Apaixonado pelo pai do meu melhor amigo

O Kadu e eu viemos ao mundo no mesmo dia; ele, apressadinho como sempre, meia hora antes do que eu. Acreditem, ou não, essa mísera meia hora ele usava como trunfo para se vangloriar de que era o mais velho e, portanto, era eu quem tinha que me sujeitar às suas vontades nas brincadeiras, era ele quem determinava o que e como deveríamos fazer as coisas na época em que estudávamos no mesmo colégio e, obviamente, controlava cada um dos meus passos quando eu costumava viajar para a casa de praia da família dele. Apesar disso tudo, nos tornamos muito amigos, daqueles que muitas vezes têm um status maior do que irmãos de sangue. Era o nosso caso. Ele veio a ter esses irmãos, na verdade uma irmã e um irmão, nos anos que se seguiram, mas eu continuei a ser filho único.

Nossos pais se conheceram por residirem no mesmo condomínio, em casas quase coladas uma à outra. Nossas mães trocavam amistosas conversas sobre a evolução da gravidez que ambas estavam passando pela primeira vez. Falavam da expectativa do parto, reclamavam dos sintomas desagradáveis do primeiro trimestre, faziam o pré-natal com o mesmo ginecologista, e deixavam os maridos quase loucos com a montagem do quarto dos bebês, do enxoval e de toda uma série de mimos reservados aos primogênitos. Chegaram ao ponto de já num estágio mais avançado da gravidez, quando uma dizia estar sentindo o nenê se mexendo na barriga, a outra, segundos depois, experimentar a mesma sensação. Desse modo, o Kadu e eu fomos sendo criados numa relação estreita de amizade que foi se consolidando e intensificando ao longo dos anos.

Tínhamos uma única e grande diferença, nossos pais. Enquanto o pai dele era daquele tipo que sempre desejou ter filhos, que se engajava na sua criação, era participativo nas brincadeiras com cada um deles e curtia verdadeiramente estar na companhia deles, o meu se tornou pai para satisfazer o maior desejo da esposa. Ele, por si mesmo, não fazia questão nenhuma de se tornar pai. Crianças, suas demandas, suas travessuras e os problemas que traziam para cria-los lhe causavam repulsa. A presença delas no mesmo ambiente em que ele se encontrava o irritavam e, quanto mais distantes dele, mais ele gostava delas. Essa disparidade de pensamento, fez com que o Kadu e eu tivéssemos uma criação muito díspar nesse aspecto. Enquanto o pai dele sempre estava presente, o meu preferia a companhia dos amigos numa roda de bate-papo regada a cerveja do que passar umas poucas horas jogando videogame comigo. Ele nunca entrou no meu mundo; aliás, as vezes em que entrou no meu quarto foram raríssimas. Quando se via forçado a fazer algum programa comigo, nunca me perguntou do que eu gostava ou o que estava afim de fazer. Era ele quem definia a programação e eu me tornava um mero coadjuvante. Ele as vezes me levava aos estádios para assistir as partidas de seu time, sabendo que eu detestava futebol. Durante as viagens de férias ele sempre insistia para minha mãe levar uma babá quando era pequeno, para não terem que abrir mão das diversões e, quando já adolescente, ele me propunha levar algum amigo com quem eu pudesse me distrair sem atrapalhar a programação deles. Já o pai do Kadu, Murilo, parecia voltar à infância quando estava com os filhos, tudo virava uma enorme brincadeira onde ele se destacava por sua criatividade, alegria e cuidados. Toda vez que a família do Kadu ia passar as férias de verão na casa de praia deles num condomínio no litoral, ele fazia questão de me levar com eles e, desta forma, ele foi se tornando como um pai para mim, pois me tratava da mesma maneira com que tratava e zelava pelos próprios filhos. Por vezes o Kadu chegava a sentir ciúmes dessa relação do pai dele para comigo, embora seus protestos se limitassem a alguns resmungos quando me via sendo coberto com o mesmo afeto dele e dos irmãos.

Talvez por toda essa dinâmica familiar, eu tenha me tornado um adolescente retraído e tímido, por achar que meu pai não me queria. Eu sabia que ele gostava de mim, disso não duvidava, mas também sabia que se não tivesse vindo ao mundo, isso em nada abalaria a vida que meu pai sempre desejou para si. Ao passo que o Kadu era o exemplo vivo do que é um moleque pentelho e travesso. Aquele apoio incondicional do pai lhe dava o aval para fazer o que bem quisesse e se, quando necessário, era castigado por alguma travessura, esse castigo era tão brando que ele não tirava nenhuma lição com aquilo.

O jeito meio atrevido e ousado do Kadu o fez angariar tanto alguns amigos quanto alguns inimigos no colégio. Seus amigos formavam a galera mais bagunceira da turma, enquanto seus inimigos iam aumentando à medida em que ele queria se impor frente a eles, sem um mínimo de tato, ou até mesmo chegando às vias de fato nas brigas que arrumava, valendo-se de seu porte atlético e superioridade física. Já eu, apesar da timidez, me socializava com muita facilidade. Hoje em dia, refletindo sobre isso, chego a pensar que, de alguma forma, eu sempre estive à procura de um irmão ou irmã. Eu me entrosava rápido com as outras crianças e elas logo acabavam gostando de mim, o que fazia meu círculo de amizades ir crescendo com o avanço da idade. Contudo, mesmo com mais amigos, o Kadu continuava sendo aquele irmão dos meus sonhos e, por mais desavenças e perrengues pelos quais passávamos, mais unidos nos tornávamos.

Algumas meninas e eu erámos considerados os CDFs da turma. Eu sempre ocupava a primeira fileira na cara do professor, com uma caligrafia bonita meus cadernos eram um primor em aparência e conteúdo, minhas notas sempre entre as mais altas da classe. Acho que também isso era reflexo do que eu vivia em casa, eu queria que meu pai sentisse orgulho de mim, que reconhecesse meu esforço para agradá-lo, talvez assim ele me visse com outros olhos. O tempo foi passando, mas aqueles – muito bom! – pronunciados sem muito sentimento, por todo esforço que eu fazia, nunca mudaram. Enquanto isso, o Kadu precisava de uma vigilância estrita para fazer as tarefas de casa, para estudar para as provas, para dedicar um mínimo às questões escolares. Foram raras as vezes em que o vi levando algumas palmadas, geralmente da mãe, por ser tão relapso nos estudos. Foi também ela quem o obrigou a fazer a lição de casa e a estudar comigo, abrindo ainda mais espaço na casa deles para que eu o guiasse por um caminho mais ajuizado. Eu o fazia mais por gratidão a eles do que pelo Kadu, que tinha o poder de bagunçar e me atrapalhar nos meus próprios estudos. Toda vez que eu não alcançava alguma nota como tinha planejado, na competição secreta e acirrada que costumava fazer com os outros CDFs da classe, eu jogava a culpa nele.

– Você ficou com a média 9,5 uma das maiores da turma, do que está reclamando, Theo? Para que todo esse mimimi? Deixa de ser tão viadinho! Para que mais do que isso? 9,5 já está bom demais, eu fiquei com 5,5 e não estou reclamando de nada! Até dei graças a Deus por não ser menos e ter que aturar toda aquele lenga-lenga dos meus pais. – dizia ele, quando eu despejava minha frustração e minha raiva por não ter tiradoPara a próxima prova não quero nem ver essa sua cara perto de mim quando estiver estudando! Quer se ferrar, que se ferre sozinho! – advertia eu, mas acabava nunca cumprindo por que ficava com pena daquele estrupício.

Um dia, após a festa de aniversário de dezoito anos do Kadu, o inesperado aconteceu, os pais dele anunciaram oficialmente que estavam se separando. Tinham deixado para dar a notícia após a festa para não estragar a comemoração, mas estavam falando a respeito fazia algum tempo. Foi um baque para os filhos pegos de surpresa, nunca tendo desconfiado que o clima entre os pais andava frio e distante, embora jamais tivessem presenciado alguma discussão entre eles.

Eu estava em casa, no meu quarto, surfando na Internet, após terminar de fazer algumas pesquisas para um trabalho da faculdade quando o Kadu veio ter comigo. Fechei apressadamente o notebook para que ele não visse o site no qual eu estava, pois seria difícil explicar o que eu estava procurando naquela página cheia de homens parrudos, peludinhos e pelados, exibindo caralhões que tinham me deixado de pau duro.

– Que porra de situação! Agora fodeu tudo! Não sei o que deu na cabeça do meu pai para fazer uma merda dessas com a gente. Deve ter arrumado alguma puta por aí e fodeu com toda a família. – queixou-se ele, jogando-se displicentemente sobre a minha cama, todo arrasado.

– É triste, sem dúvida! Imagino como está se sentindo! – respondi solidário, indo me sentar perto dele e colocando sua cabeça no meu colo, onde ele se deixou afagar na cabeleira desalinhada, como em muitas outras ocasiões anteriores quando vinha se consolar por algum motivo comigo.

– É mais do que triste, é uma merda! A Mirela e o Daniel estão lá chorando feito dois otários, e pedindo para eles reconsiderarem. Como se um casamento que foi para as picas tivesse o que ser reconsiderado. São dois panacas, não se conformam com a realidade. – afirmou

– Eles só estão demonstrando o que sentem, é natural que estejam arrasados, foi mesmo uma surpresa e tanto! – argumentei. – Você também está mal, portanto, deixe que eles extravasem a dor deles do jeito que quiserem.

– Mas também não precisavam se debulhar em lágrimas! Tudo bem a Mirela chorar, é mulher e, já viu, elas choram por qualquer merda! Mas o Daniel aí também não é para tanto, isso é coisa de viado, ficar chorando pelos cantos da casa. – sentenciou ele.

– E é por que chorar é coisa de viado que você está com essa cara prestes a cair aos prantos, mas dando uma de machão que você veio aqui pedir colo? Pode chorar se quiser, só estamos nós dois aqui, e eu não vou contar para ninguém. Sei que está doendo muito aqui dentro! – exclamei, colocando a mão sobre o peito dele.

– Vou chorar o caralho! Só porque meu pai fez uma merda qualquer e fodeu com tudo eu não vou chorar, não sou viado! – retrucou ele exasperado.

– Uma separação nunca é motivada só por um dos parceiros! Não dá para jogar a culpa só em cima de um, ambos têm sua parcela de culpa, se é que se pode chamar de culpa, o desgaste de um relacionamento. – argumentei

– Claro que foi ele! Ele que é o homem, deve ter aprontado alguma para a minha mãe e deu no que deu. – afirmou, posicionando-se contra o pai.

– Você tem uns conceitos meio esquisitos! Só por que ele é homem quer dizer que é culpado pelo casamento não estar mais dando certo? De onde você tira tanta bobagem? – questionei

– Não é o homem que sempre fode com tudo? São eles que saem por aí caçando qualquer vadia que se lance nas picas deles, são eles que se deixam enrolar pela primeira puta aproveitadora que lhes dá moleza, sem pensar na esposa e filhos que estão em casa.

– Larga mão de ser machista, Kadu! Quanta besteira para um cara da sua idade e, principalmente vivendo nesse mundo de hoje, ficar dizendo. Olhe à sua volta, as mulheres não são nenhumas santas, pelo contrário, com essa história de feminismo, de libertação da mulher, elas não são mais aquelas vítimas do passado. Seguramente não são todas, mas têm muita mulher por aí bem mais vagaba que muito homem. Não me entenda mal, não estou querendo dizer que sua mãe tem culpa de alguma coisa, ou que nenhuma mulher presta. Como eu disse, uma relação se desgasta, chega ao fim por diversos fatores e por ações ou negligências de ambos. Eu só acho que você está sendo muito injusto com seu pai, ao atribuir toda a culpa nas costas dele. Seu pai é um cara muito família, aposto que ele está sofrendo muito com o fim do casamento. – afirmei

– Minha mãe nunca ia fazer alguma coisa para magoar a gente, para magoar meu pai! Quem fodeu com tudo foi ele, pode apostar! Ainda não nos contaram o que de fato aconteceu, mas eu aposto que foi ele. – retrucou convicto

– Quer dormir aqui essa noite? Você está um farrapo! Quando começar a chorar, ao menos vai estar abrigado num lugar onde é muito querido, e onde pode deixar as emoções saírem sem ser julgado.

– Quero, não tem clima para voltar para casa! Eu não vou chorar, seu bestalhão, já falei! – revidou zangado

– Está bem, você não vai chorar, já entendi! Machão não chora, então Kadu não chora! – exclamei.

– Cala a boca, Theo! Se quiser ver choro, chore você, viadinho! – não esperava por outra resposta, no entanto, ele continuava com a cabeça no meu colo, deixando que meus afagos aplacassem aquela dor que lhe sufocava o peito.

Ele demorou a pegar no sono. O Murilo veio procurar por ele depois de algumas horas, preocupado com o sumiço dele após a revelação. Quando minha mãe lhe disse que ele estava comigo, e que eu o estava consolando, voltou para casa mais aliviado sabendo que, como de outras ocasiões, eu tinha todo um jeitinho carinhoso para lidar com as tristezas do filho dele.

Quando o Kadu adormeceu, eu ainda estava sem sono e, com ele dormindo, não vi inconveniente em voltar ao notebook e continuar me deliciando com aquela infinidade de machos, que me atraiam como moscas no mel. Se ele soubesse que eu comecei a me interessar por homens justamente pelo homem musculoso, gostoso e viril que o pai dele era, talvez me trucidasse com suas próprias mãos.

Foi há dois anos, durante as férias de verão, que passei com a família do Kadu na casa de praia, enquanto meus pais faziam uma viagem pela Europa. Até hoje lembro-me do momento exato em que aconteceu, foi como se uma flecha me penetrasse, contaminada por uma poção mágica que mudou tudo o que eu sentia. Fazia uma manhã linda, o sol tinha aparecido cedo fazendo com que aquela leseira ao acordar nos mantivesse nas camas se espreguiçando até mais tarde. A sensação de não ter nenhum compromisso, a não ser curtir o dia, tinha deixado a pressa para se aprontar para ir à escola lá no planalto, em São Paulo, portanto, até longe do pensamento. Fomos todos para a praia logo após o desjejum, enquanto a faixa de areia grossa e levemente amarelada da enseada ainda não estava lotada de veranistas. Após um rápido mergulho nas águas ainda um pouco frias, iniciamos um pequeno campeonato familiar de frescol, o Kadu, o irmão dele, eu e o Murilo, sempre em duplas, enquanto a mãe e a irmã se bronzeavam ao sol. O irmão do Kadu foi o primeiro derrotado e abandonou o campo assim que foi derrotado pelo Kadu, por mim e pelo Murilo. Eu fui o segundo a sair do campeonato, tendo perdido para o Kadu e para o pai dele. Restaram os dois em quadra numa disputa acirradíssima, pois o Kadu era extremamente competitivo e não aceitava as derrotas com facilidade. Depois da minha desclassificação, fui me sentar com a mãe e a irmã do Kadu, apreciando a partida entre os dois de certa distância.

Nessa época eu já não tinha a menor dúvida de que era gay, que sentia atração física por alguns garotos do colégio, que homens sarados e musculosos me levavam a ter sonhos eróticos, que corpos nus ou seminus de machos não deixavam nem meus olhos piscarem enquanto os observava. Porém, como a quase totalidade dos gays ao se descobrirem homossexuais, eu fingia ser um garoto normal, para todos os efeitos eu era heterossexual, ligeiramente tímido e introvertido, mas aparentemente hetero. Naquela época, nem sob tortura, eu admitiria ser gay, pois havia tantas coisas envolvidas nessa descoberta que me deixavam apavorado, só de pensar em alguém descobrindo meu segredo.

E lá estavam eles, Murilo e Kadu, um com seu tronco sólido onde uma abundância sensual de pelos formavam redemoinhos e uma trilha densa que descia até a barriga, ombros largos, corpão suado de macho atraente aos 39 anos, metido num short do qual saíam suas pernas grossas e peludas, e onde um imenso volume se movia a cada salto ou lance que ele dava para rebater a bola; o outro, ligeiramente mais esguio, mas igualmente atlético, com menos pelos cobrindo seu torso vigoroso, mas bem densos nas pernas musculosas, que saíam de uma sunga na qual se podia conferir o contorno de uma jeba colossal. Tão logo os hormônios começaram a mexer com a minha libido, eu descobri que o Kadu era um tesão de homem. No entanto, eu não pensava nele como homem, como alguém participando das minhas fantasias sexuais, para mim ele era apenas o Kadu, o Kadu amigo, o Kadu quase irmão. O que fixou meu olhar e começou a me deixar inquieto, como eu mencionei, tal qual uma flecha carregando uma poção mágica que veio se cravar no meu peito, foi aquele homem sedutor e másculo que, até então, tinha sido só o pai do Kadu, o vizinho de condomínio, o homem que tinha me levado junto com seus filhos para todo canto e diversão. Naquela manhã, vendo-o comemorar a vitória sobre o filho primogênito como se fosse um garotão da mesma idade, com todo aquele vigor, aquela alegria contagiante, aquela certeza de sua capacidade, eu senti que estava literal e perdidamente apaixonado por ele. Tinha deixado de ser aquela admiração que eu tinha sentido até então, para ganhar contornos bem mais nítidos, sentimentos bem mais profundos, esperanças quase utópicas de um dia me ver envolvido em seus braços, de sentir aquele corpão enlaçado no meu, e de entregar minha virgindade aquele macho. Sim, macho, pois era essa a nova imagem que eu tinha dele, um macho protetor e carinhoso, um macho que saberia exatamente o que fazer com o meu corpo para que eu conhecesse o verdadeiro significado da palavra prazer.

– Topa pegar umas ondas, Theo? Vamos lá, pega sua prancha! Você vem ou não, Theo? Theo, caralho, você está me ouvindo, cacete? O sol já derreteu teus miolos, que não me ouve! – escutava eu, como se fossem apenas murmúrios que não me diziam respeito.

– Hein? O que? Hã! – balbuciei confuso, enquanto a imagem do pai dele e esses pensamentos libidinosos não se desvaneciam. – O que você quer agora, garoto? Parece maluco! Que bicho te mordeu? – emendei, ao voltar minha atenção para ele.

– Maluco é você! Faz meia hora que estou falando com você! Vamos pegar umas ondas para você esfriar essa cabeça, que doido, cara! – retrucou inconformado.

Peguei minha prancha e o acompanhei, pois o pai dele tinha se deitado sob o guarda-sol e a presença dele tão próximo de mim e daqueles pensamentos lascivos, estava começando a me deixar de pau duro. A última coisa que eu precisava era passar por esse vexame em plena praia. Nos dias subsequentes e até o final da temporada, toda vez que o Murilo se aproximava de mim eu sentia meu corpo se incendiando com fogachos que brotavam das minhas entranhas, que deixavam meu cuzinho num assanhamento peculiar que eu nunca havia sentido antes. Eu ficava até retraído perto dele com receio de que ele viesse a perceber o que eu estava sentindo. Pode ter sido apenas uma impressão, um devaneio de adolescente descobrindo sua sexualidade, mas eu achei que o Murilo também mudou naquele verão. Ele parecia não me achar mais aquele moleque que estudava e brincava com seu filho, ele parecia enxergar em meu corpo algo que nem eu mesmo sabia que existia nele, um forte e persuasivo poder de sedução.

Passei a sofrer de uma paixão platônica pelo Murilo. Aquilo que eu pensei ser apenas uma atração física, que logo passaria assim que eu encontrasse um rapaz da minha idade com a mesma testosterona que circulava nas veias dele, foi se somando a um sentimento avassalador que deixava meu coração numa alegria suprema toda vez que estava perto dele, toda vez que sentia o carinho com o qual ele me tratava, toda vez que sentia aqueles olhos procurando por alguma coisa dentro dos meus. Com a consciência e o crescimento desse sentimento, meu medo de que viessem a descobrir que era gay se tornou quase uma paranoia. Imagine se descobrem que estou apaixonado pelo pai do meu amigo, um cara que também poderia ser o meu pai, se as circunstâncias fossem outras; só isso era suficiente para eu viver um idílio e um pesadelo ao mesmo tempo.

Do mesmo jeito que eu abriguei o Kadu no meu colo e o consolei pela separação dos pais, eu queria fazer com o Murilo, cobrir aquele homem de carinho num momento que eu sabia estar sendo muito difícil e sofrido para ele, talvez mais do que para qualquer outro membro daquela família. Me ver de mãos e pés atados, sem poder fazer nada por ele para mitigar aquela dor, estava me deixando angustiado.

Alguns dias depois, a mãe do Kadu saiu de casa levando consigo seu irmão e sua irmã, e se mudaram temporariamente para a casa dos pais dela, deixando o Kadu por ser a casa deles mais próxima da faculdade que ele estava cursando. Os avós maternos do Kadu tinham uma grande parte da culpa daquele casamento não ter dado certo. Eles implicaram com o Murilo desde os tempos de namoro entre os dois. O fato de o Murilo ser bastante jovem à época, com seus 20 anos e engravidado a filha deles, cinco anos mais velha do que ele, quando não passava de um conquistador de vaginas, fez com que eles o detestassem desde o início. Embora aos 21 anos quando do nascimento do Kadu, o Murilo tenha sofrido uma guinada de 180° em sua personalidade, tornando-se um cara responsável, batalhador, trabalhando horas à fio e concluindo a faculdade à noite para dar conta de prover todas as necessidades da esposa e do recém-chegado nenê, abdicando de muitas coisas próprias em favor da família que acabara de constituir, eles sempre o desprezaram, e nunca esconderam isso. Nos bastidores, eles iam envenenando a cabeça da filha contra ele, colocando defeitos em qualquer atitude dele, mesmo ela sendo genuína e desprovida de qualquer crítica, eles torciam a verdade e o pintavam como vilão. A filha é uma mulher mimada, sem personalidade, sujeita a acreditar nas coisas mais fantasiosas, mesmo que a verdade esteja nua e clara diante de seus olhos. Esse era um dos motivos pelos quais minha mãe, apesar de vizinha e com muitas coisas em comum, nunca ter se afeiçoado verdadeiramente por ela, sempre mantendo uma distância respeitosa e fria, o que aquela mulher jamais percebeu.

O relacionamento do Kadu com o Murilo, a partir daí, só viu um caminho descendente. O Kadu passou a condenar o pai por tudo o que tinha acontecido para o desmantelamento da família, repetia, sem pensar por si próprio, os mesmos dizeres que ouvia dos avós, tornando a convivência entre eles um verdadeiro inferno. Foi com isso que descobri mais uma das inúmeras qualidades do Murilo, ele era compreensivo com o filho rebelde, procurava com jeitinho e carinho contornar todas as dificuldades daquele relacionamento conturbado, pela imaturidade do Kadu, por suas provocações sem sentido, por suas imposições infundadas.

– Você não passa de um garotinho ridículo e mimado fazendo birra! Sinceramente, teu pai é um santo para aturar suas provocações. Fosse o meu, você já teria levado uma bela de uma surra bem merecida! – declarei, num dia em que presenciei mais uma de suas desavenças com o pai.

– Não se mete! Isso não é da sua conta, fica na sua! – revidou ele, se achando cheio de razão. – Ou vai sobrar para você também!

– Eu sei que não é da minha conta, mas convivi tantos anos com vocês que fico ressentido que as coisas tenham chegado a esse ponto. E não pense que eu vou me calar só porque você está me ameaçando. Você não passa de um cretino imaturo que precisa encontrar um culpado para as tuas frustrações. – afirmei, deixando-o ainda mais possesso.

– E você não passa de um viadinho da porra que resolveu encher o meu saco! – revidou. Toda vez que ele queria me agredir, me chamava de viadinho ou seus sinônimos, embora não tivesse prova alguma de eu ser gay.

Ele se valia desse palavreado porque sentia um tesão não confessado por mim, tinha um ciúme inadmitido cada vez que me via sendo abordado com intimidade por algum outro amigo e, como não tinha nenhuma certeza da minha sexualidade, ficava jogando verde para ver se colhia maduro. Como minha discrição não dava sinal algum da minha homossexualidade, a incerteza era sua única conclusão.

– É isso que você acha, que eu sou um viadinho só porque peito suas burrices sem nenhum receio, então vai virar homem, seu babaca. Por que até hoje você não sabe o que é ser homem! – devolvi, irritado nem tanto pelas palavras dele, mas com o que estava fazendo com o pai, esse sim um homem valoroso pelo qual eu estava perdidamente apaixonado.

– Qualquer hora dessas eu vou te mostrar o que é ser homem com isso aqui, ó! – revidou, agarrando e sacudindo o pinto dentro da calça. Bastou eu cair na gargalhada para ele sair pisando firme, como faria qualquer molequinho que tivesse levado uma bronca dos pais.

A zanga dele nunca perdurava, quando muito, de um dia para o outro, tinha sido sempre assim. No entanto, agora que lhe faltavam outros suportes, ele voltava horas depois, todo dengoso e cheio de gracinhas sem, contudo, jamais se desculpar, reconhecendo em nossa amizade o que de mais valioso tinha lhe restado.

– Topa ir no shopping comigo? Meu avô me deu a grana para comprar aquele celular que eu te falei, não é maneiro? – era por aí que os avós maternos dele mantinham a fidelidade dos netos, fazendo suas vontades.

– Você não tem vergonha de ser visto nos corredores do shopping ao lado de um viadinho? Olha que isso vai colocar a sua reputação de macho em xeque! – retruquei, para provocá-lo, pois ainda estava bravo pela nossa discussão daquela manhã.

– Não tenho não! Basta as pessoas olharem para o volume que eu tenho no meio das minhas pernas para saberem quem é o macho aqui! Além do mais, eu quero que todos se fodam! Nunca tive vergonha de andar na sua companhia, seu viadinho do caralho! – respondeu caçoando.

– Nossa, quanta sutileza e segurança, a do rapaz! Precisa fazer propaganda do tamanho do pinto para convencer as pessoas de sua masculinidade. Isso é que é macho! – retruquei zombando.

– Não sei porque não te dou umas porradas! Afinal, você vem ou não vem comigo?

– Você não dá porque me ama! – exclamei rindo

– O caralho que eu te amo! Meu negócio é buceta! – devolveu fazendo muxoxo.

Isso eu precisava reconhecer, era verdade. O Kadu sempre foi mulherengo, assim que entrou na puberdade, bem antes do que eu, mal conseguia ficar perto de uma garota que lhe despertasse o interesse, para ficar de pau duro. O pior era que ele não só vinha me contar, como também me mostrava o cacete todo excitado, numa cumplicidade desconcertante. Pelo histórico do Murilo, eu bem podia imaginar de quem ele tinha herdado essa tara desenfreada. Nesse período, quando os hormônios dele guiavam o pouco juízo do qual dispunha, essa tara também era dirigida ao meu corpo que ainda não tinha ganho as características masculinas, mas que já exibia curvas generosas e uma definição de músculos sensuais o bastante para lhe provocar ereções indiscretas. Quando eu entrei na puberdade, quase dois anos depois dele, eu até gostava de sentir aquela sensação de desejo que o olhar dele expressava.

O verão daquele ano, quase seis meses depois da separação do Murilo, que se desenrolava num divórcio litigioso, as costumeiras férias na casa de praia não tiveram o mesmo fascínio e alegria dos anos anteriores. Apesar do clima conturbado, eu aceitei o convite tanto do Murilo quanto do Kadu, para lhes fazer companhia. Qualquer oportunidade de ficar perto do Murilo era suficiente para eu me sentir nas nuvens. Eu estava tão encantado por ele que já não me bastava sentir aquela paixão platônica sozinho. Querer que ele me notasse, que percebesse o amor que estava sentindo por ele tinha se tornado quase uma obsessão. Até comecei a negligenciar os cuidados para camuflar minha homossexualidade afim de ele perceber os sinais que eu muito sutilmente lhe dava. Eu sabia que ele os notava, mas não o demonstrava. Talvez fossem os problemas com o divórcio, a opinião dos filhos, a censura dos sogros, ou um misto disso tudo que o impedia de demonstrar qualquer sentimento em relação ao que eu estava sentindo. Até mesmo ele não estar interessado em mim, passou pela minha cabeça, embora houvesse algo no olhar dele que me indicava o contrário.

A discussão, mais uma delas, começou quando eu estava ausente, e tinha tomado proporções como nenhuma das anteriores. Quando me aproximei deles, os ânimos estavam tão exaltados que eu não reconheci nenhum deles, ambos tomados de uma belicosidade exacerbada e de uma fúria primitiva e animalesca. O Kadu, completamente transtornado, dizia coisas horríveis ao Murilo, injustas, desprovidas de verdade, escabrosas. O Murilo, por seu lado, também tinha perdido as estribeiras, tinha suportado até então a revolta do filho ainda sob a ótica compreensiva de um pai, mas dessa vez, o Kadu tinha ultrapassado todos os limites da razoabilidade. Eles estavam a um passo de se agredirem fisicamente quando intervi.

– Parem com isso, chega! Você não tem o direito de tratar seu pai dessa maneira, Kadu! Você está sendo injusto e mesquinho! Não aja como um moleque, você não tem mais idade para agir dessa maneira! – sentenciei em voz alta para que minhas palavras superassem os berros da discussão, desafiando o filho. – Você perdeu o controle, Murilo! Tente ser razoável, por mais cretino que ele esteja sendo, ainda é seu filho! – argumentei, encarando o pai.

– Não se meta! Eu já mandei você não se meter no que não é da sua conta! – gritou o Kadu, direcionando sua raiva contra mim.

– Eu me meto sim, seu moleque mimado! Se você não consegue se conformar com a separação dos teus pais, isso é problema seu, coisa de fedelho mesquinho e egoísta! Não é só você quem está sofrendo com toda essa situação, seu pai também está. Ao invés de ficar tentando jogar a culpa por cima dele, deveria se solidarizar com o sofrimento dele. – sugeri

– Cala a boca, Theo! Vá se foder! Quem você pensa que é para ficar me dando conselhos? Vá à merda, cara! – revidou ele, me fuzilando com o olhar

– Cale-se você, Kadu! Chega, moleque! Não vou mais aturar seus desaforos. Basta! – gritou o Murilo

– Eu falo como e o que quiser! Esse viado do caralho não tem que se meter nos nossos assuntos familiares!

– Eu não estou me metendo nos assuntos familiares de vocês, estou me metendo nessa discussão, na injustiça que você está cometendo contra o seu pai, um homem que te deu de tudo, que fez das tripas coração para que você e seus irmãos tivessem uma vida feliz. Esse homem maravilhoso não merece o que você está fazendo com ele. Ele merece o seu amor, a sua compreensão. Se você o amasse assim como e….e… ele merece, não agiria como um pirralho sórdido. – tomado pela emoção, quase me declarei, mas tão logo me conscientizei do que estava para deixar escapar, senti o peso da mão cerrada do Kadu atingir meu rosto em cheio, me desequilibrando e me atirando sobre um móvel ao qual precisei me agarrar para não cair no chão!

– Como você se atreve, moleque! Nunca mais toque nele, nem em um fio de cabelo dele, está me entendendo! – gritou o Murilo, desferindo um soco no ombro do filho que o fez igualmente perder o equilíbrio e ser lançado contra uma parede.

Estava feita a desgraça. Ligeiramente atordoado, fui tentando me levantar com a ajuda do Murilo que, revoltado com a atitude do Kadu, acariciava meu rosto de cuja boca escorria o sangue produzido pela laceração do lábio superior contra os meus dentes. Os olhos do Kadu estavam arregalados, instantaneamente paralisado pelo que tinha feito tomado pela raiva que acabou dirigindo contra mim, ele se conscientizou de seu erro.

– Não quero olhar mais para essa sua cara, Kadu! Pegue suas coisas e saia da minha frente, saia da minha casa, moleque, ou não respondo por mim! – sentenciou o Murilo, tomando uma atitude drástica.

– Nem precisa mandar! Eu estou cheio faz tempo dessa merda! Estou cheio da sua casa, cheio de você! – exclamou o Kadu aos berros, indo juntar suas coisas para voltar para São Paulo.

O Murilo me abraçou, me puxou para junto do tronco dele todo carinhoso, como se quisesse me compensar pela agressão do filho. Sua mão grande e pesada deslizava suavemente sobre o meu rosto. Seus músculos ainda tensos pela adrenalina que a discussão desencadeou estavam retesados, seu coração batia forte e acelerado, só aumentando o meu prazer de estar amparado por aquele homem incrível.

– Vamos cuidar desse ferimento. Isso eu não vou perdoar! O Kadu vai aprender uma lição na marra, chega de ser condescendente, chega de ser compreensivo. Ele nunca devia ter feito isso com você, um amigo tão fiel, um rapaz tão sensível e carinhoso. – afirmou o Murilo

– Está tudo bem! Me desculpe por ter me metido na discussão de vocês, é que eu não estava mais aguentando ver ele te tratando dessa maneira. – lamentei compungido.

Nesse momento não aguentei mais aquele olhar com o qual ele me encarava, tão doce, tão apaixonado e, sem refletir, levei minha mão ao rosto hirsuto dele e o afaguei com toda ternura e paixão que sentia por ele. Ele se inclinou ligeiramente na minha direção, enquanto eu erguia meu rosto na direção dele, a respiração dele roçou meus lábios doloridos onde ele pousou cuidadosa e carinhosamente os dele. Soltei um gemido com a pressão sobre o corte no meu lábio e o beijei com toda intensidade do meu sentimento. Ele segurou minha cabeça entre as mãos e prendeu meu lábio inferior entre os dele, num beijo carregado de paixão. Minhas mãos tateavam sobre o peito másculo dele, roçando aqueles pelos numa sensualidade irrestrita. As dele foram descendo pelas minhas costas nuas, sentindo insaciáveis a lisura da minha pele, fazendo sua respiração acelerar e se tornar mais ruidosa, enquanto o tesão se apoderava do corpo dele.

– Desculpe, Theo! Perdi a cabeça, desculpe! – exclamou, procurando se mostrar arrependido, quando sentiu que o falo estava começando a ter uma ereção. – Sou um sujeito abominável, fazendo isso com você. Direcionando minhas carências incestuosamente para um garoto meigo como você. – disse ele

– Não é não! Você é o homem mais maravilhoso que eu conheço! Não pode se sentir assim, não é incesto, eu não sou seu filho. – argumentei, porque tudo o que eu queria era que ele me desejasse como gay, como um parceiro com o qual quisesse fazer amor, um amor libidinoso, um amor de apaixonados, um amor sexual.

– Mas tem idade para ser! E é amigo do meu filho, que eu vi crescer junto com ele. Não posso agir assim!

– Assim como, Murilo?

– Com … com… paixão, Theo! – confessou. – Eu nunca desejei tanto ouvir aquela frase que você não concluiu há pouco, aquela que habilmente você terminou contornando as palavras para esconder o que sente por mim. – admitiu.

Então ele sabia. Eu devia ter desconfiado, devia ter sabido interpretar aqueles olhares, devia ter sabido decifrar aonde ele queria chegar com aqueles adjetivos carinhosos que usava para comigo, mas eu nunca tinha me apaixonado antes, eu nunca tinha sentido um amor por mim que não fosse paternal ou de amigos, eu nunca soube o que é um homem feito o Murilo estar apaixonado por mim.

– Qual, aquela em que eu estava prestes a admitir que te amo? – indaguei

– Você não imagina quantas vezes sonhei com você me dizendo isso. Você deve me achar um pervertido, por estar apaixonado por um rapaz que podia ser meu filho. Peço que não diga isso a ninguém, que me perdoe por não controlar meus sentimentos. – pediu ele

– Você é o primeiro homem que eu amo, Murilo! Por ser gay, nunca me achei com o direito de ser amado por um homem como você, másculo, com filhos, heterossexual. Eu acreditava que gays não deviam e nem podiam sonhar com homens como você, que esse tipo de homem não era feito para nós, mas você bagunçou tudo aquilo no que eu acreditava, e eu só queria te amar, como te amo, por inteiro. – confessei.

– Vamos enfrentar muitas dificuldades e recriminações, mas por você e com você ao meu lado, estou disposto a enfrentar o mundo se for preciso. – eu ainda estava num impasse em acreditar que tudo aquilo não estivesse sendo apenas um sonho, que eu acordaria a qualquer momento e perceberia que tudo não passava de outro dos meus devaneios.

Porém, aquele beijo, aquela língua se movendo libertina na minha boca, aquelas mãos amassando minhas nádegas e aquela ereção consumada resvalando nas minhas coxas não era uma quimera, era um macho viril de carne e osso deixando seu tesão guiar suas ações, se apoderando de mim e do meu corpo da maneira mais sublime e lasciva que uma paixão pode consumar. E, eu me entreguei a ela, de corpo e alma.

Ao perceber que eu retribuía sua investida, o Murilo me levou para o quarto, desceu as persianas deixando o quarto envolto numa leve penumbra de privacidade, arriou meu short e acariciou demoradamente minhas nádegas com suas mãos firmes, enquanto se consumia de tesão fixando seu olhar nos meus olhos apaixonados. Comecei tímido a tocar naquele corpão vigoroso, grande, viril. Aquele torso sólido e peludo me fascinava, eu queria me sentir dono de tudo aquilo, e deslizei as pontas dos dedos por toda superfície dele, fazendo com que o Murilo começasse a arfar, a se mostrar inquieto com a suavidade daqueles toques. Meus dedos pareciam ter vontade própria, no afã de sentir todo aquele macho, eles rumaram para os ombros largos dele, desceram para sobre os bíceps musculosos e os apalparam, tornaram a subir em direção ao pescoço maçudo e foram acalentar aquele rosto sereno que me encarava cheio de desejos inconfessáveis. Aquela boca de lábios úmidos pela qual saía o hálito morno dele precisava ser beijada, e eu a cobri delicadamente com a minha, voltando a sentir a pontada de dor do lábio lesionado. Mas, ele parecia ter se esquecido desse detalhe e, tão logo sentiu o calor e a umidade fresca dos meus lábios, prendeu-os entre seus dentes, chupou-os e mordeu-os antes de enfiar sua língua até a minha garganta, deixando o tesão falar por si. Deslizei minhas mãos pelas costas dele, arranhando-as carinhosamente com as unhas até alcançar sua cintura, onde a contornei até chegar abaixo do umbigo peludo dele. Lentamente, enquanto chupava a língua intrépida dele, enfiei a mão dentro do short perpassando os densos e grossos pelos pubianos até alcançar o cacetão babado dele. Um sopro forte entrou na minha boca, era o gemido de prazer que o Murilo soltou ao sentir seu caralhão latejando na minha mão macia. Subitamente, minha inexperiência me deixou perdido. Eu tinha o homem pelo qual estava apaixonado diante dos meus olhos, me desejando; senti seu corpo pedindo pelo meu, segurava o pauzão cavalar sedento dele na minha mão e não sabia o que fazer com tudo aquilo. Ele percebeu minha hesitação, deslumbrou-se com ela e assumiu o controle. Vagarosamente foi empurrando o short para baixo, como se não quisesse me assustar com o tamanho e o arrojo do cacetão que tinha entre as pernas. Pasmo e enfeitiçado por aquela rola descomunal, reta, pesada, com um emaranhado de veias calibrosas circundando-a, uma cabeçorra ainda mais imponente toda molhada, apoiada sobre um sacão igualmente gigantesco pendendo flácido e pesado com suas duas vertiginosas bolas perfeitamente distinguíveis dentro dele, eu me deixava seduzir pelo aroma almiscarado que ela liberava. Ainda sem saber o que fazer com aquela jeba quente e latejante que tinha na mão, minha boca foi se enchendo de saliva, ainda havia um pouco do gosto de sangue misturado a ela quando a deglutia, mas isso foi me confirmando o que eu precisava fazer, colocar aquela cabeçorra babada e cheirosa na boca e saborear aquele macho com todo meu empenho e carinho.

Eu comecei timidamente a lamber e a sugar o sumo translúcido, viscoso e levemente salgado que minava da uretra larga do Murilo em golfadas fartas, até porque meu lábio ferido, bastante sensível, restringia meus movimentos. Porém, aos poucos, aquele néctar foi me fazendo sublimar e esquecer a dor, querendo sorvê-lo todo, sem perder uma gota sequer. O Murilo se contorcia, gemia soltando o ar entre os dentes, agarrando meus cabelos e afundando meu rosto na sua virilha. Eu não soltei aquela pica grossa e quente nem por um segundo, chupei-a avidamente, meus lábios e língua a percorriam em toda sua extensão, da cabeçorra até o encontro com o sacão peludo, lambendo e mordiscando delicadamente a pele coberta pelo emaranhado de veias intumescidas; enquanto o Murilo grunhia, lançando a cabeça para trás com os olhos chegados como que para não se distrair com nada além da minha boca sedenta e habilidosa mamando seu caralhão. De vez em quando, ele prendia minha cabeça com força, dava um impulso vigoroso para a frente e afundava a glande na minha garganta, quase me sufocando com o ar que me faltava. Toda musculatura da minha mandíbula doía de tanto que eu me esforçava para abrir a boca de modo a caber parte daquele pauzão, mas isso não superava meu desejo de continuar mamando o falo dele. Eu estava massageando os colhões ingurgitados com a língua quando senti o sacão se retesar, as bolonas mais consistentes, um frenesi se apossando do Murilo, e ele se apressando a colocar novamente a cabeçorra dentro da minha boca para esporrar o primeiro jato de esperma dentro dela. Mal acreditando no que fui capaz de fazer, eu ergui meu olhar na direção dele, e fui engolindo jato após jato, nove ao todo quando quase me engasguei contando-os à medida que os engolia, ouvindo o urro surdo e contido que escapava do fundo do peito do Murilo. Nada tinha me deixando tão feliz como aquele momento.

Ele me tomou em seus braços quando terminou de gozar, me apertou com força, procurou minha boca lambendo meu pescoço e meu queixo até chegar a ela, onde mais uma vez me beijou tomado pela cobiça. O cheiro do sêmen dele havia se impregnado em mim, me fazendo descobrir que minha atração por homens excedia em muito o que eu supunha. Ficamos abraçados deitados na cama, ele recostado na cabeceira, eu sobre o seu peito, balançando no ritmo da respiração cadenciada dele. Achei a nudez dele sexy, todos aqueles músculos, as coxas e pernas grossas e peludas, as mãos potentes, a voz grave e determinada com a qual me elogiou pelo prazer que tinha acabado de lhe proporcionar, a conversa madura que se seguiu, tudo nele me fazia sentir tesão. Minha mão coçava, inquieta, desesperada para afagar todo aquele macho, deslizando suave sobre a pele, enovelando a trilha de pelos que seguia rumo à virilha, brincando com o cacetão e as bolas, o que logo o levou a ter outra ereção. O pauzão engrossava vagarosamente entre os meus dedos, o sacão se enrugava, o Murilo começava a sentir o corpo sendo tomado pela testosterona e ia se apossando de mim, amassando minha bunda, intensificando os beijos, apertando os biquinhos enrijecidos dos meus mamilos, que a seguir lambeu, chupou e mordeu. Espasmos contraiam todo meu corpo, pela primeira vez senti tesão no cuzinho, após ele ter me deixado de pau duro, migrou em direção ao cu e revolvia involuntariamente as minhas pregas. Cuidadosamente ele comprimiu o polegar sobre elas, sentiu minha fenda anal, pressionou o polegar até ele se alojar no meu cuzinho, o que me fez soltar um gritinho alarmado, nunca antes alguém estivera ali, no que eu tinha de mais íntimo e resguardado. Minha respiração acelerada e a maneira voraz como eu o acariciava denunciavam o meu desejo para a conjunção. Ele soube interpretar todos esses sinais, me deitou de bruços, abriu minhas pernas, apartou as bandas da bunda e enfiou o rosto barbudo no fundo do meu reguinho liso até sua boca morder as bordas da minha rosquinha anal. Aquela foi uma sensação quase divina, celestial, que me fez gemer desvairadamente. Agarrei o primeiro travesseiro que minhas mãos encontraram, amassei-o, mordi-o sem parar de gemer. Aos poucos o Murilo foi escorregando para cima de mim, seus braços envolvendo meu tronco, sua respiração excitada fungando na minha nuca, o caralhão soltando seu visgo no meu reguinho enquanto deslizava para cima e para baixo dentro dele. Eu queria gritar, liberar todo aquele frenesi que agitava minhas entranhas, foi uma espera que me pareceu durar séculos, até eu sentir a primeira forçada contra meu orifício anal. Quando ela se tornou dolorosa, eu gani e o Murilo a retraiu. A segunda foi mais intensa, distendeu meus esfíncteres até o limite de sua elasticidade, e meu ganido foi mais pungente. Mais uma vez o Murilo retraiu o cacetão duro que relutava em obedecer. A terceira foi tão abrupta e potente que rasgou minhas pregas, mergulhou no meu cu, provocou um solavanco que se espalhou por todo o meu corpo e me fez gritar de dor. Ao final do grito, o Murilo estava dentro de mim, seu caralhão pulsando entre as minhas carnes dilaceradas, meus esfíncteres o encapando e acolhendo receptivos e cheios de amor para dar. Ele só se contentou quando o cacetão inteiro estava enfiado no meu cuzinho, preenchendo até o mais exíguo espaço daquele rabo carnudo e acolhedor. O Murilo me desvirginou com toda delicadeza, me fodeu até se saciar, arregaçando meu cuzinho até deixa-lo todo lanhado e sangrando. Eu só gemia sentindo aquele intruso tão desejado revolvendo minhas entranhas, atiçando meu tesão, me levando ao gozo logo nas primeiras estocadas, tão alucinado e tão sôfrego eu estava. O prazer foi tamanho que eu nem senti o gozo jorrando da minha pica, só percebi que aquela sensação única e sublime que parecia não ter fim, tinha molhado o lençol. Mesmo após o gozo o prazer continuava, pois o Murilo continuava bombando meu cu, metendo o caralhão em mim num vaivém vigoroso, gemendo e grunhindo com todo seu peso sobre mim. A ardência nas minhas pregas se tornou quase insuportável, ganidos e gemidos já não davam conta de expressar o que eu sentia, enquanto o Murilo continuava a socar a jeba no meu rabo receptivo. Quando o urro gutural dele anunciou o gozo, eu já estava sem forças, deitado languida e submissamente debaixo dele, sentindo os jatos de porra dele inundando meu cuzinho.

– Eu te amo! – consegui gemer no limiar das minhas forças, certo do que estava afirmando, uma certeza que aquele coito só ratificou.

– Jamais me imaginei dizendo isso, Theo, mas eu te amo com todo o meu ser, te amo como homem, te amo como macho. – verbalizou ele, arfando e deixando seu corpão pesado cair todo sobre o meu, enquanto o caralhão continuava dando pinotes no fundo meu cuzinho e começava lentamente a amolecer.

As quatro semanas que se seguiram foram as mais maravilhosas da minha vida. Estávamos apenas eu e o Murilo na casa de praia depois que ele expulsou o Kadu de casa, em meio a toda aquela privacidade, aos dias ensolarados com os quais o final de verão nos presenteou, as noites de brisa quente com o céu pontilhado de estrelas que insentivou longas caminhadas pela praia quase deserta, à exceção de um ou outro casal que também aproveitava a ausência do burburinho diurno, e a volta ao ninho quando nus consumávamos demoradas trocas de carinho, sexo devasso e beijos apaixonados. Era a vida com a qual eu sempre sonhara se tornando real, eu não precisando me esconder atrás de uma máscara, podendo ser eu mesmo, um homem maravilhoso para amar e ser amado por ele, esse homem voltando a sua mais primitiva constituição se fazendo macho e me proporcionando prazeres que jamais supus existirem. Era assim que eu podia definir aqueles dias.

O Murilo criou um perfil anônimo no Facebook só para nós dois, cuja privacidade ficava restrita apenas aos nossos acessos, e que serviria para registrar toda a magia que estava vivendo ao meu lado. Nele, eu registrei, apesar das palavras não conseguirem expressar toda a emoção e profundidade dos meus sentimentos quando ele me desvirginou, cada sensação que ele me fez sentir durante o coito. Aquela explosão de sentimentos precisava ser registrada, mesmo que o resto do mundo nunca viesse a saber de sua existência, e eu os coloquei todos ali, em apenas um parágrafo. Quando o leu, o Murilo se mostrou muito emocionado.

– Não fazia ideia de que tinha sido um momento tão emblemático para você. A maneira como o descreveu, como me valorizou nesse processo, foi algo inesperado e comovente, não sabia que tinha gostado tanto. – afirmou

– Foi o melhor e mais maravilhoso momento da minha vida, Murilo! Sentir um homem estupendo como você dentro de mim, transbordando toda sua virilidade, paixão e desejo por mim, como sempre sonhei, foi o melhor presente que a vida me deu. – confessei, diante do olhar úmido com o qual ele me encarava.

– Ah, garotão, você não existe! Você vira a cabeça de qualquer macho, com esse seu jeitinho meigo, afetuoso, discreto e tímido de ser. Em quase vinte anos de casamento e com nenhuma mulher com quem estive antes, senti que me amaram tanto quanto você vem fazendo nesses poucos dias desde nosso primeiro sexo. Fico me perguntando se sou merecedor disso tudo.

– É Murilo, você é merecedor não só do que estou lhe entregando, mas de muito mais. Eu o amo tanto, só quero te fazer feliz. – revelei

– Também te amo, e já sou o mais feliz dos homens, apesar de ter descoberto isso só agora.

Com o reinício das aulas na faculdade, e do fim das férias do Murilo, subimos a serra voltando para São Paulo. Parecia haver um silêncio pesado entre nós, cada um mergulhado dentro de si mesmo cogitando o que seria da nossa relação dali para a frente. Havia um receio de que aqueles dias mágicos passados no litoral se tornassem apenas uma lembrança prazerosa.

– Você já pensou como ficamos agora, voltando às nossas rotinas? – perguntou ele, enquanto guiava o carro pelas curvas que a estrada fazia serpenteando entre as montanhas.

– Me perguntei isso desde que acordei esta manhã. Estou com medo, Murilo, medo de que tudo acabe. – confessei.

– Não vai acabar! O amor que eu sinto por você não finda com a nossa volta, disso você não precisa ter receio. – garantiu. – O que precisamos fazer, é encontrar um jeito de continuarmos nos encontrando, o que em teoria deveria ser algo descomplicado sendo vizinhos, mas que diante de toda situação pela qual estou passando, pode se transformar em algo bem mais difícil de implementar. Até a conclusão do meu divórcio, não posso cometer nenhum deslize, dar qualquer motivo para que o advogado da minha esposa possa levar essa questão ao tribunal. E, isso inclui obviamente nossa relação. Também não quero que ela sirva para meus filhos se oporem a você, especialmente o Kadu, que pode vir a ser tornar um grande problema com aquele temperamento explosivo dele e, a amizade de vocês. – argumentou

– Eu compreendo as suas preocupações, elas também são minhas, acrescida de mais uma, meus pais, mais especificamente meu pai. Ele nunca vai entender, nunca vai aceitar, e eu temo pela reação dele quando souber. Vou precisar ir preparando o terreno aos poucos, minimizando o impacto que isso vai causar nele. – ponderei.

– Vamos fazer as coisas tudo a seu devido tempo. Com o divórcio concluído, eu mesmo vou falar com ele, vou dizer o que sinto por você e que quero que venha morar comigo, que seja meu parceiro. Será uma conversa de homem para homem, por mais que ele relute, terá que aceitar que queremos e temos o direito de viver o nosso amor. O mesmo se aplica aos meus filhos, terão que aceitar, não lhes darei outra opção. – a firmeza com a qual ele me dizia aquilo que dava certo alivio, mas eu sabia que tínhamos uma batalha imensa pela frente.

O fato de o Kadu não estar mais morando com o pai, restringia um pouco as minhas idas à casa do Murilo, pois não tinha como justificar aos meus pais o que estava fazendo ali. Mesmo assim, ele e eu acabamos encontrando uma forma de não interromper nossos encontros, que se tornaram um pouco mais esparsos é verdade, mas não menos intensos ou desprovidos do tesão que nos levava a momentos intensos de paixão e sexo. Afim de manter a discrição que a situação exigia, nossos encontros aconteciam quase exclusivamente na casa do Murilo, onde ele vivia só desde a separação e a expulsão do Kadu. Consideramos que era o lugar mais seguro, onde dificilmente poderíamos ser flagrados nos amando. E assim foi, até que alguns meses depois, o Kadu precisou de um material para a faculdade que havia deixado na casa.

Meus pais estavam viajando, tínhamos todo final de semana a nossa disposição, livres para dar vazão aqueles desejos represados pelas circunstâncias. Acordamos juntos naquele sábado para o qual não tínhamos feito nenhuma programação que não fosse deixar o tesão guiar nossas ações. Antes mesmo de abrir os olhos, senti o braço do Murilo me envolvendo, e ele se achegando mais a mim. Meu cuzinho ainda estava sensível e úmido com toda a porra que ele havia ejaculado em mim na noite anterior, o que não me impediu de perceber meu desejo crescendo, à medida em que a imensa ereção matinal dele roçava meu reguinho. Ronronei quando ele me perguntou se já estava acordado, o que o levou a beijar meu ombro e sussurrar no meu ouvido questionando se eu estava sentindo como ele estava precisando de mim. Sonolento, balbuciei um ‘sim’ e deslizei uma das pernas mais para cima de modo que minha bunda ficasse franqueada à investida dele. Ele grunhiu um – tesudo gostoso – enquanto mordiscava minha orelha e, lentamente metia a cabeçorra através dos meus esfíncteres, o que me fez ganir e ele virar meu rosto em sua direção de modo que pudesse beijar minha boca, sufocando meus ganidos à medida que ia enfiando todo o cacetão no meu cuzinho. Como a elasticidade dos meus esfíncteres era insuficiente para o tamanho e a grossura do caralhão do Murilo, eu sempre acabava rasgado e com um pouco de sangue escorrendo das lesões. Sempre que eu via alguma menção em sites de pornografia ou contos eróticos do ativo arregaçando o cu do passivo, eu achava que aquilo não passava de uma descrição exagerada, de uma fantasia para aguçar as mentes de quem estivesse lendo ou vendo aquelas cenas tórridas de sexo selvagem. No entanto, desde a minha primeira vez, era exatamente isso que o pintão grosso de 24 centímetros do Murilo fazia com o meu cuzinho. Ele me confessou que algo semelhante sempre esteve no imaginário dele, quando os colegas durante a adolescência relatavam suas experiências sexuais mencionando como eram estreitas e apertadas as bucetas nas quais metiam seus cacetes. Ele, porém, nunca experimentou algo nem remotamente parecido com aqueles relatos, que atribuiu às bravatas de quem os contava, uma vez que nem as duas virgens que deflorou eram tão estreitas como faziam crer aquelas estórias mirabolantes. A primeira vez em que sentiu que seu pauzão não ia caber numa fenda apertada e estreita, foi no meu cuzinho quando se viu no dilema de arrebentar ou não minhas pregas sabendo que isso ia me machucar e causar uma dor tão pungente que eu talvez não o quisesse mais depois daquilo.

– E eis que você só me devolveu carinho depois de eu ter te arregaçado, e continua dando toda vez que transamos. Às vezes me sinto um crápula quando te vejo todo machucado pelo tesão desenfreado com o qual te fodo, sabia. Acho que você merecia um homem mais gentil, menos dotado, menos tarado do que eu. – expressou, quando terminou de me enrabar naquela manhã, deixando meu cuzinho arregaçado e sangrando como quase em todas as vezes que trepávamos.

– Eu não me importo! É você o homem que eu quero, exatamente do jeito que você é, sem tirar nem pôr nada. Você é gentil, é carinhoso, é todo cuidados para comigo, me ama e me deseja, o que mais eu posso pedir, sou o gay mais privilegiado desse mundo por ter um homem como você. – respondi, cobrindo-o de beijos que só o atiçavam ainda mais.

Ambos estávamos na cozinha preparando um café da manhã atrasado ao mesmo tempo que um almoço adiantado, pois tínhamos saído tarde da cama, quando o Kadu chegou sem aviso abrindo a porta com a chave que ainda mantinha em seu poder, e nos flagrou no meio daquela intimidade toda, quase nus, com os cabelos ainda molhados pelo banho que tomamos juntos e com aquele clima de sexo recente denunciando nossos atos.

– Que porra está rolando aqui? – questionou, não por estar surpreso, mas por constatar aquela intimidade toda. – Você deu o cu para o meu pai, seu viadinho do caralho? Deu? – continuou, elevando a voz.

– O que você quer aqui? Que eu saiba, tinha te mandando para fora de casa depois do que você fez com o Theo! – interveio o Murilo, furioso com aquela intromissão.

– Agora estou entendendo tudo! Você me expulsou de casa para poder fornicar com essa bichinha traidora. Então era por isso que você queria se separar da mamãe, para poder comer esse viado dentro da nossa própria casa. Você não vale nada, pai! Você não presta! – berrou descontrolado.

– Cala a boca, Kadu! Eu não vou ouvir mais nenhum insulto da sua parte. Não tenho que te dar satisfações da minha vida! Passa essa chave e dá o fora daqui! Eu ainda estou com aquele soco que você deu no Theo entalado na minha garganta, não me faça perder a cabeça e te colocar daqui para fora à base da porrada. Você já me irritou o suficiente! – respondeu o Murilo.

– Eu devia ter quebrado toda a sua cara, não dado apenas um soco! Você está transando com o meu pai, seu viado puto, e traidor! Como você teve coragem de fazer isso comigo? Fala, viado! – o Kadu concentrava toda sua raiva contra mim.

– Não foi nada intencional, Kadu, eu juro! Simplesmente aconteceu, um dia eu percebi que estava apaixonado pelo seu pai, fiquei na minha, nunca contei nada para ninguém, nem para ele mesmo. Só que naquele dia lá na casa de praia não deu para segurar mais, você culpando seu pai por algo que não é só culpa dele, e dizendo todos aqueles absurdos, ofendendo-o, foi demais para eu me calar e foi demais para não querer que depois que você partiu, consolar seu pai como ele merece. – afirmei

– E você resolveu consolar ele sentando na pica dele, não foi! Caralho, eu não estou acreditando nessa merda toda! Você me traiu, Theo, traiu nossa amizade! Você fingindo, escondendo de todos que é gay, despistando toda vez que eu tentava descobrir qual era a sua, e agora seduzindo meu pai, é muita putaria! – esbravejava ele

– Não seduzi seu pai! Eu já disse, aconteceu, Kadu! Nós descobrimos que nos amávamos, mas carregamos esse sentimento dentro de nós para não magoar ninguém, acredite. – pedi

– Não magoar ninguém, essa é boa! Vocês foderam com tudo e com todos! – revidou. – Eu só quero ver a cara do seu pai quando souber que tem um filho viado e que esse viadão está dando o cu para um cara casado com a mesma idade dele. Já pensou, Theo? Já pensou o que seus pais vão achar disso? – por um momento estremeci com a ameaça velada que suas palavras carregavam.

– Você não tem nada que se intrometer na vida do Theo e da família dele! Diga o que veio fazer aqui e dá o fora! Enquanto você continuar agindo como um selvagem preconceituoso, eu não quero olhar para essa sua cara! – sentenciou o Murilo.

– Eu não posso me intrometer na vida da família dele, mas ele pode se meter na nossa! Quanta consideração, pai! Quanta ironia! – revidou. – E o que vocês pretendem, fazer isso aqui que estão fazendo agora, brincando de marido e mulher numa casinha? Trepando no leito nupcial feito um casalzinho apaixonado? E o que mais, talvez até criarem um filho juntos, como uma família decente, mesmo vocês sendo dois pervertidos, é isso? – continuou, conjecturando. – Eu não podia encostar na sua bunda quando a gente estava estudando juntos no quarto, que você logo ficava todo zangado e ofendido, mas para um cara que tem idade para ser seu pai você abriu as portas do cu e deixou ele fazer o que quisesse no seu rabo de bicha safada. O que você vai fazer daqui a uns vinte anos, quando a pica dele não der mais conta do recado e seu cu ainda estiver pedindo um cacete duro? E o que vai fazer quando ele estiver caquético, vai trocar as fraldas mijadas dele, com esse amor que você diz sentir pelo mau pai? Eu mesmo respondo. Não! Você vai sair por aí procurando um caralho que dê conta de apagar o fogo que arde no seu rabo, como qualquer gay filho da puta faz por aí. – despejou revoltado

– Você é um cretino, Kadu! Eu vou te colocar daqui para fora é agora mesmo! Seu moleque desaforado! – ameaçou o Murilo, partindo para cima dele.

– Parem, por favor, vocês dois, parem! Não vamos resolver nada com agressões. – intervi, para que o Murilo não desferisse um soco no Kadu e este não revidasse a agressão.

– Acalme-se e ouça, Kadu! Sei que está com raiva, sei que toda essa situação te deixou sem rumo, mas procure enxergar as coisas sem todo esse preconceito e essa mágoa. Eu te conheço, sei que é um cara incrível, sempre nos entendemos, sempre gostamos um do outro. Isso não precisa mudar. – argumentei. – E sim, se eu por ventura um dia precisar trocar as fraldas do homem que eu amo, eu o farei com o maior orgulho. É isso que o amor faz com a gente, ele não nos restringe aquilo de que não gostamos, ele nos dá forças para seguir adiante mesmo nas adversidades. E eu amo o seu pai, é por isso que quero viver ao lado dele. – conclui.

– Vejamos então o que os teus pais acham disso! Dessa felicidade toda de vocês dois! – mais uma vez senti um calafrio percorrendo minha coluna, ao perceber que a minha felicidade podia terminar com meia dúzia de palavras proferidas num surto de vingança.

Quando o Kadu foi embora, o Murilo veio me abraçar, ficamos um tempo abraçados, em silêncio, digerindo aquela raiva toda que ele havia despejado sobre nós.

– Não deixe que isso abale sua felicidade! A sentença do divórcio saiu esta semana, era o que eu queria te contar para comemorarmos, e ela foi totalmente favorável a mim, pois durante o desenrolar, descobrimos que minha esposa já estava tendo um caso com um cara que conheceu anos antes de nos casarmos. Não contei nada para as crianças ainda, e não pretendia contar, pois sei que isso os deixará arrasados, com uma péssima imagem da mãe, o que também não acho justo, pois não posso negar que uma boa mãe dedicada ela sempre foi. – revelou, me deixando boquiaberto. – E quanto aos seus pais, acho que também chegou a hora de termos uma conversa sincera com eles, não precisamos mais nos esconder como se fossemos dois criminosos. – argumentou

– Meu pai vai me matar! – consegui balbuciar ao procurar refúgio no torso portentoso dele.

– Não vai, não! Estarei ao seu lado, e não vou deixar que nada de mal te aconteça, meu amor!

Eu pedi ao Murilo que adiássemos a conversa com os meus pais por alguns dias, pois ia ter uma semana tumultuada na faculdade, cheia de provas e com uma monografia por entregar. Assim eu teria cabeça para ir sondando e preparando o espírito deles para um assunto tão delicado. No entanto, no meio dela, ao regressar no início da noite para casa, dei de cara com o Kadu e meus pais, completamente aturdidos, sentados na sala numa formalidade opressora, quando ele sempre tinha sido recebido como um membro da família, livre para circular pela casa como se fosse um de nós, privilégio do qual apenas ele, entre todos os meus demais amigos, gozava. Meu sangue gelou nas veias e eu pensei que ia ter uma síncope quando meu pai me encarou.

– Você pode me explicar o que te fez agir como uma puta barata oferecendo seu cu para os machos? – a pergunta me atingiu como um punhal, por alguns segundos, me faltou o ar e fiquei tão mudo quanto uma estátua. – Anda, Theo, me responda! – exigiu furioso, e envenenado pelo que o Kadu lhes contara.

– Como você foi capaz, Kadu? Depois de todos esses anos de amizade, de tudo que compartilhamos, como teve coragem para tamanha vilania? – questionei, com um nó na garganta e os olhos marejados. Ele não teve coragem de me encarar.

– Estou esperando, moleque! Me responda por que se transformou numa prostituta, seu desavergonhado? – continuou a exigir meu pai.

– Eu estava para contar a vocês que sou gay, pai. Juro que ia contar! – respondi, procurando conter o choro e o desespero que tomou conta de mim.

– Você é gay, ok! Com isso até dá para tentar lidar. Mas, você foi muito além disso, não foi? Você está se deitar com um homem que tem idade para ser seu pai, afora sabe-se lá com quantos outros esteve se prostituindo por aí! E sua devassidão não contente em dar o cu, foi se envolver com o pai do seu melhor amigo, numa traição abjeta, tanto para ele quanto para nós! O que você pretende com isso, Theo, que sua mãe e eu sejamos apontados na rua como os pais do mais depravado viado da cidade, é isso? – gritava ele, como jamais havia gritado ou me abordado antes. – O Kadu acaba de nos revelar que até em cima dele você deu, oferecendo seu cu quando pensávamos que vocês dois estavam apenas estudando no seu quarto. Nem seu próprio lar você poupou da sua libertinagem. O que foi que nós fizemos para merecer isso de você, seu moleque degenerado? – quando o vi se levantando e vindo na minha direção, achei que fosse me surrar até ter despejado toda sua raiva sobre mim.

– Isso não é verdade, pai, eu juro! O Kadu está se vingando do pai dele e de mim, inventando estórias. – afirmei, com tanta convicção quanto minhas forças permitiam. – Ele está culpando o pai pela separação deles, e quer me atingir porque o defendi quando o Kadu lhe faltou com o respeito, foi só isso! Ele chegou a me dar um soco no rosto quando estávamos na praia e o pai dele o expulsou de casa por conta disso. Essa é a verdade. – continuei

– Já que você está explicando tudo, explica para eles o que você e meu pai estavam fazendo no sábado passado se esfregando seminus na cozinha lá de casa, depois de farrearem a noite toda, explica, Theo! – provocou o Kadu

– Seu cretino, miserável! – berrei, avançando contra ele com os punhos cerrados enquanto procurava acertar aquela cara deslavada e traiçoeira. – Seu merda, eu nunca fiquei me oferecendo para você, foi você quem não parava de passar a mão na minha bunda, de me encoxar feito um cão no cio, eu nunca te seduzi, mentiroso! Sua crueldade não tem limites, Kadu! – asseverei.

– Não me interessa quem você estava defendendo, você não tem que se meter nos assuntos familiares dos outros, muito menos numa separação de um casal, sejam eles quem forem! O que está em discussão é o fato de você ir para cama com um homem com mais do dobro da sua idade, um homem para o qual você jamais deveria ter olhado com intenções escusas. Isso beira à criminalidade! – sentenciou meu pai.

– Essa é outra questão, também em relação a ela tenho certeza de que o que o Kadu falou muito pouco seja verdade. Eu já disse, ele está só se vingando, criando fantasias! – argumentei.

– Então entre você e o Murilo não existe nada? Vocês não se deitaram para fornicar, não tiveram relações sexuais, são só inverdades do Kadu vingativo? – indagou meu pai.

– Já faz uns dois anos que eu descobri que amo o Murilo, pai! E, eu e ele …, foi sem nenhuma maldade, aconteceu porque a gente se gosta. – confessei, uma vez que a verdade veio à tona, não havia mais porque se esquivar.

– E você confessa isso com essa cara de pau, seu viado depravado! – revidou ele, enfiando uma bordoada na minha cara que chegou a me deixar zonzo. – Todo nosso esforço e dedicação foi para isso, para criar um gay descarado, um filho sem nenhuma consideração pelos pais.

Eu não sabia mais como argumentar, naquele estado de irritação, fora de si, meu pai não ia ouvir o que eu tinha a dizer, não ia considerar meu ponto de vista, simplesmente se deixaria levar pela raiva que as palavras do Kadu incutiram nele. O que mais me doeu foi ver minha mãe ali encolhida, muda de tão estarrecida, tomando consciência que seu único filho era gay, e que o estavam pintando com os piores e mais abomináveis traços de caráter. Foi isso que me levou ao choro, eu queria me aproximar dela, abraça-la, dizer o quanto a amava e estava grato por todo o amor que ela me dedicava, mas não tive coragem de enfrentar a reação dela, também intoxicada pela crueldade do Kadu.

– Você não me deixou opções! Quero que hoje mesmo você deixe essa casa, vá fazer suas perversidades longe das nossas vistas, longe desse lar que sempre foi digno. – a frieza com a qual meu pai me expulsou, foi bem mais severa do que a que o Murilo usou para mandar o Kadu embora. O que veio me comprovar mais uma vez, que o Murilo sempre foi um pai muito mais presente e envolvido com os filhos, ao contrário do meu. E isso, naquele dia, doeu fundo na minha alma.

– Para onde eu vou pai? Por favor, reconsidere. Quando estiver mais calmo podemos ter uma conversa mais conclusiva, não me mande embora, pai. – supliquei, pois não fazia a menor ideia de para onde ir, não tínhamos parentes na cidade onde pudesse procurar abrigo por uns tempos.

– Isso não é problema meu! Para arranjar machos que te enrabassem, você não precisou de ajuda, vai se virar também com essa questão que é muito mais simples. – devolveu ele.

– Está feliz agora, Kadu? Você conseguiu! Sua família se desmantelou e você resolveu desmantelar também a minha, parabéns! Por que deixar os outros experimentarem a felicidade quando eu não a tenho, não é? Vamos jogar a merda no ventilador e ver para quem sobra, esse é seu lema, não é? – ponderei, ante o olhar confuso dele.

Posso estar enganado, mas quando ele me viu chorando, sem argumentos para rebater as imposições do meu pai, ele se conscientizou do enorme erro que havia cometido, mas já era tarde, não havia como remediar, a menos que admitisse abertamente sua vilania descabida. Por isso ele não me respondeu, apenas afundou a cabeça nos ombros e saiu apressado sem nem se despedir dos meus pais.

Dias depois, ele constatou que o tiro tinha saído pela culatra. A intensão de me separar definitivamente do pai dele, resultou exatamente no contrário. O Murilo só soube o que o filho tinha feito, dois dias depois, quando atendi sua ligação ainda sob o impacto da expulsão de casa e tinha procurado abrigo na casa de um colega da faculdade.

– Como é que é? Aquele moleque teve a ousadia de te intrigar com sua família? Isso já passou de todos os limites, ele vai se haver comigo, dessa vez não vou ser piedoso. Ele me paga! – descarregou revoltado. – E como você está? Por que não me ligou e me procurou? Eu te disse que vou estar ao seu lado para o que der e vier, que serei seu suporte para tudo que precisar. Estamos juntos nessa, Theo! Venha imediatamente para cá! Onde você está, eu vou te buscar, seu lugar é aqui, ao meu lado, nos meus braços! – emendou consternado.

Me mudei para a casa do Murilo, não mais como um simples apaixonado, mas com o status de seu parceiro. Embora meu pai tivesse se recusado a recebê-lo e a ouvir que ele me amava e que me queria ao lado dele, o Murilo não se deixou intimidar e, no mesmo dia em que veio me buscar na casa do colega da faculdade, foi ter uma conversa definitiva e esclarecedora com meus pais. Em vez de separados, como planejara o Kadu com sua intriga, o Murilo e eu agora vivíamos como um casal, alheio às opiniões dos outros, seguindo nossas vidas e nos amando como merecíamos.

Alguns meses depois, o Kadu bateu à porta de casa. Ele havia ficado à espreita esperando o Murilo sair para vir ter comigo. A princípio pensei que tinha vindo mais uma vez para me provocar, ou até coisa pior. Mas, ele estava diferente, havia perdido aquela expressão belicosa, parecia abatido e tristonho.

– Posso entrar? – começou ele, encolhido em si mesmo.

– Claro! Essa é a casa do seu pai, é a sua casa! – respondi, deixando-o entrar. – Eu só não queria brigar, Kadu. Se você veio com essa intenção, eu te peço encarecidamente que me deixe em paz. Posso sair enquanto você espera para falar com seu pai, ele deu uma saída, mas volta logo.

– Não, Theo, eu não vim arrumar confusão com você, e também não vim para falar com meu pai e sim, com você. – respondeu

– Acho que a gente já falou tudo o que tinha para falar, não é? Vamos encerrar esse assunto, vai ser melhor para todos nós. – sugeri

– Me perdoe, Theo!

– Como é?

– Me perdoe! Me perdoe pelo que fiz com você! Fui um tremendo de um babaca, e você tinha razão, fui de uma crueldade sem tamanho. Você não merecia, sempre foi leal e companheiro comigo, e eu duvidei da sua amizade. – fiquei pasmo, não estava acreditando no que ele dizia.

– Aonde você quer chegar com isso? Sei que tem sua opinião quanto ao que aconteceu entre seu pai e eu, não vou mais questioná-la ou tentar te convencer para que a mude, então deixemos tudo como está, ok?

– Minha opinião mudou, eu mudei! Se o que está rolando entre você e meu pai estiver fazendo vocês felizes, tudo bem! É justamente por isso que estou te pedindo desculpas, por ter sido intransigente e nunca ter dado ouvidos a nenhum de vocês dois.

– Ok, valeu! Se era isso, tudo bem. – admito que ainda estava bastante ressentido com as atitudes dele, com o soco que me desferiu, com tudo o que disse e como disse aos meus pais revelando minha homossexualidade e minha paixão pelo Murilo como sendo as coisas mais abjetas e indecentes desse mundo.

– Eu descobri que meu pai não teve culpa alguma na separação! Descobri que minha mãe já estava tendo um caso com o cara que está morando com ela, antes de eles se separarem, e que esse foi o motivo do divórcio. Meu pai estava tentando poupar a mim e aos meus irmãos, e ficou parecendo que ele era o responsável pelo fim do casamento deles. Daí eu ter começado a enfiar os pés pelas mãos, e ter feito tudo o que fiz. Além de burro por não ter sacado nada, ainda fiz papel de otário, quando você só o defendia, e com razão. – revelou

– E como foi que você descobriu?

– Fui juntando as informações e o quebra-cabeças foi se completando. Depois que meu pai me expulsou de casa, eu também me juntei à minha mãe e irmãos na casa dos meus avós. Uma conversa aqui outra acolá, e a verdade foi surgindo. Depois do divórcio, fomos morar na casa do sujeito, exceto minha irmã que preferiu ficar com meus avós, por que foi a primeira a não suportar o cara. Em questão de poucos meses eu tive altos quebra-paus com o sujeito, um cretino petulante que por nos bancar a todos, se achava no direito de fazer e falar o que bem entendesse. Ele também acabou por me expulsar de casa, por eu nunca ter baixado a cabeça para ele. Foi uma merda, Theo! – explicou

– Seu pai me falou desse sujeito, pouco antes do divórcio sair, lá na casa de praia. – afirmei

– E foi por isso que você o defendeu daquele jeito quando eu falei aqueles absurdos para ele, não foi? – de repente ele estava esclarecendo tudo

– Foi! Seu pai é o cara mais incrível que eu já conheci, não merecia o que você estava fazendo.

– Você conseguiu enxergar isso, enquanto eu, filho dele, não. Não é à toa que ele tenha se apaixonado por você, a única pessoa que compreendeu o que ele estava passando, a única pessoa que se mostrou presente e lhe deu o carinho de que precisava. Eu só fiz merda!

– Fazia tempo que eu estava apaixonado pelo seu pai. Você não faz ideia do quanto eu me questionei, hesitei em admitir a mim mesmo, quanto mais deixar alguém suspeitar dos meus sentimentos por ele. Mas, naquele dia, depois que você me deu aquele soco, e ele me tomou em seus braços, descobri que eu não estava sozinho naquele sentimento, que ele também me amava, e foi quando tudo aconteceu. – revelei.

– Quero que saiba que fico feliz por vocês dois, sinceramente! Que, apesar de tudo o que eu fiz, vocês tenham conseguido ficar juntos. – confessou sincero. – Saindo daqui, vou procurar seus pais, vou contar tudo para eles e confessar que só falei aquelas mentiras e bobagens todas porque estava com raiva de você e do meu pai.

– Não é necessário, Kadu! Melhor deixar tudo como está. Apesar de estarem aqui ao lado, meu pai nunca mais me olhou na cara, e minha mãe fica toda cheia de dedos até para me cumprimentar e trocar meia dúzia de frases quando nos encontramos casualmente. – expus. – Ademais, você não mentiu em algumas coisas. Eu sou gay mesmo, eu estava transando com o seu pai, isso não foi mentira. – completei

– Mas eu fui sórdido na maneira como revelei esses fatos. Não cabia a mim fazê-los descobrir essas coisas daquela maneira. – admitiu ele.

– Já foi! Um dia eles iam ter que saber. O que eu gostaria de verdade, e não sei se você está disposto a isso, é que tenha uma conversa franca com o seu pai, que se desculpe com ele, por que ele te ama muito e aos seus irmãos, e sente a falta de vocês. Será que você consegue? – pedi

– Acho que ele não quer me ver nem pintado a ouro na frente dele, depois disso tudo. Minha irmã e meu irmão nunca fizeram ou falaram as coisas das quais eu o acusei. Eles se deixaram levar pelos discursos dos meus avós, que nunca gostaram do meu pai, mas faz tempo que não acreditam em mais nada do que eles dizem e, na verdade, gostariam de estar morando novamente com nosso pai. – explicou

– Seu pai vai adorar saber disso! A casa continua do mesmo jeito, os quartos de vocês estão como sempre estiveram, se quiserem voltar, mesmo comigo aqui, seria muito legal. – afirmei

– É sério isso? Você encararia uma situação dessas?

– Não faço ideia do que seus irmãos acham a meu respeito, se aceitam minha relação com o pai de vocês, mas por mim não tenho nenhuma restrição. Eu amo o seu pai, Kadu! Amo tanto que só o quero ver feliz e realizado, e tudo que eu puder fazer para isso eu farei de coração. – asseverei.

– Até me aturar e tentar ser meu amigo de novo? – questionou

– Até ter a nossa velha e sincera amizade de volta! – exclamei, indo ao encontro dele e o abraçando.

– Cara, você não existe! – balbuciou, com os olhos marejados.

O Murilo estava nas nuvens com os filhos todos novamente dentro de casa, era o protótipo do paizão realizado. Logo após a volta deles para casa, ele e eu ficamos um pouco acanhados em demonstrar o amor que sentíamos um pelo outro na frente deles. Éramos discretos e contidos nas trocas de carícias, não nos beijávamos diante deles, transávamos em nosso quarto só com a certeza da porta estar trancada, dos nossos ruídos não serem ouvidos através das paredes e garantir que nenhuma pista de termos transado pudesse ser identificada. Foi o Daniel, o irmão caçula do Kadu, quem quebrou aquele gelo, aquele comportamento quase monástico que eu e o Murilo tínhamos passado a adotar.

– Theo, pai, ninguém aqui é mais menor de idade, muito menos ingênuo a ponto de não enxergar que vocês dois estão se reprimindo por nossa causa, o que nos deixa até desconfortáveis, como se fossemos intrusos na vida de vocês. – começou ele, num dia de domingo à mesa do almoço. – Ninguém vai censurar vocês por se beijarem na nossa frente, ninguém aqui ignora que vocês se curtem e transam, ninguém aqui quer que vocês fiquem se escondendo pelos cantos para trocar carícias, portanto, acho que está na hora de vocês pararem de se esconder. Está tudo legal, a gente já entendeu que vocês se amam. – continuou, me deixando ligeiramente constrangido, pois eles tinham poucos anos de diferença comigo, exceto o Kadu.

– O Theo e eu não quisemos que vocês se sentissem chocados com as nossas atitudes, procuramos ser discretos. – afirmou o Murilo.

– Pai, se liga! Todo casal que se ama, troca carícias, se beija e trepa. O fato do Theo ser gay não significa que vocês não sejam um casal como qualquer outro. 2022 pai! Estamos no século XXI, não na Idade Média. – observou o Daniel. – E, uma vez que estamos todos aqui, falando a verdade, eu quero que vocês, pai, Kadu e Mirela, saibam que eu também sou gay. Só o Theo está sabendo até agora, porque foi com ele que eu fui me abrir, quem me deu aquele empurrão para eu me aceitar, quem se ofereceu para ouvir todos os meus questionamentos e incertezas. Foi a melhor troca de figurinhas de biba para biba! – exclamou, fazendo todos caírem na risada.

– Ah, filhão, você não sabe como estou feliz de você ser quem é e se dar tão bem com o Theo. Aliás, vocês todos, pelo que vejo, não foi só o meu coração que ele conquistou, o de cada um de vocês também. Podemos ser uma família excêntrica, mas acima de tudo, somos uma família que se ama, é isso que importa! – asseverou o Murilo emocionado.

Depois de um ano, finalmente, meu pai voltou a falar comigo. É bem verdade que do jeito dele, sempre um tanto distante e frio, como tinha sido desde a minha infância. Eu celebrei esse novo recomeço, sabia que ele sempre seria assim, um homem que nunca fez questão de ter filhos e que sempre teve pouca disposição para se dedicar a mim. Era da natureza dele, o que nunca significou que não fosse uma boa pessoa, um homem íntegro e responsável. Minha mãe não escondeu o quanto estava feliz por voltar às boas e, do jeito dela, procurava tratar o Murilo como uma boa sogra, o que por vezes se tornava até hilário. Meu pai tinha mais dificuldade de ver o Murilo, um homem dois ou três anos mais novo do que ele, como marido e amante de seu único filho, que ainda por cima era gay. Mas, igualmente à sua maneira, ele trabalhou a questão para que tivéssemos um convívio civilizado.

Com tudo se engrenando, como uma máquina que voltava a funcionar como devia, eu me sentia realizado, tinha o meu homem ao meu lado, tinha o amor dele, o cuidado e a segurança que ele me inspirava, tinha o mais ardente e viril macho na cama que um gay pudesse desejar.

– Você é feliz com o meu pai, não é, Theo? – perguntou-me o Kadu certa noite após o jantar quando ele e eu terminávamos de fazer a arrumação da cozinha.

– Muito, Kadu! Sou muito feliz com o Murilo, ele é o homem da minha vida! – confirmei.

– E dá para perceber que você é o dele! É bom vê-lo feliz novamente, mesmo eu tendo feito tanta coisa para impedir a felicidade dele, de vocês, quero dizer.

– Acredito que quase nada poderia destruir essa felicidade, nosso amor não permitiria que isso acontecesse. Nosso amor nos permitiu construir um lar outra vez, com você, a Mirela e o Daniel e, principalmente o seu pai. O amor não é só um sentimento, é um lugar, um refúgio, capaz de te proteger de qualquer coisa. – asseverei

– Obrigado por tudo, Theo! Obrigado pelo amor que sente por cada um de nós, obrigado por ser meu melhor amigo! – devolveu ele. Sem que o soubéssemos, o Murilo casualmente ouviu nossa conversa.

– Não pude deixar de ouvir você e o Kadu conversando lá na cozinha, e fico feliz que a amizade de vocês tenha sobrevivido a tudo isso. – afirmou o Murilo quando estávamos na cama. – Eu já te falei o quanto te amo? – indagou, reclinado na cabeceira, pernas abertas e aquele volumão preenchendo a cueca, com o controle da televisão na mão se preparando para procurar um filme no streaming.

– Já escolhi o filme dessa noite! – exclamei, terminando de me despir e caminhando sensualmente na direção dele.

– Não pensei que tivesse algum em mente. Qual é? – perguntou, pouco antes de focar em mim tirando a cueca e a lançando para ele.

– O que você acha do – Deixando seu marido saciado – ou, do – Urso machão devora garoto rapaz indefeso – nomeei, sensualizando a voz e me inclinando sobre seu corpão.

– Prefiro o primeiro! – respondeu ele, entrando no jogo de sedução. – E como você pretende deixar seu marido saciado?

– Assim! – respondi, beijando-o com toda a ternura, enquanto as mãos dele subiam pelas minhas coxas até agarrarem minhas nádegas. Ao mesmo tempo, meus beijos desciam pelo peito e abdômen até alcançarem o caralhão endurecendo e formando uma rodela úmida na cueca, que eu lambi antes de baixá-la para ter acesso a cabeçorra que envolvi entre os meus lábios sugando aquele néctar e fazendo-o soltar um gemido rouco. Minutos depois, ele estava inteiro dentro do meu cuzinho, despejando, completamente saciado e feliz, seu sêmen nas minhas entranhas, me proporcionando a vida com que sempre sonhei.

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