Já tivemos altos quebra-paus por conta disso, mas nossa amizade sempre prevaleceu. – esclareci
– Tá explicado por que parecem dois leões defendendo o território! Devem ter me colocado na lista de arqui-inimigos depois do que rolou entre nós. – constatou o Marcos
– É meio que por aí! Quando te conhecerem melhor vão perceber que não tem com que se preocupar. – afirmei
– Ou vão virar duas feras!
– A troco de que?
– Eu também não pretendo abrir mão do meu território, e acho que estou um passo à frente deles. – afiançou com uma segurança desconcertante, vindo enlaçar a minha cintura por trás e roçando o cacetão nas minhas nádegas.
Eu não sabia se já era hora de me enredar de vez com ele, de deixar que aquele sentimento que nutria por ele nos transformasse num casal. Tudo indicava esse desfecho, mas pouco mais de dois meses de convívio com uma pessoa não são garantia de um entrosamento para a vida toda. No entanto, eu fui para cama com ele naquela noite, ele precisava saber que se o território fosse declarado livre, ele seria o dono inconteste de tudo. Percebi o quanto isso o deixou feliz e, eu mesmo, me senti nas nuvens. Acalentar aquele macho cheio de tesão no meu cuzinho me dava um prazer enorme e único, pelo qual valia a pena viver.
O fim da primavera trouxe uns dias frios precoces e uma chuvinha intermitente que perdurou por mais de uma semana. O Marcos acabou se resfriando, apesar de eu cuidar para que nunca saísse sem um agasalho leve dentro do carro. Ele estava febril às vésperas de uma prova importante da pós-graduação e chegou em casa após as aulas abatido e cansado. Eu nunca tinha o visto sem aquela energia brotando pelos poros. Ele entrou em casa, largou as coisas num canto do sofá onde eu estava lendo à espera da volta dele e veio deitar a cabeça no meu colo.
– Tô um bagaço! – exclamou, se ajeitando nas minhas pernas
– O mais lindo dos bagaços! – sussurrei, colocando um beijo na testa quente dele. Ele forçou um sorriso no meio do cansaço. Na singeleza desse ato despretensioso, eu descobri o quanto o amava, o quanto precisava dele na minha vida.
Descongelei e aqueci uma sopa que estava no freezer e fiquei observando ele devorá-la até a última gota. A fome dele sempre foi leonina, era outra coisa que eu gostava nele, mas não sabia porquê. Fiz com que subisse e tomasse uma ducha quente antes de se deitar, com a promessa de levar um comprimido para as dores que alegou estarem por todo o corpo. Ele saiu do banheiro nu como veio ao mundo, mesmo sabendo que eu já o aguardava com o analgésico em seu quarto. Parecia não haver mais necessidade de salvaguardar pudores. Vê-lo nu me excitava, me fazia sentir como se cuidar da satisfação daquele corpo e daquele caralhão colossal fosse uma responsabilidade minha, que eu precisava assumir. Nós ainda dormíamos em quartos separados. O segundo sexo que rolou entre nós, naquele dia em que recebemos o Túlio e o Bernardo para o churrasco, não havia mudado nosso acordo de ceder um quarto na minha casa enquanto ele terminava de pagar os custos do tratamento do pai e as mensalidades do MBA. Aquilo tinha data para terminar e, o que viria depois, ainda não estava definido.
O Marcos se enfiou na bermuda do pijama, guardando seu membrão prodigioso e aquele par de testículos cavalares, e escorregou para debaixo das cobertas. Em seguida, tomou o analgésico e afundou a cabeça no travesseiro.
– Durma bem! Se precisar de alguma coisa me chame! – sentenciei antes de apagar a luz e rumar para o meu quarto.
– Caio!
– Oi!
– Obrigado! Obrigado por tudo! Amo você! Boa noite! – Precisei refrear o impulso de voltar até ele, aperta-lo nos meus braços e cobri-lo de beijos. Era isso, eu o amava, amava com todo meu ser.
– Também te amo! Boa noite!
Acordei ouvindo-o tossir no quarto anexo, ele deve ter piorado, pensei e comecei a ficar aflito. Ele não podia perder aquela prova, precisava se sair bem nela, tinha estudado as últimas quatro semanas com afinco, acordando às cinco horas da manhã para estudar, e ficando muitas vezes até bem tarde absorvendo toda a matéria, o que eu comprovava vendo a luz por baixo da porta dele acessa até de madrugada. Entrei devagarinho no quarto, ele estava sentado na cama recostado na cabeceira, a respiração ruidosa indicava um peito congestionado.
– Como você está?
– Essa porra desse resfriado precisava vir justo agora? Dentro de dois dias tenho que estar 100% para aquela prova, e pelo andar das coisas, não é o que vai acontecer. – respondeu ele.
– Vai sim, fica tranquilo! – eu também duvidava, mas precisava injetar ânimo nele.
Busquei o pote daquele descongestionante secular que todas as mães passam no peito dos filhos pequenos quando estão resfriados e voltei ao quarto dele. Munido de uma porção do unguento nas pontas dos dedos de uma das mãos, distribui-o numa camada fina sobre o peito quente dele, em movimentos lentos e suaves que mais pareciam carícias. Ele me observava em silêncio, entregando-se aos meus cuidados. O toque gelado do unguento eriçou alguns pelos, eu supus, mas a revelação dele provou que não.
– Você me ama, não é? – indagou, fixando o olhar cansado no meu
– Amo mais do que você pode imaginar! – respondi. Ele sorriu.
– Esses dedos deslizando por aí estão me deixando com tesão, sabia? – afirmou ele. O movimento do falo dentro da bermuda não deixava dúvida.
– Pensei que estivesse um bagaço.
– E estou, mas um bagaço que não deixa de sentir tesão quanto você me toca. – disse, com um risinho inocente.
Após distribuir o unguento por todo o tronco e pescoço, cobri-o e me preparei para voltar ao meu quarto.
– Fica comigo! – murmurou ele.
– Não sei se é uma boa ideia. Você precisa descansar, recuperar as forças. – aleguei, embora a ideia de me alojar coladinho àquela jeba intrépida latejando entre as pernas dele me seduzisse.
– Fica! – eu fiquei.
Pela manhã ele ainda estava quente, tinha se agitado bastante durante o sono conturbado, mesmo tendo me enlaçado e me mantido colado junto ao corpo. Aconselhei-o a não ir ao trabalho e usar esse tempo para se recuperar, relutante, ele acabou cedendo quando comuniquei que já havia deixado um recado na empresa dele dizendo que estava doente. Durante o dia, liguei para ele diversas vezes, para me tranquilizar e me assegurar de que ele estava se cuidando. Sugeri que consultasse um médico, ele recusou, disse que eu estava sendo exagerado. À noite, quando cheguei em casa, ele estava sem temperatura, tinha uma cara mais saudável e estava mais manhoso do que um gato carente. Devorou o jantar e foi se recolher cedo, aparentemente restabelecido, o que me deixou contente. Dei-me conta de que, da saúde dele, também dependia a minha, e essa sensação de que havia uma conexão entre nós me provocava uma felicidade sem tamanho.
– Deita aqui! – intimou ele, quando passei pelo quarto para lhe desejar boa noite.
– Deixa de ser malandro! Você está bem melhor e não precisa mais de mim. – devolvi
– Sempre vou precisar de você! Vem, deita aqui! – retrucou, erguendo a coberta para que eu me alojasse debaixo dela.
– Só por uns minutos! Depois você trate de descansar e recuperar as energias, vai precisar delas. – não estar mais conseguindo resistir àquele homem era a prova de que estava ligado a ele de forma absoluta.
Pelos céus, só eu sei como foi difícil não permitir que ele metesse o cacetão sedento no meu cuzinho necessitado quando, sorrateiro e libidinoso, fez baixar minha cueca até as nádegas ficarem a descoberto; uma vez que isso poderia pôr em risco a melhora de seu estado de saúde e acabar por impedir que fizesse a prova. Ele ficou amuado por eu me recusado ao sexo, embora soubesse que o fazia para poupá-lo. Mas, a pica insaciada e sacão abarrotado não tinham a mesma clareza de pensamento, eram regidos apenas por instintos primais e animalescos.
O Marcos estava bem quando fez a prova, e saiu-se extraordinariamente, obtendo a maior nota da turma. O MBA estava concluído. Alguns dias depois, também veio a notícia do interior, de que o pai já caminhava sem a ajuda de andadores e, de que as sessões de fisioterapia seriam finalizadas em menos de uma semana. Embora fossem boas notícias, nem ele nem eu parecíamos contentes como deveria ser. Nosso trato, combinado a quase um ano atrás, estava como que sinalizando a partida dele, tinha dado o prazo que havíamos estipulado.
– Vai deixar o aproveitador partir? – havia uma ironia velada na pergunta do Bernardo. – Ele já conseguiu tudo o que queria, está mais do que na hora. – afirmou. Eu, que há dias andava mergulhado numa tristeza sem tamanho, comecei a sentir os olhos marejarem. Eu estava perdidamente apaixonado pelo Marcos, amava-o tanto que não me via tendo uma vida sem ele.
– Você é cruel, sabia? – balbuciei em resposta, quando ele percebeu as lágrimas que inundavam meus olhos.
– Não está mais aqui quem falou! Me desculpe! – exclamou arrependido. – Foi só uma brincadeira. – emendou, colocando a mão sobre a minha.
– Apaixonou, foi isso! Olha para o estado deplorável dessa criatura? Parece um daqueles amantes dos séculos do romantismo, se debulhando em lágrimas por que vai ficar sem seu amado. – sentenciou o Túlio, procurando esconder o quanto minha tristeza o estava sensibilizando.
– Vou pedir para ele ficar. Ele sabe que eu o amo, e sabe também que eu sei que ele me ama. – asseverei.
– Está esperando o quê? Cai de boca na piroca do cara que ninguém mais duvida que você é louco por ele. – disse o Bernardo.
– Sabe com o que eu nunca me conformei em você, e acho que jamais vou me conformar, é com a baixaria a que você leva o que diz. – censurei-o. – O Marcos, para mim, não se limita a um corpão viril, a um garanhão sedento, a uma pica. Eu o amo, estou apaixonado por ele, estou apaixonado pela primeira vez na minha vida, sabe lá o que é isso? – confessei.
– Estamos te zoando! É duro admitir, mas o parrudão venceu a parada, essa sua bundona perfeita é dele. – consagrou o Túlio.
– E vocês são dois babacas! – exclamei
– Dois babacas que você também ama de paixão, admita! – um olhou para o outro e ambos começaram a rir.
– Por onde andou, está com uma cara! Até parece que andou chorando! Já estava ficando preocupado com a sua demora. – afirmou o Marcos assim que entrei em casa, bem passado do meu horário habitual.
– Fui me encontrar com o Túlio, o Bernardo e uns amigos. – respondi.
– Meus contendores! Porém, isso não explica a cara sorumbática de choro. – devolveu ele
– Não chorei! Você não tem rivais, nunca teve, ao menos comigo! – retorqui, para que soubesse da minha fidelidade ao que sentia por ele.
Ele conhecia a origem da minha melancolia, ambos a carregavam há dias. Veio me abraçar quando fiquei próximo dele, me encarou por uns segundos, afagou meu rosto e colou vagarosamente sua boca na minha. Nos minutos seguintes, nossas bocas estavam se devorando, lábios ficavam aprisionados, as línguas protagonizavam uma dança ardente e sensual, movendo-se ao sabor do tesão que havia incendiado nossos corpos. Aos poucos, fui ficando nu em plena cozinha, as roupas amontoadas aos meus pés, minha pele sendo devassada por suas mãos e por seus beijos úmidos. Os dentes dele arranhavam meus mamilos enrijecidos e eu gemia cada vez que ele os tracionava. Meus braços o envolviam como tantas vezes eu havia fantasiado, pendurado ao pescoço musculoso dele e sentindo meu corpo roçando no dele. Havia uma ereção gigantesca dentro da bermuda dele produzindo uma saliência dura que resvalava nas minhas coxas. Eu me contorcia nos braços dele sussurrando seu nome junto ao ouvido e pousando beijos em seu cangote. Ele me debruçou sobre a mesa, encoxou minhas nádegas e mordiscou minha nuca, provocando um arrepio que desceu feito um raio pela minha coluna, indo parar junto ao cuzinho piscante. Um dedo entrou com furor no meu cu, e eu soltei um gritinho; ele o moveu lá dentro fazendo círculos que me torturavam de prazer. Deixei o Marcos se apossar de mim sem resistência, apenas evidenciando o quanto eu o queria. Achei que ele fosse me enrabar ali mesmo, tomado de uma sanha primal. Sem tirar o dedo do meu cuzinho, ele me levou pendurado ao seu tronco até o quarto. O dedo rodopiava no meu rabo e ele me encarava dominador, quase tirano, se deleitando com meus gemidos lascivos. Próximo à cama, deixei-me deslizar pelo corpo dele até ficar de joelhos diante da bermuda distendida. Puxei-a para baixo e caralhão deu um salto lançando algumas gotas de pré-gozo no meu rosto. Ergui meu olhar na direção dele e, segurando a rola com ambas as mãos, coloquei-a na boca, comprimindo meus lábios ao redor da cabeçorra. Ouvi o gemido rouco e longo dele brotando do fundo do peito, e me pus a chupar, lamber, mordiscar, deixando aquela verga ainda mais atiçada. Ele grunhia, me agarrava pelos cabelos e afundava meu rosto nos pelos pubianos cheirando a macho. Quando me mostrou o vídeo que gravou no dia em que nos conhecemos, ele disse que eu engoli até a última gota da porra que ele ejaculou na minha boca, e que eu dizia ser o mais delicioso drinque que já havia provado. Eu estava grogue naquele dia, mas não hoje, hoje eu estava em pleno domínio da minha razão, e ia degustar essa porra com a mesma devoção daquele dia. Ignorei os alertas dele de que estava prestes a gozar se eu continuasse com a gula desenfreada da minha boca em seu pau. Retesado, ele ejaculou deixando que os jatos abundantes inundassem minha boca e lavassem a minha cara, esparramando seu esperma sobre ela.
– É mesmo delicioso! Não estou confuso nem drogado, sei muito bem o sabor que estou provando. – murmurei para ele.
– É toda sua! Engole e lambe a porra do teu macho como fez naquele dia, mesmo que eu acabe maluco de tanto tesão. – ronronou ele, enquanto eu me encarregava de fazer o que ele pedia.
Há muito eu já havia limpado o pau dele com a minha língua, e estava agora chupando o sacão, ora colocando um dos testículos entre os lábios e massageando-o até os pentelhos ficarem molhados da minha saliva, ora passando para o outro e repetindo as mesmas sugadas carinhosas. Ele se deitara de costas, cabeça apoiada sobre as mãos cruzadas atrás da nuca, pernas bem abertas para que eu continuasse a brincar livremente com seu sexo cavalar. De vez enquanto ele gemia, no mais, só se ouvia a respiração profunda e arfante dele, desfrutando do prazer dos meus afagos.
– Feliz? – perguntei, quando escorreguei sobre ele me encaixando em seus braços.
– Muito! Como nunca! – respondeu ele junto com o sorriso sincero.
– Eu também, desde que você entrou na minha vida! – confessei. – Prometa que não vai deixar essa casa, que não vai me deixar. Sei que tínhamos um trato, mas não sei mais viver sem você.
– Nunca mais vou ‘te’ deixar! Você é a minha perdição, Caio! Te amo acima de tudo. Eu procurei o amor de uma forma muito diferente, mas só o encontrei, o verdadeiro amor, quanto te conheci. Jamais imaginei estar tão perdidamente apaixonado por um homem – revelou ele.
Beijei-o com ternura, ele rolou para cima de mim, abriu minhas pernas e puxou meus joelhos até encostarem nos meus ombros, enfiou a cabeça entre as minhas coxas e a língua no meu reguinho exposto. O tesão quase me levou à loucura, antes de ele pincelar a pica ao longo do rego e apontar a cabeçorra sobre a minha fenda anal. Gani ao sentir minha carne se dilacerando e a rola grossa abrindo caminho através da mucosa anal macia e receptiva. Seu olhar estava fixo no meu quando começou a meter a pica lá para dentro em arremetidas potentes. Como ondas, num vaivém cadenciado, arremetendo vigorosamente contra as rochas de um penhasco, ele lançava todo seu peso contra o meu cu exposto. Cada arremetida estocava o cacetão dele tão profundamente em regiões dentro de mim, que nunca haviam sido tão estimuladas, provocando um prazer incomensurável. Eram as estocadas mais revigorantes, a despeito da dor que provocavam, e me faziam gemer de satisfação. Meu gozo veio sem que eu o refreasse, esporrei empapando meu ventre. Gemi o nome dele e cravei meus dedos em suas costas. Ele sorriu.
– Amo você! – balbuciei inebriado pelo prazer
A impetuosidade dele aumentou, as estocadas se tornaram mais brutas e contundentes me obrigando a ganir e encher o ar do quarto com a nossa luxúria. Achei que ele não fosse gozar nunca, eu já não estava mais aguentando aquele macho enorme me fodendo com toda aquela energia. Puxei-o para um beijo e chupei a língua que ele enfiou em mim. Seus músculos reagiram, se contraindo até ficarem rijos como uma rocha, o caralhão mergulhou mais uma vez até as profundezas, deixando apenas o sacão de fora, aprisionado entre meus glúteos carnudos. O urro assomou aos lábios que eu beijava e ele começou a gozar. A pica ejaculava uma infinidade de jatos para esvaziar os colhões abarrotados me fazendo sentir a virilidade daquele meu macho encharcando meu cuzinho lanhado.
– Nunca vou me cansar de ouvir que me ama! Serei um eterno escravo desse coração. Amo você, Caio! – ronronou ele, arfando, antes de se deixar cair sobre mim. Nossos mundos estavam completos, nossa felicidade estava completa, nossas vidas estavam completas, não carecendo de mais nada.

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